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sábado, 15 de agosto de 2020

Botão 'Nina' registra 2 mil assédios em ônibus de Fortaleza; taxa de resolução dos casos é de 11%

A função disponível no aplicativo Meu Ônibus, da Prefeitura de Fortaleza, teve uma média de 32 registros mensais na pandemia.

Por Isabella Campos, G1 CE
14/08/2020
Desde o dia 6 de março de 2019, quando foi entrou em operação, o Botão Nina já registrou 2.249 denúncias de assédio sexual dentro de ônibus em Fortaleza. No entanto, apesar do volume de ocorrências, apenas 243 (11%) foram concluídas. O dados foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Pasta que administra a plataforma disponível no aplicativo Meu Ônibus.


Botão em ônibus que alerta para caso de denúncia sexual no transporte público já foi acionado mais de duas mil vezes — Foto: Arquivo SVM

Botão em ônibus que alerta para caso de denúncia sexual no transporte público já foi acionado mais de duas mil vezes — Foto: Arquivo SVM
De acordo com o levantamento, dos 243 registros concluídos, 207 aconteceram dentro dos transportes públicos, número que representa 85% dessas ocorrências. Já nas paradas de ônibus foram 19 (7.8%) e nos terminais 17 ocorrências (6.9%).
Foi dentro de um coletivo que a estudante universitária Mylena, de 21 anos, passou por situações de importunação sexual.
“Eu entrei em um ônibus, não estava tão lotado, mas tinha apenas uma cadeira vazia. Assim que eu sentei já senti um cheiro forte de álcool do homem que estava na cadeira ao lado. E então ele começou a olhar muito pra mim, descaradamente para o meu corpo, principalmente em direção aos meus seios. E toda mulher que passava, ele olhava. Fiquei paralisada e extremamente incomodada”, conta.
“Eu queria muito fazer alguma coisa, mas eu não conseguia fazer nada. Até que eu consegui ter a ação de ir lá para atrás [do ônibus] e ficar em pé mesmo. E outras mulheres sentavam na cadeira e depois iam lá para atrás. Todas as mulheres sabiam o que estava acontecendo, elas se olhavam e ninguém fazia nada. Foi uma situação que eu fiquei com muita raiva de mim, por não conseguir fazer algo”, relembra a universitária.
Dos casos que foram concluídos no Botão Nina, 164 são de pessoas que sofreram o assédio, 68 que presenciaram essa importunação e 11 que sofreram e presenciaram. “A plataforma permite que a pessoa que está sofrendo ou presenciando uma situação de assédio, faça o processo todo e depois continue. A gente precisa que o usuário coloque os dados pessoais, mas somente 11% concluem”, explica Mariana Gomes, assessora técnica da SCSP.
“É muito importante que se conclua este processo. Uma dificuldade pra vítima é ter uma prova. Nesse caso, a pessoa que conclui o registro vai ter o acesso aos vídeos daquele ônibus, então ela vai ter uma prova para ocorrência”, enfatiza Mariana.
A ferramenta de auxílio, disponível no aplicativo Meu Ônibus, apresenta 334 usuários cadastrados, onde 254 são mulheres cis e uma mulher trans, o que representa 76% dos usuários. Além disso, também são registrados 73 homens cis, 1 homem trans e 4 não binários.

Ações promovidas

Apesar do botão Nina funcionar apenas gerando “evidências dos casos de importunação sexual, que podem contribuir para punir os importunadores” e não trazendo a punição em si, segundo a assessora técnica da SCSP, ocorreram reuniões na delegacia responsável, para saber como ajudar efetivamente.
“Nós tivemos conversas para ver, enquanto Prefeitura, [como] podemos agir. Mas hoje, para que qualquer pessoa possa abrir um processo, é importante que a vítima seja a pessoa a denunciar”, explica Mariana, sobre algumas das dificuldades encontradas. “Porque, de toda forma, há uma obrigação da mulher testemunhar, e já é uma situação traumatizante pra gente ainda colocar ela nessa situação”, completa.
Além disso, a assessora técnica enfatiza que é importante as pessoas que presenciaram também testemunhem. “Estamos em um trabalho de conscientização sobre isso, mas ainda há outras etapas”, destaca Mariana. “Estamos desenvolvendo um protocolo de flagrante, uma capacitação mais aprofundada com os operadores do transporte público, [e] por conta da pandemia não conseguimos avançar com isso”, conclui.

Pandemia

Antes do período de pandemia, a média de registros mensais eram de 120, sendo apenas 18 desses concluídos. Já durante o tempo de isolamento social, onde a demanda do transporte público chegou a cair para 25% do público normal, os números passaram para uma média de 32 por mês, e apenas 2 registros concluídos.

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