Pais e filhos contam como se construiu a relação de cuidado e compromisso da paternidade a partir de encontros inesperados.
Redação PdH
publicado em 18 de Agosto de 2020
Quando falamos sobre paternidade falamos sobre cuidado diário, sobre dar amor e suporte, sobre estar presente e disposto. Se a ausência do pai biológico é uma constante na vida de milhões de brasileiros, destas ausências podem nascer outras histórias nos mostram que ser pai é muito mais que conceder genes. Como já diria o ditado: pai é quem cria!
Semana passada, perguntamos quando nasce um pai e ouvimos histórias bonitas e sensíveis de pais biológicos ou adotivos que sonharam a paternidade, planejaram ou gestaram uma preparação para o papel mais importante de suas vidas: o papel de pai.
Semana passada, perguntamos quando nasce um pai e ouvimos histórias bonitas e sensíveis de pais biológicos ou adotivos que sonharam a paternidade, planejaram ou gestaram uma preparação para o papel mais importante de suas vidas: o papel de pai.
Mas a paternidade também pode construir-se a partir de encontros inesperados: de um retorno à família, de um namoro e até de um luto.
Queremos contar duas histórias para celebrar o amor de pai que nasce da relação de compromisso e cuidado,muito além de um cordão umbilical.
Para falar de um lado da moeda - do lado das crias - vamos contar a história de Grazielhi Marconi, 23 anos, estudante de Ciências Biológicas, uma filha que foi criada por um excelente pai que, por acaso, era irmão de sua mãe.
Do outro lado da moeda - do lado dos criadores - ouvimos o nosso querido Ismael dos Anjos, 33 anos, que conheceu seu filho, Francisco, ao começar um relacionamento a mãe dele, Juliana.
O tio pai : “Desde o momento que eu aprendi a falar eu queria chamar meu tio de pai”
Primo Marconi é o nome próprio do homem que, no momento em que Grazielhi Marconi nasceu, foi considerado tio dela. Primo era irmão da mãe, Claudia.
Grazi morou com sua mãe e seu pai biológico apenas no seu primeiro ano de vida. Quando a união acabou mãe e filha voltaram a morar junto da avó, Josephina.
Grazi conta que foi criada pela mãe, pela avó e por Primo, a quem chama de pai:
“Desde o momento que eu aprendi a falar eu queria chamar meu tio de pai. Mas ele não deixava. Quando eu tinha 4 anos minha mãe faleceu (ela tinha 29 anos) e, então, eu fui criada pelo meu pai e minha avó. Desde o momento que minha mãe morreu ele me adotou como filha (ele já me adotava como filha antes, mas depois foi oficialmente). As pessoas falavam “Ah sua sobrinha…” E ele dizia “Não, ela é minha filha. Ela é 100% minha.”
Ele foi meu maior exemplo na vida. Ele e minha avó. Meu pai tinha vários problemas de saúde, tanto que no final da vida dele, como ele precisou ficar na cadeira de rodas, eu que cuidei dele e da minha avó. Eu acabei perdendo meu pai e minha avó esse ano, em abril. "
"Sempre fui eu ele e minha avó. Ele simplesmente fechou o mundo dele para mim: era tudo para que eu sempre tivesse o melhor. A gente era uma família bem italiana que gritava muito, brigava por tudo, esperneava, mas a gente nunca se desgrudava. Tanto que eu dediquei a minha vida a eles. Ele também fez a mesma coisa por mim. Minha avó também era assim e eu só tenho a agradecer.
Eu vejo que papel de pai é você amar, cuidar, independente de sangue ou não, que você sempre dê atenção a sua filha, que você sempre esteja ao lado dela. Papel de pai é o papel do amor. Para mim não tem nem comparação com o meu pai biológico. Meu pai, o Primo, era tudo na minha vida. Todo mundo percebia isso.
Do meu pai biológico, eu sinto que ele tem muito arrependimento, que ele quer ser presente. Como eu sempre tive um Pai, eu não sentia que eu precisava de outro pai na minha vida. Logo depois que meu pai faleceu eu pensei “Eu preciso dar uma chance pro meu pai biológico.”. Eu vejo que ele quer entrar na minha vida, que ele quer me ver, faz mais de 15 anos que eu não vejo ele. Então, agora que eu to grávida, ele manda mensagem, quer saber como eu estou, como minha está...
Acredito que tem pais biológicos, que depois de um tempo vão atrás, começam a ter interesse. Vai de cada pai, mas eu acredito que é importante dar uma chance, escutar o outro. Meu pai mesmo [o Primo], sempre me incentivava a dar uma chance pra ele: 'vai lá ver eles, conhece, vê sua outra família. Tira as dúvidas que você tem.'"
