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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Alunos com tendência antissocial buscam segurança na escola

24 de setembro de 2015

Pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP acompanhou durante um ano alunos do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola do interior paulista. O objetivo foi conhecer a dinâmica do comportamento antissocial numa instituição de ensino e a relação estabelecida entre esses alunos e membros do colégio, especialmente professores.

Em seu estudo de doutorado, a pedagoga Daniela Oyama utilizou como referência os conceitos do psicanalista Donald Woods Winnicott para traçar o perfil do comportamento antissocial dessas crianças, com o objetivo de possibilitar que a escola pudesse oferecer um ambiente mais favorecedor ao seu desenvolvimento. A pesquisa Comportamento antissocial na escola: Um estudo a partir da teoria de D. W. Winnicott foi orientada pela professora Maria Lucia Toledo Moraes Amiralian.

“Fiz o mestrado na Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp) e, durante a pesquisa na escola, me chamou a atenção a questão da violência dentro do ambiente escolar”, revela Daniela. Segundo a pesquisadora, os professores relatavam a violência presente no dia a dia da escola – agressões de alunos contra alunos, professores e funcionários – e fora dela, em seu convívio familiar. “Muitos dos professores, inclusive, também demonstravam medo de alguns pais de alunos”, relata.

Tendência antissocial
Segundo Daniela, o comportamento antissocial é a manifestação clínica da tendência antissocial. Ela explica que, de acordo com Winnicott, a tendência antissocial pode ser uma dificuldade inerente ao desenvolvimento emocional. As manifestações clínicas da tendência antissocial variam desde a gula até perversões, delinquência e, no extremo, a psicopatia. Muitas de suas manifestações nos estágios iniciais são tratadas com êxito pelos próprios pais.

Há sempre duas direções na tendência antissocial, mas uma delas pode ser predominante à outra: uma é tipicamente representada pelo furto associado à mentira e a outra, pela destrutividade. “Para Winnicott, na origem da tendência antissocial há uma ‘deprivação’ sofrida pela criança, a qual se refere à perda de um ambiente bom após uma boa experiência inicial, a perda de uma pessoa amada ou de um ambiente seguro.”

A pesquisadora relata que a criança deixa de se sentir livre e sua vida instintual torna-se inibida ou dissociada dos cuidados oferecidos a ela. Contudo, caso haja alguma chance de se encontrar novamente o ambiente seguro perdido, a criança passará a testar a confiabilidade do ambiente por meio de seu comportamento antissocial. “Portanto, seu comportamento é um sinal de esperança, um pedido de ajuda da criança”, completa.

Crianças deprivadas são inquietas e incapazes de brincar. A tendência antissocial pode ser uma dificuldade inerente ao desenvolvimento emocional e por isso suas manifestações podem estar presentes na escola. Daniela aponta que a escola pode minimizar tais comportamentos, mas precisa compreender sua origem e o pedido de ajuda da criança. Ela explica que, se o ambiente for estável, forte e seguro o suficiente, a criança poderá experimentar novamente seus impulsos, especialmente os agressivos.

Observação
Na pesquisa, a metodologia utilizada foi a clínico-qualitativa. Para realizar a pesquisa, durante um ano letivo, Daniela observou intervalos e aulas, verificou registros no Livro de Ocorrências de Alunos da escola e participou passivamente de reuniões de Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). Além disso, a pesquisadora realizou entrevistas individuais e conversas informais com direção, professores, funcionários e pais ou responsáveis de alunos, fazendo encontros semanais com três alunos indicados pela escola os quais aparentavam ter comportamento antissocial.

O estudo permitiu à pesquisadora descrever a forma como um típico aluno com tendência antissocial cobrava que o ambiente suportasse seus impulsos agressivos e como estabelecia a relação com os adultos na escola, assim como a mudança em seu comportamento durante o ano, apesar de algumas pessoas não a notarem. Daniela conseguiu observar a melhora de outros alunos acompanhados na pesquisa e constatar como um bom ambiente proporcionado por seus professores pode gerar mudanças no comportamento dos alunos e, possibilitando que eles retomassem seu processo de desenvolvimento emocional.

“Instituições como a escola têm a chance de ajudar um aluno com tendência antissocial por meio do manejo do ambiente. A escola, como instituição, poderia proporcionar aos professores um espaço de aprofundamento e discussão sobre a teoria e sobre as dificuldades que eles enfrentam no relacionamento com seus alunos.”, completa. Daniela ressalva a importância de conversar e ouvir esses profissionais, acolher suas angústias e ajudá-los em suas dificuldades.

Marília Fuller / Agência USP de Notícias

Mais informações: email dani_oyama@yahoo.com.br

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