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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Cultura machista impulsiona quem explora sexualmente crianças e adolescentes


Especialistas apontam falta de consciência, facilidades e objetificação da ‘novinha’ como gatilhos para o crime

Exploração sexual de crianças e adolescentes afeta 500 mil por ano Foto: Editoria de Arte
Exploração sexual de crianças e adolescentes afeta 500 mil por ano Foto: Editoria de Arte

RIO - Os criminosos que exploram crianças e adolescentes sexualmente se valem de um contexto que favorece o crime: uma mistura de impunidade com falta de informação e de consciência, em meio a uma cultura machista. A maioria deles não tem o transtorno psiquiátrico conhecido como pedofilia —que tampouco excluiria a culpa, como explica o psiquiatra Danilo Baltieri.

— Ser portador de pedofilia não é desculpa. Existem tratamentos. Se houver ato, é crime — diz Baltieri, fundador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC. — De cem molestadores de criança, 80 não sofrem transtorno pedofílico. É uma minoria. 
O psiquiatra fez um estudo com abusadores na penitenciária de Sorocaba (SP) no qual ouviu mais de 2 mil homens e conheceu suas maneiras de ver o crime.  
— O denominador comum é o que chamamos de distorção cognitiva. Eles acreditam que a criança é um ser sexual, aprecia sexo. Dizem coisas como “ele estava olhando para minha braguilha”, “ela estava vestida de forma sensual”. Criam uma distorção de que a criança quer, tem desejo, provoca, que eles estão ensinando e não fazendo mal.
Segundo especialistas, a maior parte desses abusos não ocorre de forma programada. Uma viagem de trabalho, por exemplo, pode criar uma situação de anonimato em que, quando a oferta surge, o sujeito sente-se sem amarras. O isolamento em canteiros de obras ou na estrada, permeado por uma cultura machista que cobiça as “novinhas”, também favorecem a barbárie. 
Em 2006, a ONG Childhood Brasil apurou que 37% dos caminhoneiros haviam feito sexo por dinheiro com uma menor no ano anterior. Criou, então, um programa para conscientizar os motoristas, investindo ainda na melhoria das condições de trabalho. Em 2015, o número já era de 13%. 
Eva Dengler, gerente da Childhood Brasil, aponta a impunidade como um agravante e defende mais conscientização sobre a gravidade do ato. 
— A maioria sabe que não vai ser presa. O que vai resolver o problema é ele compreender por que não fazer. Ensinar sobre o corpo dela, aspectos psicológicos da criança, o desenvolvimento dela. 
Ensinar as vítimas e quem as cerca é igualmente importante. Em 2018, o Instituto Liberta fez 180 rodas de conversa com professores de São Paulo, conscientizando e mostrando como acionar Ministério Público e Conselho Tutelar. Depois disso, houve aumento de 300% nas denúncias. Para Luciana Temer, presidente do Liberta, é preciso falar sobre sexo “cada vez mais e de forma transparente nas escolas”.  

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