por Redação Marie Claire
Ela tinha apenas 11 anos quando foi foi forçada a se submeter à mutilação genital sem anestesia. Agora, aos 14, Damaris Monty é mãe de uma menina dois anos de idade. Ela não tinha ideia do que significava o procedimento antes do que aconteceu com ela e outras quatro jovens de sua cidade, Tangulbei, no Quênia. A prática é realizada em algumas partes do mundo sob a crença de que deixa as meninas mais puras e elegíveis para se casarem.
"Estava na casa da minha tia e ela e seu marido me disseram que eu faria uma operação. Eu não sabia o que era, mas eles me disseram que eu tinha que passar por isso. Minha tia me disse na noite anterior que eu seria cortada. Não sei se os meus pais sabiam ou não e se aprovariam", contou Damaris ao jornal "Daily Mail".
Damaris, que nunca foi à escola ou recebeu qualquer tipo de educação, disse que se soubesse o que iria acontecer teria fugido. Ela e as outras quatro meninas foram levadas para fora da casa de sua tia e ficaram sentadas em pedras em uma fila diante do sol nascente.
Damaris foi a última a passar pelo procedimento, feito com ferramentas rudimentares e sem nenhuma anestesia. "As mulheres que estavam lá disseram que não deveríamos ter medo, porque isso é um tabu. Falaram que se não chorássemos, não sentiríamos dor e que, se gritássemos, toda a nossa família seria envergonhada. Nos disseram para ficar em silêncio e olhar para o chão. Não sabia qual lugar do corpo seria cortado. Só vi quando a primeira garota sendo cortada. Quando eu vi o que realmente aquelas pessoas queriam dizer, conclui que era algo muito ruim."
"Quando me cortaram, o sangue jorrou. Senti dor. Estava muito nervosa, não era algo que eu havia escolhido. Fui coberta em uma pele de ovelha. Amarraram minhas pernas com roupas rasgadas, perto das coxas. Nós nos sentamos nas pedras por uma hora e, em seguida, eles levaram todas nós para uma cabana pequena. Chegamos lá à pé, andando bem devagar. Estávamos sofrendo por causa do corte e com nossas pernas amarradas. Ficamos na cabana durante três meses, com as pernas amarradas. Éramos alimentadas com mingau, como se fôssemos crianças. Nós não gostávamos, mas não tínhamos opção de fugir por causa dos ferimentos. No início, as mulheres costumavam vir e ficar com a gente durante o dia, mas com o tempo, fomos deixadas por nossa própria conta."
Após a recuperação, o calvário de Damaris não acabou. Ela foi forçada a se casar com um homem com o dobro de sua idade. "Naquele momento, eu não sabia que a mutilação seria um preparo para o casamento. Pensei que depois do corte voltaria para casa ou iria para a escola."
O marido quis consumar o casamento imediatamente, ela tinha apenas 12 anos e se recuperava da mutilação que havia sofrido. Ela engravidou. O marido a maltratava e ela temia que algo ruim pudesse acontecer com a criança e que no futuro ela também fosse obrigada a passar pela mutilação.
"Um dia ele me trancou dentro de casa sem o bebê. Fiquei preocupada, pensei que ele iria matá-la. Ele me trancou durante uma hora. Então, percebi que tinha que fugir", lembra.
Depois de escapar com a filha, Damaris foi acolhiada pela ONG Action Aid, em Kongelai.
"Graças a eles, me sinto melhor a cada dia. A maioria dos membros do grupo são mulheres bem mais velhas, mas tenho uma amiga quase da mesma idade que eu. Ela passou pelo mesmo."
Damaris disse que nunca permitirá que sua filha seja submetida à mesma violência e que quer ajudar a aumentar a conscientização nas comunidades sobre por que a prática deve ser abandonada. A mutilação genital se tornou ilegal no Quênia em 2011, mas dezenas de milhares de famílias temem ser marginalizadas se não enviarem suas filhas para o procedimento. As mulheres que não passam pela mutilação são consideradas impuras e promíscuas.
Damaris disse que tem grandes esperanças para o futuro de sua filha. "Quero que ela vá para a escola e seja professora ou mesmo médica."
A Action Aid trabalha atualmente na Etiópia, Quênia, Nigéria, Senegal, Somália, Gâmbia e Uganda para acabar com a mutilação genital feminina. O grupo fornece suporte direto a mulheres e meninas como Damaris que escaparam de seus casamentos abusivos e foram submetidas à mutilação. A ONG atua ainda nas comunidades para falar sobre os efeitos nocivos da prática.
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