Faculdade de Ciências Médicas da UnicampEnviado por Camila Delmondes em qua, 31/07/2019
Mulher branca (47,4%), solteira (63,2%), mãe de um ou mais filhos (84,2%), com ensino fundamental (52,6%) e média de idade de 31 anos. Esse é o perfil majoritário das mulheres vítimas de feminicídio, em Campinas, extraído de uma pesquisa publicada recentemente por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, na Revista Cadernos de Saúde Pública.
A partir da análise de 582 declarações de óbitos registradas no município, em 2015, o estudo constatou a incidência de 3,18 casos de feminicídio a cada 100 mil mulheres, ficando a cidade próxima da média nacional (4,8:100 000), e acima da média estadual (2,4:100 000).
Do total de mortes declaradas, 185 corresponderam a homicídios de homens (85,9%) e 26 de mulheres (14,1%). Das 26 mulheres assassinadas, 19 foram vítimas de feminicídio, ou seja, foram mortas pelo simples fato de serem mulheres. Dentre elas, uma parcela significativa (63,2%) foi vítima do próprio companheiro. Duas estavam grávidas no momento da morte.
A maior parte dos crimes foi cometida no domicílio da vítima (52,6%) e na via pública (42,1%). O principal mecanismo de morte foi a arma branca, como machados e facas (31,5%), seguida da arma de fogo (26,3%), estrangulamento (21%) e objeto contundente, que engloba agressões físicas com auxílio de objetos de ferro ou madeira (15,8%).
De acordo com Mônica Roa, principal autora da publicação, as mortes por feminicídio, em geral, são altamente violentas do ponto de vista da agressão física e sexual, tendo as vítimas poucas chances de conseguir assistência médica em tempo hábil para sobreviverem. "A intenção de se separar, por parte da mulher, e os desentendimentos com o companheiro figuraram entre as motivações mais frequentes", conta a pesquisadora.
Atualizando dados sobre o feminicidio em Campinas, em 2019, Mônica diz que de janeiro até a semana passada ocorreram oito mortes. "Entrevistamos familiares de todas as vítimas", destaca.
De acordo com o epidemiologista da FCM, Ricardo Cordeiro, especialista em mortes violentas, as consequências do feminicídio, apesar de grandes, ainda não foram completamente dimensionadas.
“É preciso superar as limitações habituais dos estudos baseados em registros estatísticos. Conversar com pessoas próximas das vítima, realizando verdadeiras autópsias verbais, permitirá maior compreensão desse tipo de violência, da subjetividade das vítimas e motivações do agressor e, mais do que isso, em uma identificação mais acurada dos fatores de risco”, analisa.
Leia o artigo, na íntegra.
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