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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sejamos todos feministas

Quando as pessoas perdem o medo de se declararem feministas, a luta das mulheres se fortalece – por Aline Valek, no Escritório Feminista
publicado 26/11/2014
Chimamanda Ngozi Adichie
Chimamanda Ngozi Adichie em seu discurso no TED Talks
Já existe muito medo em relação ao feminismo para que se tenha medo dele se tornar popular. Porque se mulheres com autonomia assustam aqueles apegados à ideia de uma sociedade que explora e oprime, então a ideia de cada vez mais mulheres conscientes e empoderadas, capazes de transformar essa sociedade, deveria ser muito bem-vinda.

Não faz sentido para mim a ideia de um feminismo exclusivo, fechado a alguns poucos escolhidos. Não faz sentido porque vejo o feminismo como generosidade pura. Como não poderia ser generosa a ideia de igualdade, a percepção de que nenhuma mulher deveria sofrer retaliação por ser mulher?

Em seu discurso “Sejamos todos feministas” (pode ser assistido aqui), lançado em e-book pela Companhia das Letras (disponível de graça na Amazon), a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie conta que foi definida como “feminista” pela primeira vez em uma discussão com um amigo. Não foi um elogio. Durante sua vida, ainda ouviria que feministas são infelizes, anti-africanas, anti-homens, anti-maquiagem. Ela não se identificava com esses rótulos, mas se identificava com a ideia contida no feminismo; passou a se definir como “uma feminista feliz e africana que não odeia homens e usa batom para si mesma, não para os homens”.

Não adiantou terem colado tantos rótulos negativos para afastar Chimamanda do feminismo. Ela parece estar mais preocupada em desconstruir essa sociedade que ensina que homens são mais importantes do que mulheres. O medo dessa palavrinha (FE MI NIS MO, e não “humanismo”, “igualitarismo”, entre outros eufemismos tontos) não é nada comparado com o medo de ser mulher em um mundo tão hostil, tão desigual, tão machista.

Aziz Ansari, um dos meus comediantes favoritos (do elenco maravilhoso da série Parks & Recreations), se declarou feminista em uma entrevista com o David Letterman. Se você ainda não viu, tem que ver. Ele é maravilhoso quando começa a falar sobre essa carga negativa que o nome feminismo carrega:




“Muita gente acha que feminismo significa ‘alguma mulher vai começar a gritar comigo’. Mas eu acho que se você acredita que homens e mulheres deveriam ter direitos iguais, e se alguém perguntar se você é feminista, você tem que dizer ‘sim’, porque é assim que as palavras funcionam, sabe? Você não diria ‘ah, sim, eu sou um médico que trata de doenças da pele’, ‘Ah, então você é dermatologista?’, ‘Não, não, essa palavra é muito agressiva. De forma alguma, de forma alguma’.”

Cada vez que alguém com o alcance e o carisma de uma Chimamanda, de um Aziz, de uma Beyoncé, de uma Emma Watson, de um Gregório Duvivier, de uma Laerte fala sobre feminismo sem medo – e assume para si esse título – avançamos mais um pouco no tabuleiro desse grande jogo que é conquistar mentes e corações para a luta das mulheres.

Feminismo é generosidade. E veja se não é um ato generoso de figuras públicas como Beyoncé e Emma Watson compartilharem para o mundo que são feministas. Veja se não é generoso reconhecer que elas são, antes de celebridades, mulheres; e que como mulheres também merecem ser acolhidas pelo feminismo.

Não sou feminista para brigar ou para me sentir diferente, para criar uma barreira entre eu e as outras. Afinal, não é isso que o mundo já me ensinou? Que eu preciso provar que sou mais “merecedora” que as outras mulheres? Essa competição para ver quem é “mais feminista” ou “feminista de verdade” não é a mesma armadilha?

Ao se popularizar, o feminismo se entrega na mão das pessoas para ser construído por elas – e pessoas são diferentes, pensam diferente, agem de formas diferentes – e essa entrega também é a expressão da generosidade contida na ideia central do feminismo. Excluir, impor restrições, patentear, controlar, me parece justamente o oposto disso.

Que sejamos todos feministas. Que cada vez mais pessoas possam enxergar através dos preconceitos que revestem o feminismo e afastam tanta gente da descoberta transformadora que pode ser a visão de um mundo mais humano, mais justo. Que estejamos de braços abertos para receber mais e mais gente desse lado, porque assim a gente se fortalece.

Se já perdemos o medo de usar a palavra feminista, podemos também perder o medo de lidar com a diversidade. Isso inclui ouvir as vozes historicamente marginalizadas e abrir espaço para o empoderamento de mulheres negras, das mais pobres, de mulheres com deficiência, de pessoas trans*, lésbicas, bissexuais – até que cada mulher seja livre.

O feminismo tem espaço para todas, só não devia ter espaço para o medo de ouvir vozes diversas, de incluir e de dar espaço para mais mulheres se construírem como feministas.

E manda mais gente se declarando feminista, que tá pouco.

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