por Mariza Tavares
O que fazer quando nos deparamos com filhos adultos que se transformaram em seres desprovidos de calor humano e empatia? Certamente não há uma receita para isso, mas o filme alemão “Toni Erdmann”, favorito entre os cinco finalistas ao Oscar estrangeiro, se propõe a tratar disso de forma divertida e, ao mesmo tempo, comovente. Ainda bem que ficou entre os finalistas, porque só assim vai ter a chance de entrar no circuito comercial das salas de exibição – e o público terá o prazer de conhecer essa história de pai e filha, mas que também fala sobre a identidade: quem somos, o que achamos que somos, o que gostaríamos de ser, como os outros nos veem.
O que fazer quando nos deparamos com filhos adultos que se transformaram em seres desprovidos de calor humano e empatia? Certamente não há uma receita para isso, mas o filme alemão “Toni Erdmann”, favorito entre os cinco finalistas ao Oscar estrangeiro, se propõe a tratar disso de forma divertida e, ao mesmo tempo, comovente. Ainda bem que ficou entre os finalistas, porque só assim vai ter a chance de entrar no circuito comercial das salas de exibição – e o público terá o prazer de conhecer essa história de pai e filha, mas que também fala sobre a identidade: quem somos, o que achamos que somos, o que gostaríamos de ser, como os outros nos veem.
Winfried Conrad, vivido pelo austríaco Peter Simonischek, de 70 anos, é um professor de música que nunca pautou a vida pela ambição. Diverte-se com os pequenos acontecimentos do dia a dia e adora pregar peças nas pessoas. Toni Erdmann é uma espécie de alter ego, um personagem totalmente inconveniente que ele cria usando dentes falsos e peruca. A cena inicial do filme já dá uma boa ideia do seu perfil. Winfried/Toni atende um mensageiro com uma encomenda mas, em vez de recebê-la, diz que o pacote é para um irmão que foi preso por provocar explosões e pode conter substâncias proibidas. É o bastante para deixar o entregador em pânico.
Seu grande desafio será reaproximar-se da filha, Inês, interpretada pela alemã Sandra Hüller. Ela é uma executiva obcecada por trabalho que parece esculpida em gelo, totalmente distante da família. Mora em Bucareste, onde tenta pavimentar a carreira para ser transferida para o Oriente, sem se importar com os sentimentos alheios. Winfried leva a sério um convite protocolar para visitá-la e aparece na capital romena para uma temporada. A recepção é gélida e ele incorpora o “Toni-sem-noção” que vai se infiltrar no trabalho e na intimidade de Inês: faz-se passar por diplomata, empresário e coach, sempre com um sorriso meio demente e os dentes postiços enormes. Os dois acabam vivendo situações absurdas, cada uma delas funcionando como um ringue no qual pai e filha se enfrentam. O ápice acontece numa sequência antológica do brunch para comemorar o aniversário dela. Inês surta, mas o gelo é quebrado. A reflexão vale mesmo para quem não pretenda pôr em prática plano tão radical: quando nossos filhos se tornam estranhos para nós?
Maren Ade, diretora e roteirista do filme, foi a sensação do 69º Festival de Cannes. “Toni Erdmann” é seu terceiro filme, mas agora parece que ela será catapultada além do círculo de cinéfilos. Toni é uma homenagem ao cômico americano Andy Kaufman, criador de Tony Clifton (de onde veio o nome do protagonista), personagem capaz de dizer as maiores barbaridades. Em entrevistas dadas durante o festival, ela contou que, anos atrás, ganhou dentes falsos na estreia de “Austin Powers”. Deu de presente para o pai, que gostava de divertir as pessoas, e acabou aproveitando a experiência no projeto cinematográfico. Maren levou os rebentos, de 4 anos e seis meses, para Cannes – além de marido, pais e sogros – e não parece sofrer das limitações afetivas que retratou em seu longa.
Foto: divulgação
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