A MENINA EDUARDA, DE 8 ANOS, PRESENCIOU O ASSASSINATO COMETIDO POR SEU PRÓPRIO PAI EM 2016; CASOS DE MULHERES MORTAS POR SEUS PRÓPRIOS MARIDOS AFETAM DIRETAMENTE 2 MIL PESSOAS POR ANO NO BRASIL
“A pessoa que me disse (para não contar) foi meu pai. Que ele matou minha mãe”, narrou, chorando, Eduarda, diante dos sete jurados no tribunal. A menina tinha 8 anos quando participou como testemunha do julgamento do assassinato de Josilene Ferreira de Araújo, de apenas 23 anos, sua mãe. Com a ajuda de uma psicóloga, a menina contou o que vira naquela noite de junho de 2016, no bairro da Paz, em Manaus, onde morava a família. O testemunho de Eduarda, hoje uma menina calma, de sorriso tímido e olhos vivos, foi considerado decisivo para condenar o pai, Diego Pacheco.
“Ele deu uma facada no pescoço, depois tirou ela para botar no outro quarto e botou um lençol em cima dela. Ele botou um travesseiro na cara dela para ela não respirar”, contou Eduarda. Se tragédias como a de Josilene começaram a ser contabilizadas em 2015, quando a legislação brasileira passou a classificar como feminicídio o assassinato em que o fato de a vítima ser mulher é determinante para o crime, o drama dos órfãos dessas famílias permanece invisível. Em muitos casos, perdem ao mesmo tempo a mãe, morta, e o pai, preso pelo crime hediondo.
“Ele deu uma facada no pescoço, depois tirou ela para botar no outro quarto e botou um lençol em cima dela. Ele botou um travesseiro na cara dela para ela não respirar”, contou Eduarda. Se tragédias como a de Josilene começaram a ser contabilizadas em 2015, quando a legislação brasileira passou a classificar como feminicídio o assassinato em que o fato de a vítima ser mulher é determinante para o crime, o drama dos órfãos dessas famílias permanece invisível. Em muitos casos, perdem ao mesmo tempo a mãe, morta, e o pai, preso pelo crime hediondo.
Eduarda e o irmão, ela aos 9 anos, ele aos 8, não estão sequer nas estatísticas, simplesmente porque inexistem dados a respeito dos filhos das vítimas. Nesta reportagem, as crianças serão identificadas com nomes fictícios para proteger ao menos sua identidade, já que o país não conseguiu proteger sua infância. A pedido de ÉPOCA, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública projetou que, todo ano, os feminicídios deixam mais de 2 mil órfãos no país. A estimativa é baseada na quantidade de vítimas registradas em 2018, último ano com dados fechados, quando 1.206 mulheres foram mortas por serem mulheres — seja no contexto de violência doméstica, seja pelo menosprezo à condição de gênero, conforme define a lei que criou o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio.
Josilene foi assassinada em 2016, quando a lei do feminicídio era relativamente nova e enfrentava resistências até mesmo no âmbito de órgãos estatais. O julgamento, em julho passado, durou mais de 12 horas, sob sigilo. O depoimento de Eduarda arrancou lágrimas dos presentes.
Ao responder por que não tinha saudade do pai, durante o testemunho, a menina explicou: “Porque ele fez o mal para minha mãe”. A avó reza para que os netos superem a perda. “A lembrança fica, mas um dia a dor vai ter de passar.”
Leia a reportagem completa, exclusiva para assinantes:
Nenhum comentário:
Postar um comentário