Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sábado, 20 de outubro de 2018

Para envelhecer bem, o Brasil precisa aprender a prevenir melhor

Um estudo do Ministério da Saúde mostrou que os idosos brasileiros são internados por doenças que poderiam ter sido evitadas

16/10/2018
Rafael Ciscati

Não vai demorar muito para o Brasil se tornar um país de idosos. Se hoje a população com mais de 60 anos equivale a 12% dos brasileiros, em 2050 estima-se que eles serão cerca de 30%. O envelhecimento da população é um fenômeno global, mas que ocorre no Brasil em ritmo superior à média mundial. Lidar com uma população que envelhece envolve certas dificuldades. À medida que a expectativa de vida aumenta, aumentam também os gastos com saúde. O Brasil tem a quinta maior população do globo e vai concentrar uma das maiores populações de idosos do planeta. Há indícios de que, ao menos por ora, não estamos preparados para esse desafio.

O alerta foi dado pelo Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), divulgado no começo do mês pelo Ministério da Saúde. O ELSI é uma imensa pesquisa financiada pelo Ministério e levada a cabo por pesquisadores de diversas instituições nacionais. Seu objetivo é acompanhar como evoluem os indicadores de saúde da população com mais de 50 anos em todo o país. A primeira leva de observações, feita entre 2015 e 2016 e cujos dados vêm à público agora, verificou como viviam cerca de 10 mil pessoas em 70 municípios.

O quadro não chega a ser dos piores, mas há uma profusão de problemas para resolver. Na avaliação dos pesquisadores, o acesso à saúde no Brasil ainda é desigual - tem maiores facilidades quem pode pagar por elas. E falhamos na prevenção.

De acordo com o levantamento, 75% dos idosos brasileiros dependem unicamente do SUS para tratar de sua saúde. E 70% deles sofrem de alguma doença crônica, como diabetes, pressão arterial ou artrite. Alguns (30%) enfrentam duas ou mais. É um índice mais elevado do que o verificado em outras populações - entre os idosos britânicos, por exemplo, a prevalência de doenças crônicas é de 50%.

Mas o que me chamou especialmente a atenção foram os dados referentes à frequência de internações e aos motivos que levaram esses senhores e senhoras aos hospitais: 10% dos idosos participantes do estudo relataram ter sido hospitalizados em algum momento dos 12 meses anteriores à realização da pesquisa. As causas variaram, mas, dos motivos mais comuns, quatro merecem destaque: acidente vascular cerebral (AVC), doença cardiovascular, diabetes e hipertensão. O quarteto chama a atenção por um motivo simples: são condições preveníveis.

Elas entram numa lista que os especialistas batizaram de “condições sensíveis à atenção primária”. São aquelas doenças que, teoricamente, podem ser evitadas caso a população tenha acesso a bons cuidados básicos de saúde. Cuidados que, no SUS, são oferecidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou através de equipes da estratégia Saúde da Família (ESF), que envolvem visitas domiciliares. A ambição da atenção básica é acompanhar o indivíduo ao longo do tempo, para evitar que adoeça ou que seus males se agravem.

O Brasil evoluiu bastante nesse quesito nos 30 anos de existência do SUS. No conjunto da população, o número de internações por condições sensíveis à atenção básica caiu: em 2015, por exemplo, foram registrados 111 mil casos a menos que em 2009. Estudos publicados nos últimos anos indicam que esses avanços foram possíveis conforme a atenção básica se interiorizava pelo país, graças à expansão do Saúde da Família (segundo o ELSI, inclusive, os idosos com acesso à estratégia têm maiores facilidades para receber cuidados que aquele atendidos por outros modelos de atenção básica). Mesmo assim, segundo os pesquisadores, os dados do novo levantamento mostram que existe uma “janela de oportunidade” para evitar novas internações ao aprimorar a atenção primária.

Aprender a prevenir é importante porque evita o sofrimento de quem adoece e porque é mais barato. Em 2016, o SUS realizou 11 milhões de internações. Dessas, segundo um dos artigos produzidos a partir do ELSI, 36% envolveram pessoas com mais de 50 anos e consumiram 48,5% dos recursos destinados para esse fim. Conforme a população envelhece, a frequência de internações deve aumentar se não investirmos em prevenção - e os custos da saúde também . Será um caos para um universo de recursos limitados e para um sistema de saúde já subfinanciado.

Na avaliação dos pesquisadores envolvidos no ELSI, o país deve trabalhar para remover barreiras de acesso a saúde e fortalecer estratégias que já se mostraram eficientes, como o Saúde da Família. O diagnóstico está feito. Falta ao Brasil seguir a receita prescrita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário