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domingo, 6 de janeiro de 2013


Vergonha impede vítima de fazer denúncia de agressões

Retraimento de quem sofre violências doméstica ou sexual faz com que grande parte dos casos não chegue ao conhecimento da polícia. Segundo delegada, demora na denúnica só faz crescer no agressor a sensação de que não será punido pelo crime

DIÁRIO DA MANHÃ
CECÍLIA PREDA

A vergonha e o medo que vítimas de violência sentem em denunciar casos de abuso sexual e espancamentos dificultam que os autores que cometem esses tipos de crimes sejam identificados e condenados. Segundo a delegada titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da região noroeste de Goiânia, Cássia Costa Sertão, a Polícia Civil não tem conhecimento de grande parte dos casos de violência por causa do retraimento das vítimas.

“O fato de a mulher temer muito denunciar os casos de violência é, com certeza, o maior empecilho para que os casos da delegacia sejam elucidados”, afirma a delegada. Segundo ela, raramente as mulheres denunciam o agressor na primeira vez em que o crime acontece.

“Eu percebo que as mulheres que vem até a delegacia já sofreram anos e anos com as agressões. O processo, até que o medo seja vencido, é longo e isso faz com que a Delegacia da Mulher não tenha noção do tamanho do problema. Não sabemos o que está acontecendo dentro dos lares”, diz Cássia.

Sertão explica que a demora para denunciar só faz com que a mulher sofra mais e o agressor acredite que ele não será julgado pelo crime que está cometendo. “Quando a mulher não denuncia, o homem sente que ela está sozinha, que ninguém poderá o impedir de continuar as agressões”, ressalta.  

Cássia ainda afirma que muitas mulheres sentem vergonha de se verem expostas em uma delegacia. Ela explica que a mulher que sofre violência doméstica ou sexual não precisa sentir esse tipo de receio porque a Polícia Civil está preparada para lidar com a situação. Além disso, Sertão esclarece que a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher tem o papel de auxiliar as vítimas de agressão e jamais irá atuar de forma repressora.

A delegada alerta que as mulheres também não devem se sentir intimidadas por ameaças. “A mulher precisa entender que não denunciar só fará com que a situação piore. Infelizmente, muitas se sentem iludidas achando que o agressor irá mudar para melhor. Mas a gente sabe que, na maioria das vezes, quem pratica esse crime uma vez tende a continuar a agir da mesma forma”, destaca.

Cássia pontua que a Delegacia da Mulher está pronta para dar todo o suporte àquelas que são vítimas de violência. “Temos um estatuto que garante o direito das mulheres. Quando uma agressão é denunciada, o autor do crime é obrigado a ficar longe da mulher e a vítima pode pedir auxilio da Polícia Militar (PM) e da PC”, afirma a delegada.

Crianças e adolescentes

A delegada titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) também afirma que no caso de crimes de violência cometidos contra menores de idade, a vergonha e receio de denunciar também são empecilhos para que os agressores paguem pelos seus crimes. Segundo ela, a DPCA, assim como a DEAM, não tem ideia do número de agressões cometidas porque a maioria dos crimes deste tipo não é denunciado.

“Um grande número de casos de agressões a crianças e adolescentes não é denunciado. Sem conhecer os agressores, o trauma de pais e filhos é silenciado com o tempo. Infelizmente, muitos ainda têm vergonha de ir à delegacia contar sobre o crime. Como grande parte dos crimes acontece em família, o receio de denunciar é ainda maior”, disse Vieira.

Assim como Cássia, Renata destaca que não denunciar o crime só irá aumentar a certeza de impunidade. “Como a criança ou alguém que saiba do crime não conta logo depois que a primeira agressão acontece, quem comete o crime acha que o ato ficará impune”, destaca.

As delegadas ainda lembram que os crimes de estupro e espancamento devem ser denunciados o mais rápido possível. Dessa forma, por meio de exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML), que irão comprovar a veracidade do fato, a Polícia Civil terá maiores condições de trabalho para conseguir que o agressor pague pelo crime que cometeu.

A dona de casa R. C. S., de 38 anos, teve de enfrentar o medo e a vergonha ao denunciar o ex-marido que espancava ela e seus dois filhos, de 8 e 10 anos. Segundo R. C. S., todo o relacionamento com o companheiro foi marcado por agressões. “Ele chegava bêbado em casa e sempre me batia, vez ou outra também ia para cima dos meninos”, afirma.

Cansada das agressões e de ver o sofrimento que os pequenos enfrentavam, ela tomou coragem e resolveu denunciar. “Eu tinha muita vergonha da minha família, deles me condenarem por  ter ficado em silêncio todo esse tempo, mas, depois que o caçula me pediu para mandar o papai ir embora, eu vi que a melhor saída era denunciar”, relata.

A dona de casa ainda conta que recebeu ameaças do ex-marido quando ele ficou sabendo que ela havia realizado a denúncia. “Ele disse que ia me matar de pancada, mas não desisti, saí da Bahia e vim para Goiânia para evitar me encontrar com ele. Ainda quando estava em Correntina, ele tentou ir atrás de mim, mas liguei para a polícia. Não vou deixar ele estragar minha vida de novo”, finalizou R. C. S.

CEVAM

Além das delegacias especializadas, as vítimas de agressão podem buscar auxílio do Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam), que fica no Setor Leste Ferroviário, em Goiânia. Entre os principais projetos da entidade, está o Programa Renascer, que é destinado às mulheres vítimas de violência que registrarem Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO), na Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher de Goiânia. No Cevam, as mulheres que não sabem dos seus direitos podem ter apoio, a fim de que possam superar as situações de crise e carência em que se encontram, através de palestras e distribuição de cartilhas, folders e jornais, que funcionam como uma forma educativa e preventiva contra a violência doméstica.

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