Para cumprir expectativas, elas tendem a cuidar menos de si mesmas, o que prejudica a saúde cardiovascular: estudo foi realizado por pesquisadores da USP
GIULIANA VIGGIANO
29 OUT 2019
As cobranças da carreira profissional e dos familiarem afetam mais a saúde das mulheres que a dos homens, segundo uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). O estudo foi publicado no periódico científico Journal of the American Heart Association e foi resultado da pesquisa de doutorado de Priscila Teresa Peranovich Rocco.
Segundo as observações da especialista, para atenderem às expectativas da família e do trabalho, as mulheres cuidam menos de si mesmas e têm menos momentos de lazer. Isso faz com que se sintam mais estressadas, afetando consequentemente sua saúde cardiovascular.
Em entrevista à GALILEU, Itamar de Souza Santos, orientador da pesquisa, afirmou que eles não analisaram o porquê de as mulheres sofrerem mais as consequências das pressões sociais do que os homens, mas acredita que os papéis de gênero tenham interferência clara na questão. "A cobrança em relação à dedicação com os familiares ainda é culturalmente maior sobre as mulheres", diz o especialista.
Segundo ele, não é só o desejo de realização profissional que torna o trabalho tão importante para as mulheres, mas também a importância de seus salários na renda familiar. "A dificuldade de lidar com um cenário em que as demandas da família e do trabalho são excessivas pode ser, assim, especialmente conflituoso para as mulheres, e levá-las a reduzir o auto-cuidado e a dedicação a hábitos de vida mais saudáveis", explica Santos.
Gina Price Lundberg, diretora clínica do Emory Women's Heart Center, nos Estados Unidos, concorda. Em entrevista ao Medical News Today, a especialista, que não fez parte da pesquisa, disse que as mulheres sentem mais que os homens a necessidade de ter uma vida doméstica "estimulante". "Os homens estão ajudando mais do que nunca, mas acho que as mulheres que trabalham ainda sentem o estresse de tentar fazer tudo", aponta a médica.
A pesquisa
Para chegarem a essas conclusões, Santos e Rocco analisaram os dados de mais de 11 mil mulheres de seis capitais brasileiras. O estudo faz parte do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto), que começou em 2008 e conta com pesquisadores da USP, UFMG, UFRJ, UFBA, UFRGS e UFES. O trabalho tem o intuito de analisar determinantes e fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes.
"Dentre os potenciais determinantes das doenças cardiovasculares está o estresse psicossocial ligado ao trabalho, e há um grande interesse em compreender como essa modalidade de estresse influencia a saúde cardiovascular", diz Santos.
Segundo os especialistas, acabar totalmente com esse estado de tensão não é possível, mas a pesquisa pode abrir possibilidades para intervenções dentro do ambiente de trabalho com o objetivo de diminuir os impactos negativos do estresse. Como considerou o pesquisador, "saber lidar com essas situações é importante para reduzir as consequências negativas em nossas vidas".
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