22 de dezembro de 2016
Na guerra, o sofrimento e a morte têm muitas formas. Nos cinco anos de guerra civil na Síria, que tem de um lado o governo de Bashar Al-Assad, e de outro, inúmeros grupos rebeldes que querem destituí-lo, são contabilizadas 400 mil mortes pela violência, outras 70 mil pela falta de acesso a remédios, serviços de saúde, comida, água potável e abrigo.
Seis milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar dentro do país para fugir do conflito, e mais de quatro milhões buscam refúgio internacional. Multidões são arrasadas, mas também na tragédia da guerra o regime político do gênero importa: são homens quem comandam frentes de combate, e reservam para mulheres horrores específicos.
Notícias recentes da tomada da cidade de Aleppo – antes centro industrial e financeiro da Síria, hoje reduto de forças rebeldes – pelo exército presidencial são prova de que a violência da guerra é indissociável da violência do gênero.
Circulam pelas redes sociais relatos sobre mulheres que estariam decidindo pelo suicídio para não serem violentadas pelas forças do governo: “estou cometendo suicídio porque não quero que meu corpo seja alguma fonte de prazer para aqueles que sequer ousavam mencionar o nome de Aleppo dias atrás”, teria dito a carta de uma enfermeira não identificada, divulgada no Facebook pelo fundador de uma organização de ajuda humanitária.
Postagens dão conta também de homens que estariam pedindo a autoridades religiosas permissão para matar filhas, companheiras e irmãs para não correr o risco de vê-las capturadas e violentadas pelo exército em campanha de ataque.
Nas histórias perversas de Aleppo, suicídio e feminicídio – a matança de mulheres por serem mulheres – aparecem como escape ao estupro: é a vida de mulheres ilhada pela violência. Não se trata de caso isolado. Em conflitos da Síria ao Congo, da Bósnia ao Haiti, corpos de mulheres são território de batalha, invadidos para mandar mensagem a inimigos, estuprados como instrumento de limpeza étnica, devastados pela desigualdade do gênero.
Sinara Gumieri é advogada e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética. Este artigo é parte do falatório Vozes da Igualdade, que todas as semanas assume um tema difícil para vídeos e conversas. Para saber mais sobre o tema deste artigo, siga https://www.facebook.com/AnisBioetica
Nenhum comentário:
Postar um comentário