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sábado, 29 de fevereiro de 2020

As questões que nunca te contaram sobre os relacionamentos

Falamos muito sobre o amor e pouco sobre como colocamos as relações em caixinhas de boas ou ruins.

TAMO JUNTO
Stefani Sousa
01/22/2020

Quem nunca teve um relacionamento complicado que atire a primeira rosa, afinal, amores sofridos são um clássico do cinema e uma narrativa digna de novelas. Mas, e na vida real, precisa mesmo ser assim?
O que faz de um relacionamento algo bom? Quando é hora de colocar um ponto final? O medo da solidão nos aprisiona? Algo que começou ruim pode melhorar?
Enquanto seres humanos, nós vivemos processos. Da infância à velhice, são incontáveis as fases pelas quais passamos. E em cada uma delas cabe a dor e a delícia das experiências que vivemos. Engana-se, no entanto, quem pensa que amadurecer é algo linear e agradável o tempo inteiro. E isso também é uma realidade para os nossos relacionamentos.
“A vida tem momentos de crise e sempre que mudanças radicais surgem, são vividas como algo que incomoda. Por isso não podemos confundir relacionamento saudável com relacionamento confortável”, explica Iana Ferreira, psicóloga que trabalha com terapia familiar e de casais.
“Para ser saudável, um relacionamento precisa ser um campo propício para o desenvolvimento interno de todos os envolvidos”, completa.

Enquanto valores sociais e morais estabelecem o que seria um relacionamento perfeito, estamos sempre criando a necessidade de buscar culpados quando algo não acontece da forma que esperamos. Mas será possível existir um único vilão quando, na realidade, o relacionamento é sempre vivido em conjunto — a dois?
“Relacionamentos são uma série de acordos feitos por pessoas e, a não ser que alguém esteja em uma relação como refém, o que evidentemente pode acontecer, mesmo que um esteja errando, existe também o permissor, que deixa a situação se perpetuar e repetir”, alerta Ferreira.
“Um relacionamento, para ser saudável, precisa ser um campo propício e favorável para o desenvolvimento interno de todos os envolvidos.”
- IANA FERREIRA, PSICÓLOGA

Sobre mudanças e expectativas em uma relação

Mas será que um relacionamento é capaz de mudar alguém? Quando Kathleen Silva, de 20 anos, começou a contar sua história, o que parecia um relacionamento ideal foi se desenhando uma relação permeada por tristeza e solidão.
“Desde o começo do relacionamento, eu não podia fazer nada, saia só com ele, passava os finais de semana em sua companhia e tinha caminho certo todos os dias: ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Ele não me respeitava”, relata a estudante ao HuffPost.
Ainda assim, a estudante acreditava que uma hora ou outra as coisas poderiam dar certo e persistiu na relação. Às vezes, temos uma ideia fixa de que somos capazes de transformar o nosso parceiro em alguém melhor ou mais adequado para nós mesmas.
Pode parecer egoísmo, mas, na maioria dos casos, o sentimento tem origem no medo de abrir mão da relação. Para situações assim, vale o velho ditado de que alguém só muda se quiser. É o que explica a psicóloga:
“Não existe um momento da vida em que um indivíduo possa se transformar mais do que quando ele está fazendo parte de uma relação mais profunda. O relacionamento íntimo e amoroso, movido pela intensidade do desejo de estar com alguém que se gosta, é um impulso para transformações internas, mas não é o outro que me modifica, nem eu que modifico o outro”, explica Ferreira.
Por outro lado, tendemos a desistir das pessoas na primeira dificuldade. Na geração em que o Tinder permite um cardápio de contatinhos, por que ter paciência com alguém que é diferente da gente?
Para Ferreira, a grande questão é pensar que ninguém é perfeito. A mudança vem se há espaço e disposição de cada um dos indivíduos.
E foi o que aconteceu com Kathleen Silva. Ao perceber que estava em um relacionamento que não lhe fazia bem, ela decidiu se afastar do então companheiro.
“No lugar de pensar se um relacionamento é capaz de transformar alguém, não seria melhor pensarmos sobre o quanto nós, ou os nossos parceiros, estamos disponíveis para de fato repensar as nossas atitudes, os nossos padrões de comportamento?”
O tempo e o espaço foram suficientes para que o casal repensasse a dinâmica do relacionamento e, tempos depois, eles reataram a convivência. Atualmente, a jovem conta que está feliz com o namoro, mas foram precisos ajustes de ambas as partes,
No lugar de pensar se um relacionamento é capaz de transformar alguém, não seria melhor pensarmos sobre o quanto nós, ou os nossos parceiros, estamos disponíveis para de fato repensar as nossas atitudes, os nossos padrões de comportamento?
“A estagnação, o não crescimento e o fato de não ser uma relação construtiva são fatores que determinam se uma relação é prejudicial, tóxica e não saudável”, explica a psicóloga.

