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terça-feira, 18 de junho de 2019

Quando os homens dão um passo para trás e apoiam a ambição das mulheres


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Alexandria Ocasio-Cortez com cara de surpresa ao vencer as primárias do Partido Democrata em 2018, em cena do filme “Virando o Jogo do Poder". 

Documentário expõe a importância de ter um parceiro que apoia suas ambições – com mais que meras palavras.
11/05/2019 08
By Emma Gray, HuffPost US
Não fosse por seu cabelo ruivo, você mal notaria a presença dele. Riley Roberts, parceiro de longa data da deputada americana Alexandria Ocasio-Cortez, aparece pela primeira vez em segundo plano no novo documentário da Netflix Virando o jogo do poder. Ele está perto e, muitas vezes, um passo atrás de Ocasio-Cortez, gravando com o iPhone, deixando que ela fique sozinha nos holofotes. É ela, afinal de contas, a candidata.
 
O filme, que acompanha quatro mulheres (Ocasio-Cortez, Paula Jean Swearingen, Cori Bush e Amy Vilela) que disputaram as eleições parlamentares americanas do ano passado, oferece vários insights íntimos do que é fazer uma campanha política movida a visão e a uma ira virtuosa, sem dinheiro de grandes corporações e sem apoio do establishment do Partido Democrata. Mas uma das conclusões mais sutis do documentário é a importância de ter um parceiro que apoia suas ambições – com mais que meras palavras.

After watching the AOC doc I keep thinking about how crucial it is for women to have partners that celebrate rather than coop their successes and how little we encourage or prepare men to fulfill that role.

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(Depois de assistir ao documentário de AOC, fico pensando como é essencial que mulheres tenham parceiros que celebrem, não cooptem, seu sucesso e como não os incentivamos nem preparamos para esse papel.)
Roberts não é um dos personagens principais do filme, mas o público tem uma boa ideia do relacionamento de Alexandria Ocasio-Cortez com o desenvolvedor de web. Eles moram juntos e vemos Roberts preparando chá para a parceira e lavando a louça. Ele ajuda a recolher assinaturas para confirmar a candidatura de Ocasio-Cortez. Vai para a rua. Tira fotos. Parece muito orgulhoso.
“Ele é a pessoa mais amorosa, a pessoa que mais a apoia”, disse a mãe de Ocasio-Cortez ao Daily Mail, em março. “Ele a ajudou tremendamente durante a eleição.”
Outras políticas de destaque também reconhecem a importância do apoio recebido dos parceiros em suas carreiras. A senadora Elizabeth Warren falou de seu marido, Bruce Mann, que aceitou se mudar para o Texas quando eles eram recém-casados, deixando para trás uma carreira promissora como professor em Connecticut. Mais tarde, ele topou viver em Cambridge (onde Warren era professora em Harvard), apesar de trabalhar na Filadélfia. Ela diz que Mann é seu “maior apoiador”.
E a juíza da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg escreveu extensivamente sobre o impacto de seu casamento com Martin Ginsburg (ele próprio um advogado tributarista de sucesso) em sua trajetória profissional. Ele não só aceitou se mudar para Washington, como fez campanha para que a mulher entrasse na lista de Bill Clinton dos possíveis indicados para o principal tribunal do país. “Não é nenhum segredo dizer que, sem ele, eu não teria conseguido um lugar na Suprema Corte”, escreveu Ginsburg em um artigo de opinião no New York Times.
Relacionamentos nos quais o parceiro homem sacrifica seu tempo livre, assume a maior parte das responsabilidades pelas crianças ou prioriza o sucesso profissional da parceira (às vezes em detrimento do seu próprio) não são exceção, mas tampouco são a regra.
A realidade é que, para que a vida profissional de um dos parceiros realmente floresça, o outro tem de dar um passo para trás, nem que seja por um tempo. E isso, na maioria dos casos, cabe à mulher. Como escreveu Claire Cain Miller num artigo recente no New York Times, parafraseando a economista de Harvard Claudia Goldin: “As mulheres não dão um tempo no trabalho porque têm maridos ricos. ... Elas têm maridos ricos porque dão um tempo no trabalho.”
A força de trabalho ainda reflete um tipo de arranjo em que um parceiro trabalha fora, e outro cuida das tarefas domésticas e dos filhos. Apesar de as normas de gênero terem mudado de forma significativa nas últimas cinco décadas, esse sistema enraizado ainda tende a operar contra as mulheres.
Quanto mais vemos pessoas em posição de liderança desafiando as velhas regras e derrubando estereótipos, mais provável que isso vire a norma. Mas temos de continuar lutando por mudanças nos níveis dos empregadores e dos governos locais e federais.
Deborah J. Vagins, da American Association of University Women.
“Sabemos que os estereótipos de gênero duradouros, combinados com uma cultura de trabalho pensada para quem não é o principal responsável por cuidar dos filhos, significam que as mulheres ainda continuam sendo as grandes responsáveis por criar as crianças”, diz Deborah J. Vagins, vice-presidente de políticas públicas e pesquisas da American Association of University Women. “Isso está mudando – mas mais devagar que esperamos.”
Pesquisas indicam que homens e mulheres tendem a ter percepções diferentes e às vezes imprecisas do volume de tarefas domésticas que executam. Essa disparidade aumenta quando há filhos.
Não é porque os homens – especialmente os mais jovens – não querem saber de uma divisão igualitária. Um estudo de 2015 apontou que millennials de ambos os sexos tendem a acreditar em responsabilidades equivalentes para homens ou mulheres, a despeito de papeis de gênero – e independentemente de nível educacional ou de renda. Ainda assim, como essa geração vive numa sociedade que exige disponibilidade 24/7 para o sucesso profissional e pouco oferece em termos de ajuda subsidiada em saúde, creches etc., muitos casais hétero acabam caindo na armadilha dos padrões “tradicionais”
Pode ser um choque para mulheres ambiciosas. Segundo um estudo da Harvard Business School, mulheres ambiciosas se casam acreditando que suas carreiras terão prioridade igual à do marido – o que não se confirma na realidade. “O apoio dado pelos parceiros tem impacto significativo nas carreiras das mulheres”, concluiu a pesquisa.

