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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

"Os jovens talentos não querem voltar"

Professora da USP reclama que 2018 foi um desastre para a ciência e a tecnologia, mas cita pesquisas sobre zika, doação de órgãos e envelhecimento como esperança para o futuro
Para a ciência e tecnologia do Brasil, em geral, o ano de 2018 foi um desastre. Houve corte de verbas, e muitos jovens cientistas foram embora do país, porque não havia perspectivas. Os recursos para pesquisas científicas sofreram cortes enormes nos últimos três anos. Eu recebia muitos e-mails de brasileiros que estavam foram e voltariam para o país, mas nunca mais recebi nenhum. Os jovens talentos não querem mais voltar. Meu grupo é uma exceção porque conseguiu aprovar em 2018 projetos muito bons financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e por parcerias entre a universidade e a iniciativa privada. Mas, infelizmente, não posso dizer que isso aconteceu com todos. Chegamos ao fundo do poço em recursos para ciência e tecnologia no país. São Paulo é uma exceção, porque conta com o apoio da Fapesp, mas mesmo ela sofreu cortes. O resto do Brasil viveu um ano de luto, com muitas perdas. Vamos sentir os efeitos desses cortes no futuro.

Apesar disso, estou otimista para o próximo ano. O futuro ministro de Ciência e Tecnologia disse a um grupo de cientistas que quer aumentar o percentual do PIB gasto com o setor e, pelo que entendi, pretende se aproximar da academia e dos cientistas. Há ainda a perspectiva de que, com o combate à corrupção, a economia melhore e isso cause um impacto positivo em todas as áreas. Outro ponto que precisamos rever daqui para a frente é a ideia de que só o governo deve bancar pesquisa. Precisamos incentivar a iniciativa privada a fazer mais parcerias com as universidades, por meio de incentivos fiscais e da diminuição da burocracia. Se tudo isso acontecer, entraremos em uma espiral positiva de desenvolvimento.
Em 2018, tivemos vários projetos importantes e promissores. Em um deles, mostramos que o vírus da zika pode destruir tumores cerebrais. A pesquisa, que publicamos neste ano, foi capa da revista Cancer Research, e estamos muito animados com essa perspectiva. Tivemos um novo projeto em colaboração com a iniciativa privada e a Fapesp de fazer porcos transgênicos que possam ser usados para a doação de órgãos. A ideia é usar a tecnologia de edição genética para modificar os genes dos porcos a fim de que se tornem doadores de órgãos para os seres humanos. Outro projeto que me anima para o próximo ano é estudar o envelhecimento. Queremos estudar pessoas que são saudáveis aos 80, 90 e 100 anos e entender o que as mantém assim, apesar do envelhecimento. Nossa expectativa de vida está aumentando, e queremos envelhecer com qualidade.
Mayana Zatz é professora titular de genética da USP e diretora do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco

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