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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Há um novo pai em desenvolvimento

  • A psicanalista Lidia Aratangy escreve sobre a mudança de comportamento dos homens com a casa e a família e como as mulheres lidam com isso

  • LIDIA ARATANGY
  • ESPECIAL PARA MARIE CLAIRE
  • 11 AGO 2019


É preciso reconhecer: há um novo pai em desenvolvimento. O compromisso dos homens com a casa e a família passa por uma mudança importante. Em parte puxados pelo compromisso das mulheres com a carreira profissional, eles estão sendo obrigados a se libertar dos estereótipos da família patriarcal tradicional para assumir tarefas e responsabilidade antes consideradas exclusivamente femininas. Mas o processo não se dá sem percalços.
Há muito, nós, mulheres, reclamamos da falta de cooperação dos parceiros nas atividades domésticas e clamamos por uma maior participação do pai na criação dos filhos. Mas talvez imaginássemos uma situação diferente da que os homens buscam conquistar. Algumas mulheres se vêem obrigadas a reconhecer que queriam apenas um ajudante qualificado, disposto a cumprir as tarefas que lhe fossem designadas conforme as orientações e exigências delas. Mas o parceiro não está disposto a obedecer. Quando se envolve com os serviços da casa e com os cuidados com os filhos, ele pretende uma participação integral e criativa, de acordo com seus critérios, seu ritmo e sua escala de prioridades. Mas muitas mulheres ainda estão convencidas de que só elas têm competência para cuidar dos filhos, principalmente quando ainda são pequenos.

Há de haver uma maneira masculina (e satisfatória) de dar banho no bebê, preparar uma mamadeira e até de acompanhar o desempenho escolar dos filhos. (Deve haver, inclusive, uma maneira masculina de expressar emoções – que talvez nem passe pelas lágrimas). Mas tudo dentro da casa, sobretudo na cozinha e no quarto do bebê, está feito para as dimensões femininas: se um homem se dispuser a lavar a louça ou dar banho no bebê todos os dias, fatalmente terá dor nas costas, pois a altura da pia da cozinha e da banheirinha do bebê não estão adequadas à sua estatura.
Há de haver uma maneira masculina (e satisfatória) de dar banho no bebê, preparar uma mamadeira e até de acompanhar o desempenho escolar dos filhos
Parece que estamos revendo, no ambiente doméstico, disputas que se deram entre homens e mulheres quando elas passaram a concorrer um lugar no mercado de trabalho e foram lançadas num mundo pautado por normas masculinas. Como há muito tempo os homens ocupavam esse espaço, elas tiveram de batalhar com armas com as quais não estavam habituadas, em campos que desconheciam, sujeitando-se a critérios de sucesso moldados por homens, para avaliar homens. Com o passar do tempo, sob a influência conjunta de homens e mulheres, o mundo do trabalho modificou-se: hoje, muitas empresas abrigam berçários e creches, com horários flexíveis para atender às necessidades  das mães. Em algumas instituições, as mulheres podem trabalhar parte do período em casa, ou negociar diferentes esquemas que permitam conciliar as exigências do trabalho com as demandas da casa e dos filhos. Estão avançando algumas medidas que contemplam também os pais.

Pois o universo da família necessita de uma evolução semelhante: os homens precisam conquistar seu lugar nesse território, e as mulheres precisam reconhecer e respeitar o jeito masculino de ocupar esse espaço.
Inadequados, machistas, ausentes... São queixas frequentes e muitas vezes verdadeiras. Mas é preciso reconhecer que há muitas gerações os homens são criados por mulheres.  Eu me surpreendo por eles não lançarem mão desse argumento para se defender de nossas justas acusações
Nenhuma mulher pode ensinar um homem a ser pai. Um homem aprende a ser pai com o pai que ele teve e com os filhos que têm.  As mulheres precisam abdicar da crença de que lhes cabe zelar pelo relacionamento entre o pai e seus filhos, precisam aprender a conter a ansiedade e desviar o olhar quando um homem lida com seu filho (de qualquer idade). Só assim serão criadas as condições para que pais e filhos se conheçam e estabeleçam uma comunicação verdadeira. Os filhos precisam aprender a lidar com o pai que eles têm, não com uma imagem de pai filtrada pela mãe.

Inadequados, machistas, ausentes... São queixas frequentes e muitas vezes verdadeiras. Mas é preciso reconhecer que há muitas gerações os homens são criados por mulheres.  Eu me surpreendo por eles não lançarem mão desse argumento para se defender de nossas justas acusações.

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