São Paulo — No Brasil, a escolha de engravidar ou não, e quantas vezes, ou mesmo de adiar a maternidade para trabalhar é uma questão de privilégio.
No décimo país mais desigual do mundo pelo índice de Gini, mulheres com mais oportunidades financeiras e educacionais durante a vida apresentam menor taxa de fecundidade, enquanto as mais pobres ficam grávidas mais vezes e mais novas, em média.
Essa é a realidade apresentada no relatório “O poder de escolha”, elaborado pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) sobre direitos reprodutivos e a transição demográfica, divulgado nesta quarta-feira (17).
A pesquisa revela que desigualdade econômica, falta de acesso à informação, precariedade nos serviços de saúde e má distribuição de renda impactam diretamente nas taxas de fecundidade.
Para comprovar esse cenário, o relatório apresenta dados de dois extremos. De um lado estão as mulheres com mais anos de estudo e com uma progressão maior na carreira profissional. Essas têm menos filhos e, inclusive, o número costuma ser menor do que o desejado.
Na outra ponta, que concentra o maior número de mulheres, estão aquelas com menos anos de estudo que ficam grávidas mais vezes do que queriam. Elas são jovens e, na maioria das vezes, a gravidez não foi planejada.
Para Jaime Nadal, representante do UNFPA no Brasil, essa realidade mostra que apesar dos avanços dos últimos anos, o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva ainda está longe de ser o ideal.
“O Brasil passou pelo mesmo processo que outros países do mundo, em relação à queda da taxa de natalidade. No entanto, as meninas mais pobres, por falta de escolhas, oportunidades e atenção dos serviços públicos, ficaram à deriva”, explica.
Os números corroboram com esse cenário. A parcela mais rica da população, que corresponde a 20% dos brasileiros, apresentam a menor taxa de fecundidade, com índice médio de 0,77 filho por mulher. Já os 20% mais pobres aparecem como os que mais têm filhos, são 2,9 por mulher.
Mulheres que estudaram entre cinco e oito anos também são as que mais têm filhos, com taxa média de 3 para cada mulher. As com mais de doze anos de estudos têm 1,18.
O que fazer para resolver?
A desigualdade na taxa de fecundidade no Brasil traz inúmeros impactos para a saúde pública — um exemplo são os casos das mulheres que, por não terem controle reprodutivo sobre seus corpos, se submetem a abortos clandestinos. Além disso, são aprofundadas as desigualdades do mercado de trabalho, de renda e de gênero.
Para solucionar o problema, o relatório apresenta quatro possibilidades. As políticas públicas precisam ser universais e de qualidade, os direitos jurídicos legais devem ser respeitados, a educação tanto para meninos quanto para meninas deve ser um direito resguardado e, por último, os homem precisam assumir seus papéis e tomar parte nas decisões.
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