Quando as opiniões dos outros afetam nossas escolhas

Lara Vicente e Fernando Thomaz estão juntos há 7 anos. Os 2 já ouviram milhares de vezes que o namoro não daria certo. Eles seriam muito diferentes um do outro e a relação não tinha futuro aos olhos de amigos e parentes.
A situação, vivida por Lara e Fernando, não é muito diferente do que vivem muitos casais. Frequentemente, nos pegamos com a seguinte questão: o quanto a nossa validação dos relacionamentos passa pelo olhar de terceiros?
“A sociedade interfere o tempo todo nas nossas relações. Não existe nada que esteja desconectado do coletivo. Estamos imersos em uma sociedade que imprime padrões, modelos, anseios e objetivos que vêm de fora para dentro das nossas vidas. O desafio é lidar com as escolhas: o quanto eu realmente deixo do coletivo entrar e o quanto tenho força suficiente para me opor a isso?”, questiona Ferreira.
É claro, nem tudo o que vem de fora é ruim, mas filtrar como essas opiniões vão te impactar é fundamental. É um exercício de amadurecimento, para qualquer pessoa que está em uma relação, checar se faz sentido ou não levar os comentários alheios em consideração.
“Se você nunca escuta a opinião dos outros ou sempre as escuta, existe uma polaridade, o que é um problema. Se eu dependo muito da opinião de outros ou se sou completamente blindada ao que vem de fora, há uma questão a ser trabalhada”, adverte a psicóloga.
Compreender esse filtro foi fundamental na história de Lara e Fernando, hoje noivos aos 24 anos. Entre idas, vindas, erros e acertos, o rapaz conheceu outras pessoas, histórias e pensou em desistir. “Ficamos um tempo separados, fui viver novas experiências e entendi que dividir a vida com alguém era o que eu realmente queria”, disse.
E sobre julgamentos, Gabriele Baptista, de 21 anos, também entende. É que ao decidir se casar com o namorado, com quem sempre teve um relacionamento saudável, deixou muitas pessoas surpresas.
“Vi muitos comentários de preocupação e tudo bem, mas com o tempo virou intromissão. Diziam que eu era muito nova, que poderia não dar certo e que só no casamento eu descobriria quem realmente era meu namorado”, conta.
Ela se viu sendo julgada publicamente por sua decisão e, com o tempo, parou de compartilhar sobre a união porque ficava triste com as reações daqueles que em tese eram amigos.
“Por sermos muito novos e cristãos, diziam que estávamos casando só para fazer sexo e com isso rolavam muitas piadas e deboche, não respeitavam nem a questão da idade e nem a minha fé”, declarou.
Para a jovem, tratar os comentários como algo desimportante foi a melhor opção. “Não deixava que isso entrasse no meu coração. Sempre preferi olhar para as pessoas que estavam felizes por nós”, finaliza.
Na contramão do que se espera de sua geração, a decisão pelo casamento assusta. Por outro lado, a sociedade também estimula, principalmente para as mulheres, que o caminho da felicidade está em encontrar a sua dita “alma gêmea”. Afinal, conviver com a solitude ainda é um grande tabu.
“O medo de ficar sozinho leva as pessoas a fazerem concessões muito radicais e abrirem mão de aspectos essenciais da própria vida. A única forma de estar bem acompanhado é lidando com a solidão, na certeza de que ela existirá mesmo dentro de um relacionamento”, explica a psicóloga Iana Ferreira.
A realidade é que muita gente não sabe lidar com a própria companhia e tenta preencher determinados vazios a todo custo — muitas vezes, alimentando relacionamentos que não são nada construtivos.
“A única forma de estar bem acompanhado é lidando com a solidão, na certeza de que ela existirá mesmo dentro de um relacionamento.”
- IANA FERREIRA, PSICÓLOGA

Existe relacionamento certo e errado?

Mas, afinal, quando um amor começa muito desafiador, incômodo e cheio de obstáculos, ele pode encontrar uma saída?
Para a psicóloga, a resposta é sim. “Pode ser um momento de crescimento, então a questão é saber se existem recursos internos para que o casal enfrente isso e cuide das necessidades de ambas as partes”.
Problemas que a gente considera o fim do mundo são, na maioria das vezes, contornáveis. Estamos acostumados a pensar que cada indivíduo já vem com uma espécie de manual de instruções, mas a verdade é que é necessário enfrentar as frustrações, tanto nossas quanto de nossos parceiros.
Em uma relação é muito importante saber diferenciar o que é seu, o que é do outro e o que é coletivo. Quando os papéis são estabelecidos e nos lembramos que nós não temos o controle de tudo, o fluxo tende a ser mais leve.
E o segredo para isso? A maturidade e a responsabilidade emocional.
Não é fácil, né?!
Mas só é nos relacionando que nossas relações vão efetivamente melhorar.

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