Em quatro décadas como repórter de sucesso, Lesley Stahl foi setorista da Casa Branca e entrevistou chefes de Estado no programa “60 Minutes”. No entanto, tornar-se avó foi tão impactante em sua trajetória que a levou a lançar em 2016 o livro “Becoming grandma – the joys and science of new grandparenting” (em tradução livre, “Virando vovó, alegrias e ciência sobre os novos avós”). Não se trata de um relato meloso sobre sua experiência – embora, claro, ela considere Jordan e Chloe umas fofuras – e sim de uma investigação jornalística sobre como ter netos provoca mudanças psicológicas e até hormonais, inclusive com efeitos terapêuticos positivos. Lesley entrevistou antropólogos, médicos e cientistas. E o mais interessante é que o resultado do trabalho mostra que os baby boomers, a geração que nasceu entre 1946 e o começo dos anos de 1960, têm um perfil completamente diferente dos avós que os antecederam. Esta foi a geração que reinventou a adolescência e a juventude, e também está criando um novo estilo de relacionamento com os netos.
“Nós, os baby boomers, somos um espécie diferente de seres humanos. Queremos ser jovens, temos que reconhecer isso, e acabamos nos transformando em avós jovens, com mais energia e disposição. Temos mais recursos e gastamos muito mais dinheiro com nossos netos que as gerações anteriores. Além disso, os avós de hoje dedicam sete vezes mais tempo aos netos do que habitualmente se fazia há dez anos”, afirmou Lesley em entrevista à jornalista Judy Woodruff, da PBS, quando lançou o livro.
O que ela propõe pode ser simples: usar a longevidade que nos foi concedida para enriquecer nossos relacionamentos familiares. Nos Estados Unidos, por exemplo, a idade média de se tornar avó/avô é de 50 anos para as mulheres e 54 para os homens. Esse tempo extra de que dispomos, e muitas vezes não tivemos para desfrutar com nossos próprios filhos, pode significar laços mais fortes e um legado importante para as próximas gerações: viagens, visões de mundo compartilhadas, prazer de conviver...
No primeiro capítulo do livro, Lesley escreve que, ao longo da carreira, se empenhou em suprimir os sentimentos para realizar o trabalho de jornalista, mas quando a primeira neta nasceu, em 2011, foi tomada por uma onda de amor e emoção que não se lembra de ter sequer imaginado viver. Eram sensações físicas intensas e, para explicá-las, ela conversou com a neuropsiquiatra Louann Brizendine, autora de “O cérebro feminino”, que lhe disse que, quando uma avó segura seu neto ou neta nos braços, o cérebro pode ser irrigado com o hormônio oxitocina – o mesmo que as jovens mães têm de sobra, responsável pela liberação do leite materno e pelo desenvolvimento de apego e empatia. Tá explicado tanto amor, portanto não vamos desperdiçar essa mágica!
Queria agradecer a todos que mandaram frases de seus netos e relatos de seus relacionamentos com os avós. Foram manifestações inspiradoras, reproduzo aqui algumas delas:
"Vovó, eu te amo. Obrigado por me ajudar a nascer." – Guilherme, 7 anos (enviado por Dody Fernández)
"Minha avó é radical e a comida dela é uma delícia!" – Murilo, 7 anos (enviado por Alessandra Moacir)
“Minha avó sempre lutou muito na vida e sempre encontrou soluções pra tudo. Ela é mãe sem o rigor da mãe.” – Carolina, 16 anos (enviado por Inês Vasconcellos)
“A vovó é a mulher mais linda no planeta!” – Catherine, 3 anos (enviado por Thiago Caribé)
“Minha melhor amiga tem 87 anos, 60 a mais que eu. Às vezes, uma completa o pensamento da outra. Minha avó acorda cedo para passar o café, fazer sua caminhada matinal, volta para preparar o almoço, para as orações, os livros de que tanto gosta de receber e ler. É uma mulher atarefada. Com ela, entendo o que é ser organizada e disciplinada, o que não sou. Tenho mãe e pai, mas graças à minha vó tenho minhas melhores qualidades.” – Basília Rodrigues
“Minha vó era daquelas velhinhas que contava piada, falava besteiras, ao menos um palavrão por frase! Esse ano faz 15 que nos deixou e ficou um rombo no coração e um vazio, principalmente nas tardes de domingo... Ela ainda é minha referência de alto astral, força e garra. Muito do que sou devo à forma como sempre encarou a vida. Já meu vô foi minha ‘melhor amiga’ na infância. Acredita que descascava uva por uva, partia ao meio, tirava os caroços e arrumava num prato para eu comer? Está firmão aos 87 anos e morre de amores por meu filho, que tem 4 meses. Quando vem me visitar, João só fica no colo dele.” – Sirley Franco
“Meu neto Felipe ainda não pode dar depoimento porque só tem 1 ano e 9 meses, mas sabe responder direitinho quando pergunto: ‘quem é o amor da vida da vovó?’. ‘Neném’, ele diz. E meu coração se desabotoa." – Tania Carvalho
“Eu me sinto segura com vovó e o vovô, tenho sorte de ter eles como avós.” – Mayanna, 8 anos (enviado por Juliana Favoreto)
“Vovó Nani, adoro dormir agarradinho com você!” – Bruno, 5 anos (enviado por Eliana Cantanhêde)
“Amo meu vô ao infinito; amo minha vó a mil!” – Gabriel, 5 anos (enviado por Suzete Aché)
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