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segunda-feira, 21 de março de 2016

Berlusconi diz que mulher não pode ser mãe e prefeita de Roma ao mesmo tempo

Ex-primeiro-ministro da Itália tenta evitar que uma gestante participe da campanha à prefeitura

PABLO ORDAZ
Roma 16 MAR 2016

Berlusconi, em 2009, com a aspirante Meloni, agora grávida.
Berlusconi, em 2009, com a aspirante Meloni, agora grávida. Stefano Rellandini AP

A discussão causa rubor por si mesma: pode uma mulher ser mãe e prefeita de Roma ao mesmo tempo? O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi tem clara a questão: “Uma mãe não pode dedicar-se a um trabalho que a ocupa 14 horas por dia. Um trabalho que seria terrível porque Roma está em uma situação desastrosa”. O multimilionário e ainda líder do partido Força Itália entrou assim em uma polêmica suscitada pelo fato de que Giorgia Meloni, líder do partido ultraconservador Irmãos da Itália e em avançado estado de gestação, anunciou sua intenção de integrar a chapa da centro-direita, liderada pelo favorito de Berlusconi, Guido Bertolaso, um médico que chegou a ser chefe da Defesa Civil.

Bertolaso, perguntado na televisão se queria Meloni como vice-prefeita, foi taxativo: “Não. Meloni tem que ser mãe, a coisa mais bonita que pode acontecer a uma mulher na vida. E não ter que ocupar-se dos buracos de Roma, da sujeira, do tráfego, dos ratos, da criminalidade e tudo o mais”. Um dia antes, em relação a outros comentários e atitudes machistas, a ministra da Saúde, Beatrice Lorenzin, havia reagido: “A Itália não é um país para mulheres”.

“O que está acontecendo nestes dias”, disse a ministra do Governo de Matteo Renzi, “é incrível e revela uma misoginia de fundo”. A ministra Lorenzin se referia à discussão sobre a idoneidade de Meloni em razão de sua gravidez, mas também aos insultos recebidos por Patrizia Bedori, candidata até dois dias antes do movimento 5 Estrelas (M5S) à prefeitura de Milão. “Chamaram-me de tudo, desde feia e gorda até dona de casa e desempregada”, denunciou Bedori, que –pressionada também pelas disputas internas da legenda de Beppe Grillo– decidiu, por fim, renunciar à candidatura.

A ministra da Saúde, Beatrice Lorenzin, reagiu às declarações machistas: “A Itália não é um país para mulheres”

Diante da situação criada, e amplificada pelas declarações de Berlusconi, também perguntaram ao primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, se uma mulher pode compatibilizar um alto cargo na política com a maternidade. Sua resposta foi: “Desde já, sim, absolutamente”. Também a ministra de Reformas Constitucionais, Elena Boschi, expressou pelo Twitter sua solidariedade a Meloni e Bedori: “Quando se pediu a um candidato homem que se retire porque não é telegênico? Ou por que vai ser pai?”.

maria elena boschi 

Quando chiederanno a un candidato uomo di ritirarsi perché non telegenico? O perché deve fare il padre? Solidarietà a  e.

Em uma entrevista ao EL PAÍS, Laura Boldrini, presidenta da Câmara dos Deputados da Itália, expressou grande preocupação com um machismo que ela também diz estar implícito na linguagem: “Aqui na Itália me chamam de senhor presidente, mas eu gostaria que me chamassem pelo menos de senhora presidente, mas até isso se considera um capricho de feministas. Peço respeito a meu gênero. Nossa língua, que vem do latim, declina e permite isso. Por trás do ‘senhor presidente’ se esconde o não querer aceitar que certos papéis institucionais possam ser ocupados por uma mulher. É preciso levar a linguagem muito em conta porque as palavras são como pedras e às vezes podem causar muito dano”.

Segundo o observatório político Openpolis, somente 14% das cidades italianas têm uma mulher como prefeita, e nenhuma delas supera os 300.000 habitantes. A situação pode mudar se, como preveem as pesquisas, Virginia Raggi, a candidata do M5S, se tornar a próxima prefeita de Roma.

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