Imagens cerebrais podem prever quais criminosos terão recaída
Área do cérebro responsável por conter nossos impulsos pode revelar quais detentos serão presos novamente. Conclusões da pesquisa geram controvérsia
por João MelloAtividade cerebral pode determinar o caráter de um homem? Crédito: GETTY Images |
É apenas um estudo preliminar, ainda sem condições de ser usado nos tribunais, mas os resultados tem chamado atenção da comunidade científica. Pela primeira vez na História, scanners cerebrais estão sendo usados para prever a chance de reincidência de um criminoso.
Pesquisadores do Mind Research Network, que fica no estado norte-americano do Novo México, submeteram 96 detentos de uma prisão a uma série de testes que monitoravam a atividade dos seus cérebros. O funcionamento do experimento não poderia ser mais simples: os participantes ficavam de frente para um tela e deveriam apertar um botão toda vez que vissem a letra X. Acontece que a letra X aparecia em 84% das vezes: de resto, era o K (e sua óbvia semelhança estética com o X) que surgia.
Ao analisar as imagens, o interesse dos pesquisadores estava no córtex cingulado anterior, uma das áreas do cérebro que comanda o controle do nosso impulso. Eis a equação: quanto menor a atividade dessa região, pior o desempenho no teste – logo, mais impulsivo, logo mais propenso a voltar a cometer crimes.
Assumir que a impulsividade é sinônimo de reincidência não é especulação ou preconceito. As estatísticas mostraram que, quatro anos após cumprir a sentença, a chance de um preso de cingulado anterior menos ativo voltar pra cadeia é duas vezes maior que a de um colega seu de atividade cerebral alta.
A eficácia dessa previsão, como dito no início do texto, ainda não é comprovada, principalmente porque ninguém sentou pra calcular se a precisão dessa análise compensa o alto preço da estrutura tecnológica que a técnica demanda. Especialistas apontam que se o prisioneiro balançar a cabeça dentro do scanner ou pensar em coisas aleatórias já seria suficiente para minar a previsão. Talvez, a boa e velha conversa com um psicológico ou o acompanhamento diário da evolução do detento ainda sejam o melhor caminho – essa comparação não foi feita até agora.
Além dos 96 prisioneiros analisados na pesquisa, outros 3 mil cérebros de detentos foram scaneados. Os críticos da técnica dizem que o prosseguimento desses estudos pode abrir um precedente tão fascinante quanto perigoso: através de exercícios cognitivos – ou até mesmo de remédios – cientistas podem estimular a atividade no cingulado anterior de pessoas que cometeram delitos, podendo assim diminuir a taxa de criminalidade na população.
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