10/09/2015 – por 
Hoje, dia 10 de setembro, é o Dia Mundial da Conscientização e Prevenção do Suicídio. Isso quer dizer que hoje é um dia que a sociedade nos permite falar sobre um problema que afeta muita gente. Mas será que um dia basta?
Quando eu tinha uns 16 anos comecei a usar a internet para conversar com outras pessoas. E, durante muito tempo, disse que ela salvou minha vida porque, antes disso, não lembro de ter expressado fora da minha cabeça o que eu estava passando, que era tão complicado e eu nem conseguia entender direito, mas que envolvia longos períodos cogitando o suicídio.
Apesar de já ter falado aqui sobre depressão, hoje é a primeira vez que, fora de espaços pessoais, falo sobre cogitar o suicído como uma questão minha, que já vivi.
Essencialmente porque ainda é muito difícil falar de suicídio, já que (culturalmente) olhamos para a vida como uma dádiva inquestionável e todos que não pensam assim são vistos como malucos completos. E isso empurra o debate sobre o tema e, mais que isso, as pessoas que sofrem com essa situação, para a clandestinidade. O peso desse segredo, de carregar sozinhos essas questões todas, talvez seja um dos piores inimigos de quem já cogitou ou cogita tirar a própria vida.
Se tu não entende bem como funciona é só pensar que, ao procurar falar, conviver e compreender com algo que a aflige, a pessoa se depara com uma muralha intransponível de preconceito e silêncio. É brutal. Claro, também é compreensível que as pessoas que gostam de nós queiram evitar o tema, mas calar ou condenar a existência das coisas nunca fez elas desaparecerem (normalmente pelo contrário, conforme sabemos).
Então, hoje, é importante pra mim dizer que se tu pensa sobre morte, isso não é uma coisa que só está acontecendo contigo. Muitas pessoas (e das mais incríveis) passaram e passam por isso. A maioria não é burra, nem tonta, nem totalmente transtornada (muitas, inclusive, pelo contrário). Só que dizer que alguém não pode pensar ou sentir isso porque “é pecado” ou porque a vida é “um bem precioso” não faz isso sumir.
O que pode ajudar a melhorar as coisas é arejar o tema, trazer luz, permitir que as pessoas se expressem sem tantos julgamentos morais, para que elaborem seus problemas e encontrem força e tranquilidade para seguir.
setembro-amarelo
Setembro é dedicado, no mundo todo, a prevenir e conscientizar sobre o suicídio. É o Setembro Amarelo (Daqui)

Claro que todos os dias a gente vem aqui reclamar de algum preconceito e, nós sabemos, eles não vão todos se extinguir de uma hora pra outra. O mundo é amplo (e cheio de trouxas).  Mas nós podemos fazer a nossa parte, julgando menos e acolhendo mais.
Por isso, inclusive, queria agradecer a consultoria do psicólogo Marcos Donizetti, que ouviu minhas dúvidas e foi inteligente e gentil o suficiente para me acalmar a alma e deixar claro que o problema não está no que pode ser dito, mas principalmente no que não pode. Porque conscientizar sobre suicídio é saber que nem todos os temas da vida são fáceis, e que são especialmente os mais difíceis e mais cercados de tabus que merecem ser falados e ouvidos, para diminuir o sofrimento e possibilitar melhoras.
E se tu estiver passando por isso pode (e deve) procurar alguém com quem possa falar, alguém em quem confie. Sejam profissionais, sejam voluntários (como o pessoal do CVV – o chat funciona inclusive pelo site, eu mesma já usei e garanto rss), sejam amigos compreensivos e capazes de respeitar e ouvir.
De novo: as coisas tendem a melhorar. Ainda que não seja pra sempre, ter compreensão da transitoriedade dos processos, ao menos pra mim, ajuda muito a achar forças nos momentos mais difíceis.
Recebam meu amor e minha admiração pela força de continuarem tentando, sempre.