Mulheres são protagonistas da era digitalReunidas na rede, elas ganham força para reivindicar direitos e se mobilizar em torno de projetos, como o de software livre
Shirley Pacelli
“Tirar a roupa dela – com o consentimento: 10 cal. Sem o consentimento: 190 cal.”. A sentença anterior foi veiculada no Facebook em uma peça publicitária de um fabricante de preservativos, em julho do ano passado. Não demorou muito para que a propaganda – claro incentivo ao estupro – fosse compartilhada por milhares de pessoas na rede, criticando a postura antiética da empresa. O movimento Marcha Mundial das Mulheres (MMM- marchamulheres.wordpress.com) foi um dos grupos que contribuíram para o buzz negativo gerado na web. A empresa foi obrigada a retirar o conteúdo do ar e pediu desculpas aos clientes. Foi um dos marcos de ações on-line da MMM.
Tica Moreno, de 28 anos, integrante do grupo Sempreviva Organização Feminista (www.sof.org.br) e da MMM, conta que o ativismo pelos direitos da mulher também é implementado com “tuitaços”, como no Dia Internacional do Aborto. Ela lembra que a acusação de estupro coletivo da banda New Hit, da Bahia, também ganhou repercussão – primeiramente – na internet. As integrantes da MMM, especialmente do estado baiano, fizeram pressão para os agressores serem punidos. “A rede funciona como um espaço de articulação e mobilização das mulheres. Sabemos que não adianta estar só no ambiente virtual, mas a web potencializa a participação”, explica. No último mês, uma grande rede de TV rompeu a parceria com o blog Testosterona depois que um movimento on-line mobilizou mais de um milhão de pessoas contra a página, que é reconhecida por conteúdos machistas.
A Marcha das Mulheres Mundial surgiu de uma convocatória do Canadá. Atualmente, 19 estados brasileiros fazem as próprias passeatas. O blog do MMM no Brasil foi criado em 2008 para servir como canal de articulação dos movimentos de cada estado. Hoje, ele virou um espaço colaborativo, onde meninas de todo o Brasil fazem postagens, atualizadas três vezes por semana. No espaço virtual, a primeira seção criada foi a “Operação Lambe-lambe”, que propõe e ensina como fazer e espalhar cartazes com mensagens feministas nas ruas. Outra ferramenta é o “Buteco das Mina”, espaço para o bate-papo transmitido via streaming.
Mulheres de TI A própria construção da tecnologia ainda tem um viés masculino. Para mudar essa realidade, mulheres que trabalham com programação têm marcado presença em movimentos de software livre, onde há colaboração, horizontalidade e espaço para propor novas formas de criar. O movimento é silencioso, mas, aos poucos, elas entram de vez no universo da computação, terreno tradicionalmente dominado por homens.
Em dezembro de 2012, Belo Horizonte recebeu a primeira edição do Rails Girls (http://railsgirls.com), movimento criado para mostrar que tecnologia da informação não é só coisa de homem. O projeto surgiu em 2010, em Helsinque, na Finlândia. A proposta é promover um ponto de encontro para as mulheres que querem conhecer mais sobre a plataforma Ruby on Rails, framework livre que promete aumentar velocidade e facilidade no desenvolvimento de sites orientados a banco de dados.
Uma das organizadoras do evento foi a publicitária Natália Córdova, de 28 anos. Apesar de não ser formada em sistema de informação, Natália trabalhou mais de quatro anos como gerente de projetos de TI de duas agências on-line de Belo Horizonte. A publicitária diz que nunca se sentiu discriminada no ambiente de trabalho. “O que sempre percebi é que existem vagas para profissionais dedicados e bons no que se propõem a fazer, independentemente de serem mulheres ou homens”, relata. Ela explica que há alguns anos as mulheres sentiam-se intimidadas pelo ambiente predominantemente masculino, mas que agora empresas e profissionais valorizam a colaboração feminina. “Nos trabalhos que desenvolvi aprendi muito devido ao respeito e interesse de outros colegas, a maioria do sexo masculino, de dividir conhecimento. E o resultado foi muito positivo”, ressalta.
Já Luciana Fujii Pontello, programadora mineira de 28 anos, e com experiência de 10 na área de TI, diz ser comum a ideia de que as mulheres são incompetentes até prova em contrário. Pontello trabalha para a Collabora, empresa de consultoria e desenvolvimento de software livre do Reino Unido, além de contribuir com o Cheese, software de webcam do projeto Gnome. Ela foi convidada para palestrar no primeiro encontro Mulheres na Tecnologia, realizado em Goiânia (GO) no último domingo. Ela acredita que o software livre é o único que realmente respeita o usuário. “No Brasil, essas plataformas são muito importantes para disseminar conhecimento e garantir participação relevante na criação de tecnologias, além de diminuir custos, principalmente, do governo”, afirma.
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