Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A vida das meninas que são consideradas deusas até menstruarem no Nepal

  • 16 dezembro 2016


Kumari
Image caption'Olho de fogo' na testa: condição divina permite enxergar outras dimensões

Em muitas tradições religiosas, as deusas existem apenas no plano espiritual, sendo representadas por estátuas e imagens.
No Nepal, no entanto, elas ganham vida sob a forma de garotas, conhecidas como kumari (meninas virgens).
Há séculos, tanto hindus quanto budistas do Vale de Katmandu reverenciam e idolatram essas crianças. Eles acreditam que elas estão possuídas pela deusa hindu Taleju.
"A perfeição e a pureza de alma e de coração são alguns requisitos necessários para se tornar uma divindade viva", diz à BBC Chanira Bajracharya, kumari dos cinco aos 15 anos.
Ser uma deusa kumari não é uma tarefa fácil. Elas não podem ir à escola, só podem se comunicar com um grupo seleto e não têm permissão para caminhar fora do templo onde residem.
Além disso, espera-se que elas fiquem em silêncio por longas horas enquanto abençoam milhares de fiéis durante os festivais.

Kumari
Image captionDurante as festividades, fiéis fazem fila para receber a benção da kumari

Há kumaris em todo o território do Nepal - em algumas cidades existem várias, mas a mais conhecida é a kumari real de Katmandu.

Requisitos

As deusas são escolhidas entre as pré-adolescentes da comunidade Newari, predominante no Vale de Katmandu.
Como trata-se de uma crença de origem budista e hindu, sacerdotes de ambas as religiões e um astrólogo se certificam que a virgem selecionada tem os 32 lachhins, atributos físicos e psicológicos, assim como Buda.
Muitas características exigidas são relacionadas a características de animais - como "pernas de cervos" ou voz clara como a de um pato. Elas também devem ter dentes perfeitos, histórico médico impecável e cabelos e olhos bem escuros.
A kumari real de Kathmandu, que se diferencia das demais, deve ter o mesmo signo zodiacal do presidente da República - acredita-se que isso garante prosperidade ao país.
Elas também são submetidas a vários testes para provar sua coragem, como velar cabeças de gado morto durante a noite.

Reinado breve

Acredita-se que a tradição começou por volta do século 12.

Kumari
Image captionO reinado de uma kumari acaba com sua primera menstruação

O dever de uma kumari é proteger a cidade. Mas seu reinado é curto: dura apenas alguns anos, até que venha sua primeira menstruação.
Segundo a crença popular, nessa fase a deusa Taleju deixa seu corpo e começa a buscar outra menina virgem.
Em seguida, vem a parte difícil: a transição da deusa para uma adolescente normal. Para muitas kumaris, esse processo pode ser traumático.
Após anos praticamente isoladas, elas precisam aprender a fazer amigos, andar pelas ruas e ir à escola.
A maioria delas defende, no entanto, que esta tradição ancestral deve continuar, já que representa a identidade espiritual e cultural do país.

Denúncias

As kumaris vivem confinadas em templos - os membros de sua família são responsáveis ​​por cuidar delas.

Kumari Bahal
Image captionA kumari de Katmandu vive no Kumari Ghar, palácio no centro da cidade

O isolamento a que são submetidas durante toda a infância levou organizações de defesa dos direitos humanos a denunciar a situação.
Para Subin Mulmi, advogado e humanista nepalês, as regras rigorosas de pureza e isolamento em torno das kumaris são um ataque à liberdade e à educação das meninas.
Em 2008, a Suprema Corte do país determinou a abertura de uma investigação para apurar as condições de vida das kumaris. Após a conclusão do inquérito, a Justiça decidiu que as crianças deviam ter mais liberdade e acesso à educação.
Mas, apesar disso, a rotina delas segue praticamente a mesma.
Aos olhos de muitos nepaleses que vivem na pobreza, é melhor crescer na pele de uma deusa, mesmo que praticamente enclausurado, do que na rua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário