Cinebiografia da mítica cantora, que estreia nesta quinta-feira no Brasil, marca retorno da atriz texana à tela como favorita ao Oscar 2020
MARÍA CONTRERAS
Londres - 30 JAN 2020
El País
Renée Zellweger, em cena de 'Judy - Muito além do arco-íris'. |
O caminho para o Oscar de melhor atriz desta temporada parece estar pavimentado com tijolos amarelos. Ou, melhor dizendo, dourados, a cor dos prêmios que estão chovendo para Renée Zellweger (Katy, Texas, 50 anos) por sua interpretação de Judy Garland no filme que marca sua volta triunfal a Hollywood depois de um retiro autoimposto de vários anos. Em Judy - Muito além do arco-íris, que estreia nesta quinta-feira no Brasil, a cantora se transforma numa lenda decaída, papel sob medida para impulsionar a atriz na temporada de prêmios. Graças a ele, Zellweger é favorita ao Oscar (seria o segundo de sua carreira) e ao Bafta depois de já ter obtido o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato de Atores (SAG). É paradoxal que, enquanto Judy morreu por uma overdose acidental de barbitúricos seis meses depois dos acontecimentos narrados nesta cinebiografia, a texana esteja vivendo o que a mídia em inglês batizou como The Renéessance (“Renéescimento”).
O desafio de retratar a atriz de O Mágico de Oz começou em 2017, quando o produtor David Livingstone lhe enviou o roteiro, baseado na peça End of the Rainbow, de Peter Quilter. Zellweger viu-se imersa no projeto quase sem estar consciente de tê-lo aceito. “Realmente não sei se aceitei. David e Rupert Goold, o diretor, me disseram: ‘Vamos experimentar uns looks e fazer algumas fotos, talvez cantar algumas canções, treinar um pouco a voz e talvez gravar algum tema’”, conta a atriz ao EL PAÍS na apresentação do filme em Londres. “Então reservaram algumas horas de estúdio em Abbey Road, e a isso sim que respondi: ‘Sim! Irei! Mesmo que seja só para poder bisbilhotar em Abbey Road, irei’.”
O desafio de retratar a atriz de O Mágico de Oz começou em 2017, quando o produtor David Livingstone lhe enviou o roteiro, baseado na peça End of the Rainbow, de Peter Quilter. Zellweger viu-se imersa no projeto quase sem estar consciente de tê-lo aceito. “Realmente não sei se aceitei. David e Rupert Goold, o diretor, me disseram: ‘Vamos experimentar uns looks e fazer algumas fotos, talvez cantar algumas canções, treinar um pouco a voz e talvez gravar algum tema’”, conta a atriz ao EL PAÍS na apresentação do filme em Londres. “Então reservaram algumas horas de estúdio em Abbey Road, e a isso sim que respondi: ‘Sim! Irei! Mesmo que seja só para poder bisbilhotar em Abbey Road, irei’.”
Em dezembro de 1968, Judy Garland tinha 46 anos, estava arruinada e sem casa, viciada em álcool e remédios, e batalhava pela custódia de seus filhos. Aceitou cinco semanas de shows numa casa noturna de Londres, The Talk of The Town, mas seu comportamento errático fez que cada noite ali fosse imprevisível: algumas vezes, alimentada pelo amor do seu público, se comportava como a estrela que sempre foi —o filme faz um aceno à sua condição de ícone da comunidade gay—; em outras, consumida pela falta de sono e por seus demônios e vícios, deixava o palco sob vaias. Zellweger achou interessante que um filme com alma de homenagem se centrasse na queda do mito, e não em sua ascensão. “Rupert queria contar a verdade sobre a vida de um artista e o custo que isso lhe acarretou", afirma. "Porque, se você não olhar os momentos difíceis de Judy, os desafios que ela enfrentou, as vezes em que vendo de fora parecia estar derrotada, é impossível perceber como ela foi verdadeiramente extraordinária.”
Para aperfeiçoar uma transformação que nunca cai na imitação ou na caricatura, Zellweger leu obsessivamente, passou horas no YouTube, estudou a postura corporal de Garland —um pouco encurvada— e reproduziu seus gestos e tiques. Mas, sobretudo, treinou com disciplina sua voz para poder interpretar ao vivo e com plateia os grandes sucessos de seu repertório, incluindo Over The Rainbow; algo que, para Goold, ligado ao teatro, era um requisito irrenunciável. “Ele procurava reproduzir essa magia indelével que as pessoas que viram Judy atuar recordam, essa energia compartilhada entre um intérprete e seu público... Queria que fosse verossímil, então tentou eliminar tudo o que não fosse necessário em relação a maquiagem ou qualquer outro artifício. Foi uma experiência muito crua, e me alegro com isso, porque se me deixassem eu teria trapaceado num monte de coisas”, ri. Nariz e dentes postiços, lentes de contato marrons e uma peruca estão entre os poucos truques usados por Jeremy Woodhead, responsável por cabelo e maquiagem, também indicado ao Oscar.
Quando criança, Judy foi maltratada por uma maquinaria desumana que a transformou em uma estrela à custa de sua saúde física e mental, e o filme reflete isso com uma série de flashbacks que deixam em péssimo lugar Louis B. Mayer (a comparação entre ele e Harvey Weinstein é “óbvia”, admite a atriz). “Pelo menos hoje estamos falando disso e questionando coisas a que antes não cogitávamos nos opor", aponta. "Quando as jovens chegam à maioridade e não conhecem um mundo com um teto de vidro, é inevitável que perguntem sobre desigualdades e por que têm que tolerar situações que são claramente abusivas.” Zellweger também pagou o pedágio da fama e sofreu o escrutínio constante dos meios sobre seu aspecto. Deixou o cinema entre 2010 e 2016 —retornou com O Bebê de Bridget Jones—, e não está muito segura de que a indústria que a recebeu de braços abertos seja tão diferente da que abandonou há uma década para se cuidar mais, viajar, estudar, escrever um piloto para uma série, fazer ativismo feminista e, em suma, reordenar suas prioridades: “Não leio nada, não interajo muito, e meu círculo não é de Hollywood. Viajo, saio para passear com meus cachorros, estou sozinha frequentemente, e minha ideia de sair é jogar cartas com amigos, escrever juntos, compartilhar ideias ou tocar música. Então fica difícil para mim avaliar se mudou.”
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