Os homens precisam reaprender novos rituais e práticas para normalizar as demonstrações de amor.
TAMO JUNTO
Jeff Perera
02/28/2020
Nunca tinha dito as três palavras para o meu pai até o momento em que coloquei um urso polar de pelúcia no caixão dele. Isso aconteceu quase 20 anos atrás, mas até hoje me pego balbuciando as três palavras nas visitas que faço ao meu irmão e aos meus dois sobrinhos pequenos.
Quando ditas de um homem para outro fora de um relacionamento romântico ou sexual, as três palavras parecem fazer o mundo parar por um instante. Mesmo assim, ao longo da minha vida, gostaria de tê-las dito para vários homens.
Quando ditas de um homem para outro fora de um relacionamento romântico ou sexual, as três palavras parecem fazer o mundo parar por um instante. Mesmo assim, ao longo da minha vida, gostaria de tê-las dito para vários homens.
As palavras podem parecer um animal preso durante anos, até que finalmente elas conseguem escapar da jaula dentro do seu peito.
As Três Palavras: “Eu te amo”.
Por que é tão difícil para os homens dizer ‘eu te amo?’
A morte de uma figura tão querida e marcante quanto Kobe Bryant afetou especialmente seu ex-companheiro de equipe Shaquille O’Neal. Vimos O’Neal chorando enquanto contava as várias pessoas queridas que ele havia perdido nos últimos anos (incluindo sua irmã). Mas foi a morte de Bryant que o fez perceber a importância de dizer aos homens de sua vida o que eles significam para ele.
Qualquer um pode ter dificuldades para demonstrar afeto, mas por que é necessária uma tragédia para que muitos homens se façam emocionalmente presentes em suas próprias vidas e nas vidas dos homens que amam?
Isso tem origem no começo da vida adulta. Estou me referindo a faixa dos 20 e poucos ano, de acordo com a pesquisa de Niobe Way, que Andrew Reiner escreve “muitos meninos, especialmente aqueles no começo ou no meio da adolescência, desenvolvem amizades profundas e significativas, rivalizando facilmente com as meninas em termos de honestidade emocional e intimidade. Mas a sociedade acaba arrancando deles essa vulnerabilidade (quando eles chegam aos 15 ou 16 anos).”
“Como homens e jovens homens, queremos, precisamos e almejamos conexões profundas, seja aos 16 ou 60 anos.”
Chega um dia em que os jovens param de formar laços afetivos e começam a se conectar de uma maneira diferente: provocando, fazendo bullying, enchendo o saco um do outro ― o que, em vez de mostrar afeto, pode causar mais problemas. Atos dizem muito, mas palavras não-ditas podem ecoar por toda a vida.
Fisicamente, a sociedade dá aos homens um vocabulário incompleto. Muitas vezes isso literalmente significa manter distância um do outro. Os homens mal se abraçam. Os cumprimentos são rituais vazios, como um toque dos punhos cerrados, acenos rápidos ou até mesmo um “meio abraço”, sem nenhuma intimidade.
Os homens são programados a acreditar que vulnerabilidade significa “fraqueza” e que devemos expor nossos medos somente em caso de conexão romântica ou possíveis vantagens sexuais.
Como uma corrente estranguladora, essa ideia nos segura quando estamos prestes a passar por momentos de vulnerabilidade entre homens. Essa incapacidade de nos abrir com outros homens pode criar a sensação de estarmos emocionalmente estagnados, mesmo quando entre amigos.
Como homens e jovens homens, queremos, precisamos e almejamos conexões profundas, seja aos 16 ou 60 anos, mas o isolamento social dos homens é uma preocupação crescente.
Nossa necessidade de pertencer a algo maior significa que alguns jovens estão suscetíveis a tentativas de radicalização por parte de movimentos de ódio, que buscam justamente quem tem dificuldades emocionais. E também existem riscos para nossa saúde física e mental, agora e quando estivermos mais velhos – incluindo declínio cognitivo, depressão e doenças cardíacas, segundo o National Institute on Aging.
Palavras sinceras, que vêm do coração, ajudam a construir pontes. Isso significa quebrar as barreiras que nos impedem de desenvolver uma fluência emocional para dizer o que você quer realmente dizer, especialmente “Eu te amo”.
É preciso treinar todos os dias a dizer “eu te amo”
Algumas mulheres celebram suas amizades mais próximas um dia antes do Dia dos Namorados. Anos atrás, sugeri que os homens deveriam fazer o mesmo, usando este dia para aprender novas maneiras de honrar, cultivar a nutrir nossas amizades masculinas por meio de momentos de vulnerabilidade.
Deveríamos dizer “Eu te amo” o tempo todo. E, sim, libertar-se do condicionamento social exigem treino. Acordar esses músculos leva tempo, mas podemos nos ajudar uns aos outros, como fazemos na academia.
“Se você ama os homens da sua vida, não espere para dizer isso para eles.”
Se você ama os homens da sua vida, não espere para dizer isso para eles.
Os homens podem aprender novos rituais e práticas para normalizar as demonstrações de amor. Não se trata de falar do que está errado conosco, mas sim em focar no que podemos fazer para preencher esse vazio interior.
Sugiro que, todos os dias, você:
Separe um tempo para examinar seus sentimentos. Entre em sintonia com as suas necessidades e o que você gostaria de dividir ou discutir com outros homens.
Converse com um amigo, e pergunte como ele está se sentindo. Preste atenção na resposta. Dedique a mesma atenção e esforço que você dedica ao trabalho ou aos seus relacionamentos românticos. Isso ajuda a cultivar a amizade.
Conversem sobre o que é necessário para que vocês se abram mais um com o outro. Discutam um aprofundamento da confiança mútua, para que você tenha mais confiança para as conversas profundas. É bem provável que seu amigo também tenha uma expectativa semelhante.
Comece com palavras, depois passe para as ações. Que tal um abraço de verdade, em vez de um meio abraço? Que tal dizer para seu amigo que você precisa conversar? Que tal não mudar de assunto quando seu amigo se abre com você? A verdadeira força está em colocar para fora as palavras trêmulas que você quer dizer.
E finalmente...
Diga as Três Palavras!
Alguns anos atrás passei por um período difícil na minha vida. Tenho a sorte de ter em minha vida várias mulheres incríveis que trabalham em crescimento, cura e mudança. Elas foram as primeiras pessoas que procurei, mas dei-me conta do que estava fazendo e decidi que seria importante ter essas conversas sinceras e genuínas com os homens da minha vida. Isso levou a um aprofundamento dos nossos relacionamentos – e nos permitiu dizer que nos amamos um aos outros.
Não basta dizer aos homens que eles têm de ser atenciosos, ter empatia, sempre esperar consenso e assim por diante. Temos de dar o exemplo. Isso vale para mim e para você.
Então, diga as Três Palavras. Se você ama os homens da sua vida, não espere para dizer “eu te amo” para eles.
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.
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