Decidir fazer ou não um aborto pode ser uma das decisões mais difíceis da vida de uma mulher. Em situações ideais, o procedimento pode ser feito em uma clínica médica especializada, ou tomando dois remédios específicos. Aí está feito. Mas agora, instituições estão prometendo “reverter o aborto” e dar continuidade à gravidez.
No Brasil, o aborto induzido só é permitido por Lei se a gravidez representar risco para a vida da gestante – caso seja resultado de estupro ou se o feto for anencefálico (não possuir cérebro).
No Brasil, o aborto induzido só é permitido por Lei se a gravidez representar risco para a vida da gestante – caso seja resultado de estupro ou se o feto for anencefálico (não possuir cérebro).
Nos Estados Unidos é diferente. O aborto é legalizado com restrições e especificidades da Lei de cada estado. Após passar por uma série de exames e consultas, a mulher pode optar pelo aborto.
No caso dos remédios, a paciente deve tomar o primeiro medicamento, chamado mifepristona, nas primeiras dez semanas de gravidez. A substância bloqueia a progesterona, hormônio responsável pela manutenção da gestação e fixação do feto na parede do útero. Depois de um ou dois dias, a mulher toma a segunda pílula, de misoprostol, que causa um sangramento e expulsão do feto.
É aí que a “reversão do aborto” entra. Ativistas antiaborto afirmam que, se a mulher ainda não tiver tomado a segunda pílula, ela pode reverter o procedimento. Algumas clínicas oferecem altas doses de progesterona para as mulheres “retomarem” a gravidez.
Oito estados americanos exigem que os médicos ofereçam essa opção para mulheres que buscam pelo aborto. O problema é que esse procedimento pode ser extremamente perigoso para as mulheres.
Segundo a Associação Americana de Obstetras e Ginecologistas, tratamentos de reversão do aborto não são sustentados pela ciência: as poucas pesquisas existentes a favor da reversão não possuem o rigor científico e ética necessários.
Um estudo feito com 40 mulheres pretendia verificar se introduzir progesterona após a primeira pílula realmente interromperia o aborto de maneira eficaz e segura. As participantes – que já haviam optado pelo aborto cirúrgico após a finalização da pesquisa – tomaram a primeira pílula e em seguida receberam ou a dose de progesterona ou um placebo.
Acontece que a pesquisa não pôde ser concluída. Apenas 12 participantes haviam começado o procedimento quando ele precisou ser interrompido para preservar a segurança e a saúde das mulheres. Três participantes tiveram hemorragias fortes ao deixar de tomar a segunda pílula.
A hemorragia faz parte do processo de aborto, mas o sangramento sofrido pelas pacientes foi muito mais grave que o esperado. As três precisaram receber tratamento de emergência – uma delas precisou de transfusão de sangue.
Duas dessas mulheres haviam recebido a progesterona, e uma tinha tomado o placebo. Ou seja, o mero fato de não tomar o segundo medicamento, com ou sem o uso de progesterona, já leva a um risco de hemorragia grave, que coloca a vida em risco.
A Associação Médica Americana se opõe fortemente às leis que exigem que os médicos ofereçam a reversão do aborto às pacientes. “Somos contra qualquer lei ou regulação que limite nosso direito de conversar honestamente com os pacientes sobre sua saúde e tratamentos. Essas leis obrigam profissionais a dar informações falsas e sem evidências às pacientes”, disse a presidente da associação Patrice A. Harris ao Washington Post.
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