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11.07.2019
"Existe vida após todos nós termos sobrevivido." A frase define o filme City of Joy - Onde Vive a Esperança.
A obra mostra a realidade de mulheres violentadas durante os conflitos no Congo, que buscam reabilitação no chamado City of Joy (Cidade da Alegria), um centro criado para ajudá-las a recuperar o poder e a identidade.
O filme está disponível na Netflix. Clique aqui para assistir à obra.
City of Joy foi criado em uma parceria entre a escritora e ativista norte-americana Eve Ensler e o Nobel da Paz Denis Mukwege, que estará no Fronteiras do Pensamento 2019 logo mais, em agosto.
Eve Ensler é autora da premiada peça Monólogos da Vagina, que trata do corpo e da sexualidade femininos. Em 2007, Mukwege convidou Ensler para visitar o Hospital Panzi. A instituição foi fundada pelo Nobel da Paz em 1999, no Congo, para atender mulheres estupradas nos conflitos que assolam o leste do país há mais de 20 anos.
Ensler ouviu os relatos das mulheres sobreviventes sobre as atrocidades a que foram submetidas e se envolveu com a questão da violência sexual no Congo.
A ela, as congolesas disseram que gostariam de ter um lugar onde "tivessem poder". E foi assim que surgiu o projeto City of Joy (cidade da alegria, em inglês), um centro de acolhida, gerido pelas próprias congolesas, voltado para a cura dos traumas e a formação de lideranças.
"A ideia é prover dois elementos a partir dos quais elas possam elaborar novos projetos de vida: amor e comunidade", explica Christine, que se tornou diretora do centro.
Erguido em 2011, ao lado do hospital Panzi e mantido com recursos captados por Ensler, o local é uma espécie de oásis em Bukavu, onde as mulheres recebem assistência médica, social, econômica e jurídica.
"A City of Joy é o lugar onde as mulheres congolesas vão transformar sua dor em poder", disse Ensler na cerimônia de inauguração do espaço.
"Acho que, hoje, eu, Denis e a equipe da City of Joy somos as pessoas que mais falam a palavra vagina no mundo todo", brinca Christine.
Mais de 1.200 mulheres deixaram os portões da City of Joy prontas para reescreverem suas histórias em novas bases.
Ainda que o volume de vítimas de estupro que chegam ao hospital Panzi tenha diminuído muito nos últimos anos, Mukwege hoje se depara com a angústia de ter de operar pela segunda, terceira ou quarta vez uma mesma mulher que sofreu novo estupro.
"Quando ele me telefona e pergunta se estou sozinha na minha sala, eu já sei", conta Christine. "Ele vai entrar, fechar a porta e chorar", descreve. "E eu choro junto, de dor e de revolta."
Mukwege foi testemunha de casos críticos, em que mulheres chegaram ao hospital desenganadas para depois, recuperadas, voltarem a fazer planos para o futuro. Ele diz sempre se surpreender com a resiliência dessas sobreviventes.
"Se essas mulheres, diante do horror, conseguiram forças para lutar por suas vidas, quem sou eu para desistir?".
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