Conforme amadurecemos, é com os amigos que temos a chance de revisitar nossas referências de masculinidade ou dividir novas escolhas.
Há pouco mais de um mês, eu escrevi um texto baseado em um dos achados de nossa pesquisa para o projeto “O Silêncio dos Homens”: embora 68% dos homens brasileiros tenham o pai como principal referência de masculinidade durante a infância e adolescência, só 1 em cada 10 já conversou com ele sobre o que é ser homem.
Agora, às vésperas do lançamento do documentário (o filme vai estrear na noite do dia 29 de agosto, quinta-feira, no canal do PapodeHomem no Youtube. Nos siga por lá!), eu queria trazer um outro dado complementar à essa conversa.
Agora, às vésperas do lançamento do documentário (o filme vai estrear na noite do dia 29 de agosto, quinta-feira, no canal do PapodeHomem no Youtube. Nos siga por lá!), eu queria trazer um outro dado complementar à essa conversa.
Quando perguntados sobre “com quem você já conversou e/ou refletiu sobre o significado de ser homem?”, 56% dos entrevistados respondeu “amigos”.
Os dois dados se entrelaçam. Enquanto crescemos, miramos a imagem dos nossos pais, heróis ou vilões de nossas histórias, como os homens que queremos ser ou pessoas das quais vamos fazer questão de nos distanciar. Conforme amadurecemos, é com os amigos que temos a chance de revisitar essa referência ou, ainda, compartilhar novas escolhas.
Se olhando para os nossos pais construímos boa parte das nossas masculinidades, é ao lado dos amigos que reconstruímos, ombro a ombro, no cotidiano da vida real, crenças ou hábitos que desenvolvemos ao longo do tempo.
Eu tive a sorte de ter vários amigos marcantes em minha trajetória de erros, acertos e aprendizados. Mas peço licença e aproveito a oportunidade que este artigo me deu para falar especificamente sobre um deles.
Eu aprendi, e tenho continuamente buscado desaprender, que homens não fazem declarações de amor. Amamos em silêncio, quando amamos. Se amor tem como destino um outro homem, então, nem se fala.
Pois bem. Se hoje eu sou o marido que sou, o pai que sou, o jornalista/fotógrafo que sou ou o meu interesse pelas masculinidades se desenvolveu a ponto de conduzir palestras e conversas em torno do tema ou coordenar um projeto ambicioso como “O silêncio dos homens”, é porque esse percurso tem sido, em grande parte, compartilhado com o Otavio Cohen.
Enquanto a faculdade ainda era sinônimo de farra e liberdade para mim (e de óbvias tentativas de emular qualquer um desses filmes de faculdade norte-americanos), ele foi me mostrando, aos poucos, que existiam infinitas outras possibilidades para o "ser homem" para além das que eu exercitava até ali.
Escuta atenta. Demonstrar afeto sem medo. Olhar curioso e compassivo para o mundo (embora nem sempre consigo mesmo). Uma vontade e abertura sincera de abraçar seus valores, vontades e até um ou outro gosto musical que eu consideraria duvidoso, não importando se aquilo seria bem aceito não.
O pesquisador americano David D. Gilmore costuma dizer que, na nossa sociedade, é mais importante ser bom sendo homem (em conforme com tudo o que se espera classicamente desse gênero) do que ser um bom homem. Otávio me ensinou, na prática, o contrário. Enquanto eu passava um bom tempo tentando construir uma persona incrível, ele ia, aos poucos, me mostrando quão interessante era ser o melhor Ismael que eu poderia ser.
Aprendi muito de lá para cá. Uma delas foi ser capaz de falar eu te amo para o Otávio e para outros grandes amigos com quem tenho a sorte de conviver. E se hoje tenho aprendido a me amar também, sei exatamente quando isso começou e a quem agradecer.
Nesse sentido, gostaria de terminar esse texto com um pedido piegas, mas de coração: nos comentários, conte para nós uma (ou mais) histórias sobre um amigo que você ama, e como essa amizade tem lhe ajudado a ser um homem e uma pessoa melhor?
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