16/01/2020
Liang Jung, que era ícone nacional na China desde que de se tornou a primeira mulher a dirigir trator no país, morreu aos 90 anos nesta semana.
Quando se matriculou em um curso para dirigir tratores, em 1948, era a única mulher da turma.
Uma década depois, sua imagem orgulhosamente sorrindo e dirigindo um trator passou a estampar uma das cédulas, a de um yuan, a moeda corrente na China.
Uma década depois, sua imagem orgulhosamente sorrindo e dirigindo um trator passou a estampar uma das cédulas, a de um yuan, a moeda corrente na China.
"Ninguém conseguia dirigir tão bem quanto eu", disse Liang Jung uma vez em entrevista. "Não tenho arrependimentos nesta vida."
Ela nasceu em 1930 na casa de uma família pobre, na remota província de Heilongjiang. Enquanto frequentava uma escola rural, ela ajudava a família a cuidar da fazenda.
Quando uma escola local abriu um curso para treinar motoristas de trator, em 1948, ela não perdeu tempo.
Segundo a mídia chinesa, havia 70 alunos na turma — e Liang Jun era a única mulher. Após concluir o treinamento, ela se tornou a primeira motorista de trator do país.
Um ano depois, o líder comunista Mao Tsé-tung anunciou a criação da República Popular da China.
Michael Bristow, editor do serviço mundial da BBC para a região Ásia-Pacífico
Em outras eras, nobres, poetas e líderes militares eram os mais admirados na China. Mas quando os comunistas tomaram o poder em 1949, nasceu um novo tipo de herói — o trabalhador modelo, um conceito já em uso na União Soviética.
O Estado chinês promovia indivíduos pobres e trabalhadores cuja dedicação à construção de um país socialista era apresentada como um exemplo à população.
Liang Jun foi uma dos primeiros desses trabalhadores modelos. Seu sorriso contagiante na nota de 1 yuan deveria servir de inspiração a outros trabalhadores.
Ela não derrubou apenas barreiras de classe. Liang Jun se tornou um símbolo para todas as mulheres chinesas e das possibilidades que agora se abriam para elas. Ela própria fez pleno uso dessas oportunidades: se tornou engenheira e política.
Liang Jun ingressou então no Partido Comunista da China e depois foi enviada para Pequim para aprender mais sobre máquinas agrícolas.
Em seguida, voltou para Heilongjiang e foi designada para trabalhar no Instituto de Pesquisa em Maquinaria Agrícola.
Em 1962, o país começou a imprimir as cédulas com uma imagem dela.
O partido estava dando importância ao recrutamento de mulheres — especialmente das áreas rurais — para a crescente força de trabalho do país.
Apresentar mulheres em várias ocupações era uma maneira de promover isso — e "nenhuma ocupação foi mais promovida que a da motorista de trator", de acordo com o Oxford Handbook of History of Communism.
A história de Liang Jun também era divulgada em livros didáticos, e diz-se no país que ela inspirou dezenas de outras mulheres a se tornarem motoristas de trator.
Em 1990, a chinesa se aposentou do cargo de engenheira chefe do departamento municipal de maquinaria agrícola de Harbin, concluindo sua trajetória de várias décadas na indústria.
Nos últimos anos, Liang Jun lutou contra várias doenças.
Seu filho, Wang Yanbing, anunciou que ela morreu "pacificamente" na segunda-feira.
"Ela precisou lutar muito", disse ele a um veículo da imprensa de Harbin. "Ela sempre ficava mais feliz quando as pessoas se referiam a ela como a primeira motorista de trator da China."
Na rede social Weibo, Liang Jun recebeu homenagens, com sua morte sendo um dos principais assuntos comentados.
"Ela mostrou que tudo o que os homens podem fazer, as mulheres também podem fazer", dizia um comentário na rede.
"Adeus a essa mulher que sustentou metade do céu", exaltava outro, fazendo referência a uma frase célebre de Mao Tsé-tung.
"Ela trabalhou duro e se tornou a heroína de sua geração. Adeus, Liang Jun. Saudamos você."
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