O psicólogo Marcos Nascimento diz que a família se esqueceu de olhar para os meninos
“O futebol é um campo de emoções como poucos”, defende Marcos
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Foto: Eduardo Monteiro/Fotonauta
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No Encontro Global de Parcerias pelo Fim da Violência Doméstica, que a ONG Vital Voices e o Instituto Avon realizaram em Brasília, o psicólogo Marcos Nascimento, pesquisador de sexualidade e direitos humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, observou que o homem cresce se sentindo só e sem lugar para rever seus problemas.
Quando decidiu trabalhar com a ala masculina?
Antes da psicologia, fiz engenharia com quatro mulheres e 25 homens. As brincadeiras, cheias de sacanagem, davam o tom de como as coisas funcionavam: um queria provar que era melhor, o outro desqualificava a masculinidade do colega. No futebol, via beijo, abraço, choro e fúria. Fui me interessando pelo comportamento do homem. Ele não fala da sua sexualidade, do medo do fracasso, de filhos. Especialistas em gênero também não o veem; estudam o feminino, o direito e o papel da mulher.
Por que usa o futebol nos seus grupos?
É um campo de emoções como poucos. Numa ONG, após o jogo, refletíamos com os jovens. Eles acabavam sentindo a capacidade de viver a agressão e a amorosidade. Discutiam o sentido da violência. Em casa, não ensinam ao garoto que não se deve ser rude com mulheres. Ele nem nota que foi autoritário se rouba um beijo e força a menina a “ficar”.
A família tem dificuldade de ensinar?
É cultural. Enquanto o menino vê TV, a menina ajuda na casa. Fica a ideia de que ela deve servi-lo. Outra mensagem que ela leva para a vida adulta: o ciúme e o controle por parte do homem – duas atitudes que geram violência – significam cuidado e proteção. Ao educar dessa forma, a família naturaliza o perigo. Para alguns homens, não há como resolver uma questão sem gritar ou agredir. Ele justifica: “Meu pai fazia assim, meu avô e o meu sogro também”.
O menosprezo, o achincalhe, o xingamento são tidos como agressão?
O homem acha que só o que deixa roxo é ataque. A pressão psicológica é até mais nociva. Só percebe quando é sensibilizado por alguém que mostra que, com as brigas, os filhos se prejudicam, todos perdem.
O que leva um homem a grupos como esses?
Desejo de mudar, amadurecer, aprimorar relações afetivas. Ou vai por pressão da mulher. Há ganhos nos dois casos – ele não tinha com quem dividir o que sente e aprender. Uma vez, um rapaz contou que a noiva o traíra. Os outros perguntaram se iria atrás do cara, se daria uns tapas na moça. Ele disse que fez melhor: rompeu por quebra de confiança. E que resolver conflitos com estupidez dava em mais problemas. Os outros foram para casa pensando.
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