04/02/2014 por Luciene Félix
Indubitavelmente, a felicidade no amor é uma das maiores dádivas que alguém pode almejar. E há, em todo relacionamento amoroso bem sucedido um componente imprescindível, sem o qual essa felicidade jamais pode ser plenamente alcançada.
A fim de explicitar o quão relevante é esse componente, conheçamos o mito de Eros (Cupido) e Psiquê (a Alma).
Psiquê era a mais nova de quatro irmãs. Bela, mas tão bela, que a própria deusa do amor e da beleza, Afrodite (Vênus), começou a ficar incomodada, pois vinham estrangeiros de longe conferir a beleza da jovem. Já estavam até deixando de frequentar o templo de Afrodite e abandonando o hábito de lhe fazer oferendas.
Enciumada, a deusa do amor e da beleza decide enviar seu filho Eros e incumbe-lhe a tarefa de flechar o coração de Psiquê para que a jovem se apaixone pelo mais relé dos mortais: um mendigo, um velho feioso, tosco, qualquer imprestável.
Mas Eros, ao avistar Psiquê se apaixona perdidamente por ela.
O pai de Psiquê, preocupado porque já havia casado as outras três filhas e a caçula não se interessava por ninguém, foi procurar o Oráculo. Eros, passando-se por adivinho, disse-lhe que a moça deveria ser levada a um alto penhasco e lá deixada, pois era essa a vontade dos deuses.
Crente, o pobre pai, embora sofrendo muito, cumpriu à risca o mandamento do Oráculo. Adornada como uma noiva, Psiquê seguia resignada, conformada, mas suas irmãs e seus pais choravam muito. Preparam-na, despediram-se e a deixaram no penhasco conforme a orientação recebida.
Psiquê adormeceu e Eros providenciou para que Eólo, o vento de brisa suave a arrebatasse até seu magnífico palácio.
Ao acordar, Psiquê não compreendia... Estava cercada de muito luxo: via diante de si uma enorme mesa com um vasto banquete, jardins repletos de flores, pássaros, tudo impecável e, embora jamais avistasse qualquer pessoa, só de pensar em algo, tinha seu desejo prontamente atendido. Era como se houvesse um séquito de serviçais para servi-la.
À noite, Psiquê preparou-se para dormir em sua cama de rainha e, qual não foi sua surpresa ao, no escuro, pressentir a presença de um homem que, embora ela não visse, tratou logo de tranquilizá-la: “Calma, Psiquê, sou eu, seu marido. Só o que desejo é fazê-la feliz”.
Eros e Psiquê tiveram uma longa e maravilhosa noite de amor.
Na manhã seguinte, Psiquê percebeu que ele havia ido embora e, ansiosamente, esperou por ele ao anoitecer. E assim aconteceu, por noites e noites. Psiquê estava apaixonada, feliz, radiante.
O tempo foi passando e Psiquê, com saudades de seus pais e de suas irmãs, implorou ao desconhecido marido para ir visitá-los. Eros decididamente disse que não, que não a atenderia. Mas Psiquê foi insistindo, insistindo, até que Eros a autorizou a trazer suas irmãs para visitá-la.
Sábio, pediu que não desse ouvidos às palavras de suas irmãs, alertando-a para a inveja, que mesmo entre fraternos, pode se instalar.
Ao chegarem ao palácio, as irmãs ficaram boquiabertas, jamais tinham visto tanto luxo, tanta riqueza e conforto. Aproximaram-se de Psiquê e começaram a lhe incutir mil desconfianças: “Ora, Psiquê, com quem você acha que dorme?”. “Com um monstro!”, respondeu outra.
“Não tenho dúvida – afirmou a mais velha – afinal, todo esse esplendor, todo o carinho e docilidade que você relata... Nada é perfeito, só pode vir de um monstro terrível”.
“Hoje à noite, dissipe suas dúvidas”, insistiram. E assim fez a pobre Psiquê. Após outra maravilhosa noite de amor, esperou Eros adormecer e acendeu uma vela aproximando-a do rosto do amado. Paralisada, Psiquê quase perde a respiração... Era o homem mais belo que já tinha visto!
Sem querer, da vela caiu um pingo quente sobre a face de Eros. Ele se levantou bruscamente e com as asas abertas, já de pé na gigantesca janela soltou um triste grito de dor: tola, Psiquê! Não sabe que o amor não convive com a desconfiança?
Nenhum comentário:
Postar um comentário