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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Brasileira se destaca em Israel com blog sobre vida no deserto


Por:Daniela Kresch
A paisagem do deserto ainda é deslumbrante para a publicitária e escritora paulista Nurit Masijah Gil, de 39 anos. Há pouco mais de um ano, ela se mudou com o marido e os dois filhos para um vilarejo no sul de Israel com menos de 1.000 habitantes e no meio do deserto do Aravá, uma enorme vastidão de aridez próxima à fronteira do Egito.
Da correspondente da RFI em Tel Aviv
15/02/2020

Mas foi justamente lá, no isolamento do deserto, que Nurit começou a se destacar como titular de uma coluna no jornal israelense “Times of Israel”. Tudo começou depois que ela se envolveu com ativistas que lutavam conta a construção de uma pedreira do lado de seu vilarejo. Nurit escreveu um texto emocionante contra a pedreira e o jornal publicou. Daí veio o convite para assinar uma coluna falando da vida de uma imigrante brasileira, mãe de dois filhos, no deserto.
“Maternidade é o que eu escrevo por impulso, mas eu escrevo de tudo um pouco”, conta Nurit, nome em hebraico da flor botão-de-ouro. “Cada vez que eu publico um texto, principalmente aqueles que acabam tendo um retorno maior, as pessoas procuram através das mídias sociais, no Facebook, no Linkedin, e surgem novos projetos. É bem bacana. No Linkedin você consegue ver quantas pessoas visualizam o meu perfil. Cada vez que eu publico, acontece um pulo no gráfico. É bem interessante. Esses textos geram uma repercussão, porque as pessoas se identificam, às vezes é o que elas estão sentindo e não conseguem expressar e eu consigo escrever o que eu estou vivendo.”
Nascida em São Paulo, Nurit passou 14 anos em Gravataí, no Rio Grande do Sul. Ela se formou em publicidade pela FAAP, em São Paulo. Depois, fez MBA na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Já formada, ela trabalhou em pequenas e médias empresas e ainda em multinacionais na área de marketing. No Rio Grande do Sul, no entanto, se reinventou ao abrir uma loja virtual de decoração infantil.
Mas nada se compara à reinvenção profissional depois que ela e o marido decidiram sair do Brasil, decepcionados com os rumos do país. Em 2017, eles decidiram que o destino do casal e dos filhos, uma menina de 10 anos e um menino de 8 anos, estava em Israel.
Primeiro, ela morou perto da moderna e cosmopolita Tel Aviv, onde seu marido, um oftalmologista, trabalhava. Mas, em 2019, ele foi convidado para assumir a oftalmologia na cidade turística de Eilat, no extremo sul de Israel. Nurit empacotou a casa e os filhos novamente para morar no vilarejo de Be’er Orá, a 20 km de Eilat. Mas morar no deserto não é para qualquer um.
"Vida no deserto é ame ou odeie"
“É ame ou odeie”, resume Nurit. “E a gente ama, mas é muito diferente. Primeiro, é diferente a paisagem, a gente não está acostumado com ela. Na primeira vez que eu vim para cá, achei: ‘Nossa, imagina essas pessoas que moram no meio do deserto?’. Hoje, eu sou apaixonada. Acho que o deserto tem uma energia incrível, eu amo morar aqui. Mas a gente está longe de um monte de serviços, tem muitas faltas aqui. A gente está muito isolado em muitos aspectos. Mas, por outro lado, além de toda essa energia do deserto, a vida aqui tem um outro passo, se for comparar com o resto de Israel. Ela acontece, mas devagar. A vida comunitária é intensa, parece uma cidade do interior.”

No Brasil, Nurit não parava quieta. Em 2014, ela escreveu um livro infantil chamado "A senhora prefeitinha em outros textos", que está esgotado, com crônicas sobre a maternidade. Paralelamente, ela idealizou, com o escritor carioca Robertson Frizero, o site "Pode gritar" (https://podegritar.wordpress.com/), para dar visibilidade a pessoas que sofreram abuso sexual. O site recebe relatos que são reescritos por escritores voluntários e publicados anonimamente.
“Nem os escritores sabem o nome verdadeiro da pessoa, porque o intuito do projeto não é fazer uma denúncia formal, é fazer uma denúncia para a sociedade do abuso sexual, que é uma coisa que acontece debaixo do nosso nariz, mas que as pessoas, por culpa ou por vergonha, por ser um crime que envolve sentimentos muito conflitantes, as pessoas não denunciam", explica a escritora. “Na verdade, a ideia do projeto é que as pessoas gritem a dor delas, que elas tenham pela primeira vez a possibilidade de falar, de, na cabeça delas, mudar o protagonismo da situação. Então, daí a gente publica o relato delas reescrito, anônimo, tanto no site quanto na página do Facebook e do Instagram, e sempre a chamada do relato é a frase mais forte usada na história delas.”
Nurit não se considera uma “brasileira típica”, extrovertida e faladeira. Mas ela percebe que ser brasileira é uma vantagem em Israel, o que ajudou em seu sucesso como blogueira no país e produtora de conteúdo em português.
“O israelense, ele tem um carinho enorme com brasileiro. Primeiro, quando você começa a falar, perguntam: ‘Da onde é o seu sotaque?’. Eles amam, eles olham e já dão um sorriso. Não abre portas, não faz diferença, mas eu acho que você é recebida com mais carinho. Acho que é uma imigração que os israelenses gostam.”

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