Vivian Costa – Jornal da Ciência
quarta-feira, 24 de julho de 2019
A declaração da historiadora Giovana Xavier foi feita durante conferência na 71ª Reunião Anual da SBPC, que está sendo realizada na UFMS até sábado
Historicamente, as mulheres negras e os seus saberes têm sido postos à margem da universidade. Mas, conforme afirma Giovana Xavier, historiadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é possível mudar esse legado negativo. Xavier apresentou a conferência “Intelectuais negras UFRJ: novas epistemologias acadêmicas”, realizada nesta terça-feira (23) na 71ª Reunião Anual da SBPC, que vai até sábado (27).
Xavier é docente, blogueira, mãe e idealizadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. Ela organiza o catálogo “Intelectuais Negras Visíveis”, que já reúne 181 profissionais mulheres e negras de diversas áreas em todo o Brasil.
Xavier é docente, blogueira, mãe e idealizadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. Ela organiza o catálogo “Intelectuais Negras Visíveis”, que já reúne 181 profissionais mulheres e negras de diversas áreas em todo o Brasil.
Durante sua conferência, disse que quando ingressou na faculdade de História, tinha como horizonte dar aulas na educação básica. Mas, ao se envolver com projetos de pesquisa, a atuação no universo acadêmico passou a ser o seu objetivo. “Nem sabia o que era uma pós-graduação”, lembra.
“Comecei a fazer estudos ligados à escravidão e ao período pós-abolição e conheci histórias de protagonismo de pessoas escravizadas, como mulheres com fortunas e patrimônios. Ficar diante delas me fez decidir que queria ser pesquisadora do protagonismo negro no Brasil”, afirma Xavier.
Cheguei à UFRJ com um puxadinho, mas hoje considero que tenho um império. “Quando olho para trás, vejo que faz sentido minha história, minha trajetória”, afirma ela.
Em um auditório lotado, Xavier explica as lutas dos negros, e principalmente das mulheres negras, para se posicionar, seja na academia, ou na vida: “é preciso foco”, ensina. Segundo ela, o negro não pode se prender ao comentário alheio. “Precisamos selecionar as brigas que são nossas. Que valem a pena. Somos a minoria em um monte de lugar, na academia, no Supremo Tribunal, mas isso não pode nos paralisar. Temos de seguir em frente”, afirma.
Xavier quer construir sua história a partir de suas conquistas e não de suas derrotas. “Não posso contar minha história pelos ‘nãos’ que ouvi do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Quero contar as coisas que fiz”, afirma. E completa, “cansei de fazer empréstimo para projetos que não conseguiram financiamento. Mas isso não me paralisou. Não podemos entrar nesse looping. Ao mesmo tempo, temos de reconhecer que transitamos dentro de uma fronteira para fazer o que é possível. Temos de colocar luz no que funciona!”, afirma.
Quanto à academia, Xavier afirma que existe uma misoginia estrutural, mas que é possível avançar, já que ela tem testemunhado isso. “O intelectual nem sempre é um homem branco de meia-idade. Houve mudanças indiscutíveis. Mas ainda temos um número pequeno de negras como bolsistas pelo CNPq. Dados de 2015, por exemplo, mostram que das 250 estudantes de pós-graduação bolsistas PQ, apenas oito eram negras”, comenta.
Xavier lembra que na história do Brasil, há muitos avanços que coexistem com permanências. Agora é possível mudar o centro da narrativa e substituir negras como objetos de estudos por mulheres negras contando suas histórias. “A Conceição Evaristo é uma das minhas inspirações. Ficamos ligados na questão da autoria, que é fundamental, mas precisamos ocupar esses espaços para pensar e colocar nossa narrativa. E a chave da mudança está na educação”, afirma.
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