Falta de laços afetivos torna solidão masculina ainda mais profunda
Por Mariza Tavares
G1 Rio de Janeiro
09/06/2019
Ainda vigora a máxima de que homem não chora e tem que aguentar calado os reveses que a vida nos apronta. Pior: enquanto as mulheres cultivam o prazer de encontrar amigas de longa data, para muitos deles as amizades se restringem ao ambiente profissional. Quando o “sobrenome corporativo” deixa de existir, os laços se rompem e aquelas relações se esgarçam. O resultado? O envelhecimento sem amigos, que acaba sobrecarregando emocionalmente as companheiras.
As novas gerações vêm questionando estereótipos que sugerem que as meninas se comportem como princesinhas à espera de um príncipe encantado. No entanto, a expectativa de que os meninos se tornem adultos que suportam tudo estoicamente – de ambientes de trabalho tóxicos a desilusões amorosas – faz com que a maioria só conte com o suporte da namorada ou mulher.
As novas gerações vêm questionando estereótipos que sugerem que as meninas se comportem como princesinhas à espera de um príncipe encantado. No entanto, a expectativa de que os meninos se tornem adultos que suportam tudo estoicamente – de ambientes de trabalho tóxicos a desilusões amorosas – faz com que a maioria só conte com o suporte da namorada ou mulher.
Niobe Way é professora de psicologia aplicada na Universidade de Nova York e autora de “Deep secrets: boys´friendships and the crisis of connection” (em tradução livre, “Segredos profundos: amizades de meninos e a crise de conexão”). Há 30 anos, começou a entrevistar garotos pedindo que dissessem o que a amizade representava para eles e sua pesquisa mostrou que, quando ainda estavam na pré-adolescência, eram capazes de verbalizar como eram ligados a seus melhores amigos. Entretanto, à medida que chegavam à adolescência, esse senso de conexão desaparecia.
Para a professora, trata-se de “uma perda catastrófica”. Em suas palestras, Niobe afirma que “milhões de homens experimentam esse sentimento de profunda perda que os acompanha mesmo que estejam em relacionamentos românticos, ou se casem e criem uma família. Por causa da pressão da homofobia e do que podemos chamar de masculinidade tóxica, esses meninos amadurecem dentro de um isolamento emocional. Aos 16, 17 anos, a intimidade está proibida, é vista como fraqueza, homossexualidade, e a taxa de suicídios entre rapazes atinge cinco vezes a de moças. Por fim, o que vemos é uma epidemia de solidão masculina nos Estados Unidos”.
O percentual de adultos norte-americanos que disseram não ter amigos saiu de 36% em 1985 para 53.4% em 2004. Em 2015, um em cada três adultos acima de 45 anos se dizia solitário, versus um em cada cinco dez anos antes. A única intimidade afetiva que os homens mais velhos acabam tendo é com suas mulheres – no caso de terem casamentos estáveis. Para elas, isso pode representar uma sobrecarga emocional significativa, que vai se somar a outras demandas, como ajudar os filhos na criação dos netos; cuidar de pai e mãe muito idosos e às vezes dependentes. Mesmo aposentadas, há quem ainda mantenha atividades profissionais, e o resultado é um peso enorme nos ombros femininos.
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