Ainda sem saber, quando cuidava do Pai e da avó no hospital, Grazi já esperava uma criança. Hoje, no sexto mês de gestação, ela conta:
“Meu companheiro sempre falou que se inspira muito muito no meu pai como fonte de referência para ser um pai pra minha filha. Ele também sempre falou no avô dele como fonte de referência para ser pai. Certeza que ele vai ser o mais amoroso, carinhoso. Ele se dedica demais pela gente, pela nossa família e eu tenho certeza que ele vai estar sempre aqui pela filha dele.”
O Papai El: “Quando não é uma relação biológica, a construção se baseia em confiança e afeto.”
Ismael dos Anjos, além de ser um dos nossos grandes colaboradores — articulador de O silêncio dos homens — também é parte do Podcast Balaio de pais. Ele é pai do Francisco, o Cisco, de 6 anos, e conta pra gente como essa paternidade começou:
“O meu encontro com o Cisco se deu a partir do meu encontro com a Ju, minha companheira. Eu sempre soube que ela tinha um filho pequeno e isso fez parte desde o primeiro momento da nossa conversa, da nossa busca por horário, para se encontrar. A gente saiu algumas vezes, começou a se gostar e, depois de alguns encontros eu fui apresentado a ele, ao Cisco.
Desde o primeiro encontro a gente brincou, se encaixou . Me relacionar com alguém que era, naquele momento, mãe solo, exigiu responsabilidade e entrega. Às vezes foi necessário que eu tomasse conta dele para ela ter algum nível de autonomia com a profissão. E com o passar do tempo a gente [eu e cisco] foi criando um relação nossa também, além da relação mediada pelo fato de eu ser, naquele momento, namorado da mãe dele.
A gente sempre deixou muito evidente que ele tinha um pai biológico. No começo ele me chamava de “Él”. Ele me entendia como uma presença fixa na vida dela, desde 1 ano e meio de idade. Com dois anos e pouco eu já estava morando junto da Juliana. Com o passar do tempo essa figura do El foi ganhando contorno.
Ele começou a me chamar de pai depois de algo muito sui generis: Depois de um natal em que ele não conseguia dizer papai noel ele dizia papai El e, depois que o natal passou, começou a me chamar de Papai El. Não tem um momento em que eu me tornei pai, não dá pra ter um dia exato. Quando não é uma relação biológica, a construção se baseia em confiança e afeto.
A paternidade sempre esteve nos meus planos, era um sonho antigo meu, desde que eu era muito novo. Minha melhor amiga, a Lu, até me lembra que eu sempre disse que queria ter filho aos 27 anos de idade. Eu conheci o Cisco quando eu já estava pra fazer 29, mas ele nasceu no ano que eu tinha 27, então eu acabei tendo um filho, retroativamente, no ano que eu queria.
Teve uma curva de aprendizagem bem grande: desde o momento em que eu era bem passivo, esperando orientações da Juliana para não pisar em áreas dela e entender como ela estava criando o filho naquele momento - para respeitar os acordos e as escolhas que ela tinha feito antes de eu chegar - até o momento em que eu fui entrando em grupos de pais, fui me informando, fui entendo o porquê das escolhas, participando de novas escolhas e com o tempo isso foi se ajustando.
Acho que minhas expectativas era de que era algo difícil complexo e com alta responsabilidade e isso só se provou verdade na prática além das partes legais: alegria felicidade, realização e um amor incrível incomensurável que eu nunca tinha experimentado em relação a ninguém e que quem não é pai/mãe ou responsável por uma criança não sabe o que é.”
* * *
Quando falamos de paternidade, de pais possíveis, reais e comprometidos, estamos movimentando energia para mostrar que ser pai, ativamente, não é nada simples, mas que é isso que queremos ver florescer: homens paternos, pais que criam, que amam, que se responsabilizam.
Celebrar e admirar as paternidades ativas não é jamais ignorar que existem 5 milhões de brasileiros sem o nome do pai no registro e uma lacuna ainda maior se considerarmos os pais que deram o nome, mas que não se fizeram presente na criação. Para transformar esta realidade, mesmo que aos pouquinhos, um dos jeitos de contribuir com o florescimento das diversas formas de paternidades ativas é trazer à luz os homens da vida real que são modelos - não perfeitos, mas possíveis - e que podem ser referência para nos guiar em direção a transformação única de cada pai.
Mecenas: C6 Bank, Carrefour e Philips
Tanto este texto como o nosso evento PAI 2020: Os desafios das paternidades atuais estão sendo feitos com todo o carinho por nós da Equipe PdH junto com o Homem Paterno e todo este trabalho e dedicação só é possível porque estamos recebendo o apoio de pessoas que acreditam na missão de transformar paternidades reais e construtivas: o C6 Bank, Carrefour, Philips e, claro, nossos membros PdH!
O PAI 2020: Os Desafios das Paternidades Atuais acontece dia 24, 26 e 28 de agosto, às 20h30, por transmissão ao vivo.
Quer ver a programação e saber como faz para se inscrever? É por aqui!
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