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domingo, 31 de março de 2013


Pelo direito ao respeito e à dignidade: medidas de acolhimento por amor

Ao entrar no Lar Nefeshas paredes repletas de desenhos chamam a atenção. A sala tem um clima convidativo. Assim como os outros ambientes da casa, os móveis são coloridos e os brinquedos estão à disposição. Tudo pensado para acolher meninas e meninos vítimas de maus-tratos e violência doméstica.
Durante 12 anos, o diretor do Lar Nefesh, Claudio Pita, e sua mulher, Rosana Pita, realizaram, nas ruas do centro velho de São Paulo, um trabalho para reinserir crianças e adolescentes na sociedade e reaproximá-los de suas famílias. Ao longo desse período, eles perceberam que os meninos e meninas que estavam naquela situação – algumas vezes, já dependentes químicos –, na maioria dos casos, tinham saído de suas casas por terem sofrido algum tipo de violência no núcleo familiar
Em 2002, o casal substituiu o trabalho nas ruas por um novo projeto. Dessa vez, o foco seria a prevenção e a acolhida para evitar que mais crianças caíssem nas ruas. Uma maneira de garantir que elas tivessem os seus direitos preservados, e, ao mesmo tempo, de oferecer orientação para as famílias e possibilitar o retorno ao lar, no menor tempo possível.
Pita conta que cada criança que chega no Lar é recebida com carinho, respeito, e, também, com firmeza, para que tenha conhecimento da situação que vive.  “Desde o momento do acolhimento institucional, a criança recebe boa alimentação, cuidados com a higiene corporal, tratamento da saúde física e psicossocial, educação, lazer, confiança, respeito e noções de cidadania, para conhecer seus direitos e deveres”, disse.
O projeto tem a preocupação de causar o menor impacto possível na vida da criança. Um exemplo deste cuidado é o uso individualizado de roupas e objetos, em conformidade com o previsto nas normas doEstatuto da Criança e do Adolescente – ECA (artigo 17).
Para não comprometer a atenção personalizada, o Lar Nefesh não ultrapassa um certo número de crianças e perfis e se mantém apenas com doações. Segundo Pita, com um posicionamento específico e a metodologia de separação de perfil e faixa etária – salvo os casos de irmãos –, o abrigo consegue resultados mais eficazes e positivos. “Precisamos entender que o trabalho do abrigo é muito importante na vida de cada um que passa por ele, como acolhido. Assim como um tipo de isca não serve para pescar todo tipo de peixe, um abrigo não tem condição de atender todo tipo de demanda de crianças e adolescentes”.
Lar Nefesh também atua com o acompanhamento das famílias, para que elas mantenham um contato regular com a criança abrigada. Quando a família não consegue se reorganizar no período máximo de dois anos, é realizada uma ação em conjunto com a Vara da Infância e Juventude, para que a criança ou adolescente seja inserida em um programa de família substituta ou de adoção.
Um olhar de mãe
Lígia Pereira é mãe de César, Rodrigo, Tatiana, Camila, Sérgio David, Júlia, João Paulo, Vanda, Jéssica e Jussara, Fernanda, Murilo, Matheus, Rita de Cássia, Claudia, Vitório e João Vitor. São 16 filhos, cinco biológicos e 11 adotivos. A educadora social participa do programa Lar Hospedeiro, na cidade de Santa Branca, interior de São Paulo, desde 1997. No entanto, seu envolvimento em questões de defesa dos direitos de crianças e adolescentes faz parte da sua essência e, há anos, também é sua ferramenta de trabalho.
Ao participar do programa de acolhida para crianças em situação familiar de risco, Pereira recebia, da Prefeitura Municipal de Santa Branca, meio salário mínimo e uma cesta básica por mês, independente do número de crianças. A educadora diz que perdeu as contas de quantas crianças passaram pelas suas mãos, ao longo desses anos. Alguns ficaram com ela por dias, outros por meses, mas todos receberam o mesmo tratamento de uma mãe generosa e acolhedora.
Antes da conquista da adoção definitiva de seus 11 filhos, a educadora viveu um longo período de angústia e insegurança. “No começo, vivia a incerteza no dia a dia. Amanhecia sem saber como iria terminar o dia; não sabia se eles estariam aqui para o café ou jantar”, lembra.
Para educar os filhos, Pereira procura se informar sobre reeducação e conta com o companheirismo do marido e com a fé. A mãe também teve que prepará-los para a divisão de pequenas tarefas domésticas e para a convivência. Para ela, é preciso se desdobrar para educar com autoridade, mas sem autoritarismo.
A educadora social atuou durante oito meses em um abrigo, mas não conseguiu dar continuidade. Ela acredita que as instituições sem padrão de atendimento deveriam acabar. “A criança, quando entra no abrigo, fica deslumbrada com aquilo que encontra, porque tem cama e comida. Mas não existe tratamento individualizado”, afirma. Pereira ainda defende que os municípios deveriam investir em lares hospedeiros e humanizar as medidas de acolhimento, que, atualmente, vitimizam muito mais do que projetam.

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