Por Maria Frô
julho 25, 2015
Da página Iniciativa das Mulheres Unidas do RS
“A Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha, do PP, mesmo partido dos (ex) deputados: Adolfo Brito, Ernani Polo, Frederico Antunes, João Fischer, Mano Changes, Pedro Westphalen, Silvana Covati e Vinicius Ribeiro que votaram pela extinção da nossa Secretaria de Políticas para as Mulheres, agora convida para Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres e lança o convite abaixo.
Uma imagem que claramente objetifica mulheres, desumaniza as mulheres.
A mensagem abaixo, escrita por Jurema Chagas foi enviada à Administração Municipal e ao COMDIM de Santo Antonio da Patrulha ela sintetiza o absurdo de uma imagem circular neste contexto.
Prezado COMDIM e Administraçao Municipal,
Não tenham nenhuma honra em convidar as mulheres para vossa Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres, com esse convite de imagem abjeta que reforça a ideia da diferença de gênero baseada no corpo e ignora toda a luta das mulheres para vencer os estereótipos e preconceito fundados num sistema sociohistórico que condicionou as mulheres a uma posição hierarquicamente inferior na escala de valores e produziu um campo de força de relações assimétricas entre homens e mulheres em nossa sociedade. Nosso repúdio é veemente a esse convite que coloca a mulher novamente naquele lugar em que o olhar masculino acostumou-se a situá-la, de subserviência e objetificação de onde desloca para si, o homem, o papel tão confortavelmente mantido através dos séculos de poder e controle sobre a mulher subjugada.
À Administração Municipal – e seu braço, o Condim – enquanto responsáveis por implementar as políticas públicas para as mulheres que essa Conferência tem por objetivo construir, cabe perceber, antes de aprovar uma peça publicitária como essa, que a sujeição da mulher ao homem se dá também por meio da linguagem imagética. Nessa imagem podemos ver toda a carga de preconceitos que subjaz ao pensamento do/a autor/a a ocupar importante espaço da narrativa moldada pelos valores convencionais que sempre nortearam a esfera masculina, e que contribuíram para erigir os pilares da sociedade patriarcal brasileira.
O mesmo homem opressor e também vítima de um sistema que o faz emissor e receptor de um conjunto de representações simbólicas que o subjugam a determinados paradigmas e o situam numa intencionalidade de desconstituir o feminino para constituir o masculino. É como se o homem necessitasse menosprezar, desqualificar, diminuir as demais características da mulher e apenas enaltecer o seu corpo, para afirmar e mesmo superestimar a própria inteligência, estabelecendo, consciente ou inconscientemente, uma relação de alteridade para satisfazer o próprio ego.
Como sabemos, essa dicotomia não é simplesmente uma divisão neutra de um campo descritivo abrangente, mas necessariamente hierarquiza e classifica os dois termos polarizados de modo que um deles se torna o termo privilegiado e o outro sua contrapartida suprimida, subordinada, negativa. “ O termo subordinado (a mulher) é a negação ou recusa, ausência ou privação do termo primário, sua queda em desgraça; o termo primário, o homem, define-se expulsando seu outro e neste processo estabelece suas próprias fronteiras e limites para criar uma identidade para si mesmo” (Grosz, 2000). Do mesmo modo, tendo-se em vista o teor da imagem, o visível tom depreciativo a princípio deveria soar como ‘elogio’ às formas e sensualidade femininas, mas estabilizam a mulher no lugar do subalterno, do recipiente, do objeto do olhar desejante masculino. Um olhar motivado pelas representações já cristalizadas do feminino, da imagem de mulher colocada no lugar de subserviência. Essa imagem não escapa à mediação das representações oferecidas pela linguagem, já que esta tem o poder de construir e não apenas de expressar significados, significado construído dentro da linguagem a partir de um processo de diferenciação. Nesse caso “o significado é construído através da contraposição de elementos diferentes, cuja definição reside precisamente nas diferenças entre eles. A imagem nos remete claramente à oposição macho/fêmea intimamente aliada à oposição mente/corpo, como tipicamente tem sido representada (explícita ou implicitamente) o corpo como equivalente ao feminino e a mente equivalente ao masculino, excluindo, assim, o status da mulher como sujeito do conhecimento e nos faz verificar como ainda hoje – ou, em outras palavras, passados tantos anos de luta e conquistas feministas – atuantes mecanismos da opressão patriarcal vinculam a mulher muito mais intimamente ao corpo do que o homem e, através dessa identificação polarizam homem e mulher, restringindo os papéis sócio-econômicos das mulheres a termos (pseudo) biológicos. (CHAGAS, Jurema.Blogs pessoais: a representação do eu na vida cibernética, Ed. Penalux, 2013
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