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Riley Roberts e Alexandria Ocasio-Cortez observam o Capitólio em cena de “Virando o Jogo do Poder”.

As desigualdades sistêmicas têm impacto real na composição de gênero das instituições, e isso inclui o governo americano. Em 2018 houve um número recorde de candidatas mulheres, mas elas ainda representam menos de um quarto do Congresso. 
“A composição passada e, em grande parte, atual da Câmara, do Senado, da Presidência, da Suprema Corte, dos governos e assembleias legislativas estaduais e dos governos locais são prova de que as instituições do poder mantêm as mulheres à distância”, diz Vagins.
Ela aponta o reconhecimento público de parcerias menos tradicionais como um passo à frente, mas ressalta que isso não quer dizer muita coisa se não houver mudanças reais nas leis – especialmente em relação às licenças maternidade e paternidade, flexibilidade no trabalho e barateamento dos serviços de assistência infantil.
“Quanto mais vemos pessoas em posição de liderança desafiando as velhas regras e derrubando estereótipos, mais provável que isso vire a norma. Mas temos de continuar lutando por mudanças nos níveis dos empregadores e dos governos locais e federais.” 
Não é coincidência que as mulheres pré-candidatas à Presidência, incluindo Warren, estejam tomando a dianteira nessas questões com vistas à eleição presidencial de 2020.
Em um mundo ideal, ambos os parceiros de um relacionamento heterossexual de longo prazo seriam livres para correr atrás de seus sonhos. Mas, por enquanto, ainda se faz necessária uma negociação constante – na qual as mulheres cheias de objetivos e ideias acabam levando a pior.

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