Creches noturnas oferecem alternativa para pais na Suécia
Maddy Savage
da BBC em Estocolmo
Famosa por sua preocupação com o bem-estar de seus cidadãos, a Suécia oferece creches que funcionam durante a noite e finais de semana para atender pais que trabalham em turnos não convencionais.
A maioria das creches funcionam das 6h às 18h.
A pequena cidade de Norrköping, no sudeste do país, é uma das pioneiras no atendimento nestes horários com quatro creches operadas pelo governo local. A primeira destas foi aberta há 20 anos.
"No começo era muito difícil levar meus filhos para dormir em outro lugar e meu coração doía", disse Maria Klytseroff, 39 anos, que cuida de pessoas com dificuldades de aprendizado.
Os filhos dela passam cerca de duas ou três noites por semana em uma das pré-escolas, que se parece mais com um apartamento residencial do que com um centro de educação.
"Sou mãe solteira e queria voltar para meu emprego, que é durante a noite. As crianças se acostumaram logo, têm amigos e adoram os funcionários", disse.
A Suécia tem um histórico de bom tratamento para pais que precisam de creches e regularmente está entre os países apontados entre os melhores do mundo para se criar os filhos.
Cada criança tem seu lugar garantido em uma pré-escola pública e nenhum pai paga mais do que 3% do salário para isto. As taxas não ultrapassam 1.260 coroas suecas por mês (quase R$ 390) para os que ganham os salários mais altos do país.
No país, cabe aos governos de cada uma das regiões (municipalidades) a decisão sobre o oferecimento de serviço de creches fora do horário normal.
Atualmente, estas creches existem em 123 das 290 áreas administrativas do país e são frequentadas por quase 5 mil crianças.
Pais e mães solteiros ou casados podem usar estas creches, basta que o empregador forneça provas dos horários de trabalho.
Poucas crianças
A creche onde ficam os filhos de Maria Klytseroff atende 18 crianças, que chegam para o jantar. Depois elas escovam os dentes e um funcionário lê uma história para elas, antes de dormir.
Pela manhã, os funcionários vestem os agasalhos nas crianças e as levam de carrinho para uma creche diurna próxima, enquanto Maria descansa do trabalho noturno.
"Viajei muito então sei que tenho sorte em comparação a pessoas de outros países", afirmou Maria, que paga um total de 720 coroas suecas (cerca de R$ 220) por mês pela pré-escola dos filhos.
Nos últimos anos na Suécia funcionários de hospitais, restaurantes, do setor de transportes e de lojas precisaram se adaptar aos turnos de trabalho mais longos e eles estão entre os que mais se beneficiam com estas creches.
E, a partir de julho, o governo de centro-direita da Suécia prometeu gastar 108,5 milhões de coroas suecas (mais de R$ 33 milhões) nos próximos quatro anos para ajudar mais áreas do país a melhorarem o serviço.
Mas, os partidos de oposição questionam se a quantia será o bastante.
"A Suécia começou antes de outros países em termos de aumentar (o número de) mulheres na força de trabalho e, para tornar isto possível, nós construímos o sistema de creches", disse a ministra de Gênero da Suécia, Maria Arnholm.
"Acreditamos ser importante que as famílias possam combinar a paternidade e maternidade com o trabalho e isto não deveria incluir apenas aqueles que trabalham de 9h às 5h (da tarde), mas também aqueles que trabalham nas horas inconvenientes", afirmou.
'Estressante'
Nem todos aprovam este novo modelo de creches.
"Em termos de creche noturna, eu definitivamente não concordo com os planos de expansão", afirmou Madeleine Wallin, presidente da Federação Europeia de Pais e Cuidadores, que representa seus membros na União Europeia e na ONU.
Ela mandou três dos cinco filhos para creches públicas antes de decidir por criar os outros dois em casa no vilarejo de Hyssna, oeste da Suécia.
"Passar horas e horas longe dos pais pode ser incrivelmente estressante para crianças. Você tem apenas que observar a linguagem corporal delas quando elas são deixadas na pré-escola", disse.
Wallin, que agora tem uma empresa com o marido, disse que se sentiu obrigada a usar as creches para seus primeiros filhos devido ao "estigma social" contra as mães que ficam em casa.
"A Suécia é um país caro e quando eu parei de trabalhar por um tempo para cuidar das crianças, foi uma luta financeira. Mas eu estava cansada de as pessoas me falarem que era melhor deixá-las com outra pessoa", afirmou.
Desde 2008 cerca de um terço das municipalidades suecas começaram a oferecer uma ajuda de custo para os pais que escolhem parar de trabalhar até que as crianças completem três anos.
Poucos pais aceitaram o benefício, que é baixo e correspondente a apenas cerca de 8% da média salarial do país.
A organização que Madeleine representa acredita que, com o aumento neste subsídio, mais pais decidiriam ficar em casa.
Emprego
Outros afirmam que o alto número de pais trabalhando não vai mudar na Suécia.
"O problema é que, uma vez que você convenceu a maioria das pessoas a colocar os filhos de um e dois anos em creches diurnas ou noturnas, é difícil ter um debate (sobre a questão)", afirma o analista Jonas Himmelstrand.
Um forte defensor do ensino de crianças em casa, ele também publicou uma pesquisa polêmica sugerindo que pré-escolas podem prejudicar a saúde mental da criança e levar a problemas de disciplina no futuro.
Atualmente ele vive na Finlândia, onde o governo prometeu expandir a educação infantil grátis para dar a mais pais e mães a escolha de voltar ao trabalho.
Na Suécia, pais e mães parecem apoiar totalmente o modelo de pré-escola pública.
"Graças às creches baratas eu pude estudar e treinar novamente para se enfermeira", afirmou Martina Stenbom, de 44 anos, mãe de um filho, que vive em Estocolmo.
"Na minha área os cuidados são fora do horário tradicional de trabalho, então tive a chance de trabalhar e estudar durante a noite e finais de semana", afirmou.
Ela também apoia a expansão dos serviços noturnos.
Em Norrköping, Maria Klyteroff lembra que "não importa se você é rico ou pobre, ou no meio, como eu, as creches significam que todos aqui têm a chance de trabalhar".
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