Marido de Jennifer Aniston virou ator respeitado e símbolo sexual com ‘The Leftovers’, ótima série sobre o luto, que estreia sua última temporada hoje
Justin Theroux era mais conhecido por comédias como Zoolander, Sua Alteza e Viajar É Preciso, em que começou a namorar Jennifer Aniston, sua mulher desde 2015. Na verdade, ele até era mais famoso como roteirista de longas engraçados, a por exemplo de Trovão Tropical e Rock of Ages: O Filme. Mesmo assim, foi escalado para interpretar Kevin, o protagonista da série dramática The Leftovers, uma das melhores no ar hoje, que estreia a sua terceira e última temporada neste domingo, às 22h, na HBO. “Eu o conhecia mais como roteirista do que como ator. Era perfeito, porque televisão é descoberta”, disse em entrevista a VEJA Damon Lindelof, co-criador da série com Tom Perrotta, autor do romance Os Deixados para Trás (Intrínseca), em que o programa se baseia. Para o escritor, Theroux interpreta bem a perplexidade do personagem diante do que acontece com ele e com o mundo à sua volta.
A escolha foi surpreendente porque The Leftovers pode ser tudo, menos cômica – ainda que momentos de humor tenham sido incluídos a partir da segunda temporada, depois de uma primeira brutalmente pesada. A série foca em alguns habitantes de Mapleton, um subúrbio de Nova York, depois do desaparecimento de 2% da população mundial. Kevin Garney, personagem de Theroux, é o chefe de polícia local, que não perde ninguém da família, mas vê a mulher, Laurie (Amy Brenneman), e os filhos Tom (Chris Zylka) e Jill (Margaret Qualley) se afastarem depois dos traumáticos acontecimentos. Ele se aproxima de Nora Durst (a revelação Carrie Coon), cujo marido e dois filhos desapareceram. Na segunda temporada, Kevin e Nora deixam Mapleton para trás e partem para Miracle, no Texas, onde não houve nenhum desaparecido. Kevin sobrevive misteriosamente a incidentes que deveriam ter provocado sua morte e passa a ser visto como uma espécie de Jesus Cristo.
The Leftovers é um material exigente, de conteúdo majoritariamente existencial – por que estamos aqui, quando vamos morrer, como tirar um sentido da vida e até mesmo por que ter um sentido na vida é preciso. Por isso, que o público não espere respostas. “Se você está assistindo para saber para onde todo mundo foi, este não é esse tipo de série”, disse Lindelof. “É sobre a dificuldade das pessoas em lidar com a ausência de resposta.” Em seguida, ele acrescentou, em tom de piada: “Talvez por isso apenas 14 pessoas estejam assistindo”. A verdade é que a série, que faz rir e chorar e provoca tanta perplexidade para o espectador quanto para Kevin Garney, não teve a audiência nem as indicações a prêmios que merecia, apesar do sucesso de crítica. A recepção morna pode ter prejudicado um pouco, mas não afetou muito a sua duração, já que Lindelof e Perrotta sempre acharam que a série não teria mais que quatro temporadas.
Além da interpretação consistente, The Leftovers transformou Theroux, 45 anos, em símbolo sexual. Não foram poucas as vezes em que exibiu seu abdômen cuidadosamente esculpido ou as costas tatuadas ou que causou furor por fazer cenas de corrida de calça de moletom sem cueca, o que foi notado pelos fãs. O assunto virou piada recorrente nos roteiros – na segunda temporada, ao ser revistado, Kevin ouve um “parabéns” e, numa cena maluca, tem seu pênis colocado numa máquina. “Isso foi só o Damon Lindelof me zoando”, disse modesto o ator, que no dia da entrevista combinou calça, camiseta e jaqueta de couro pretas com relógio, corrente, pulseira e anel de ouro, além da aliança grossa no dedo anular esquerdo. Lindelof afirmou que está só tentando fazer com que a televisão seja mais igualitária. “Precisamos de mais pênis na tela”, afirmou, em tom de piada. Theroux não gosta de se levar muito a sério – disse, por exemplo, que não é um escritor de verdade como seus tios paternos, entre eles Paul Theroux.
No set, como ator principal, tentou manter as coisas leves, como contaram seus companheiros de elenco. “Justin é hilário, a equipe o ama”, disse Carrie Coon. A atriz também elogiou Theroux e o chamou de “gracioso” pela maneira como lida com os percalços da fama, principalmente depois do casamento com Aniston. Chris Zylka, que interpreta Tom, filho de Kevin, concordou: “Ele é um homem, o que toda mãe diz que um garoto deve ser quando crescer. É cativante, mantém a moral alta. É um ator que teve de fazer de tudo nas cenas, mas sempre tinha um sorriso no rosto”.
Na conversa a seguir, Theroux, discreto sobre sua vida pessoal, falou sobre o fim da série The Leftovers, sobre o que pode existir após a morte e sobre os seus desejos para o futuro:
Qual foi sua reação ao saber o final da série? Foi bem arrebatador. Porque, no final do episódio 7, eu estava pensando: ‘Como vamos concluir essa série?’ Mas, quando li, achei um grande roteiro.
O público termina com dúvida se Kevin é uma espécie de Jesus Cristo? Vou dizer só que a conclusão se distancia bastante desse tipo de questão. É uma coisa meio à parte. Não posso dizer mais que isso.
Ficamos sabendo para onde os desaparecidos foram? Não, nunca vamos ter essa resposta. Mas vou dizer que vai ser satisfatório.
Depois de fazer esse personagem por tanto tempo, acha que sua personalidade foi afetada de alguma maneira? Acho que não. Não penso que somos semelhantes em nenhum aspecto. É um personagem catártico para interpretar, porque ele passa por todos esses desafios e problemas que, graças a Deus, ninguém precisa enfrentar na vida real. Não é o tipo de personagem que ia para casa comigo. Não sou um ator que usa o método, nada disso.
Em nenhum momento sua mulher disse: ‘Ei, pare de ser o Kevin?’ Não (risos), nunca!
Esperava tamanho sucesso de crítica? Damon sempre foi muito claro de que esta série não duraria mais de três ou quatro temporadas. Sempre soube que iria ser meio curta. Porque no começo fiquei na dúvida se queria me comprometer por oito anos, e ele me disse para não me preocupar.
Tem uma cena em que seu personagem tem de colocar o pênis em uma máquina. Isso foi o Damon tentando me zoar! Foi uma cena estranha (risos). Eu não estou brincando, era zoeira do Damon.
Mas ele te contou antes ou só soube quando leu o roteiro? Eu li e liguei para ele, falando: ‘Pôxa, cara!’ E ele: ‘Vai acontecer!’
A série fala de muitos temas. Quais foram os que mais o interessaram? Eu gosto que a série faz perguntas difíceis. Então, inicialmente, como é passar por um luto? Como é ter uma perda em sua vida? Temas universais. E o significado da vida, como supera certas coisas. Fiquei fascinado por isso. São perguntas muito profundas. Obviamente, são questões impossíveis de responder. Mas achei muito ousado. Porque muitas séries de televisão fogem da morte e do desespero em um cenário como esse. Acho que a “partida súbita” era uma metáfora para a morte em geral. O medo de morrer. Sei que Damon perdeu seu pai muito jovem e isso foi muito difícil para ele. Não posso deixar de achar que a série nasceu dessa experiência.
The Leftovers fez com que sentisse medo da morte? Com certeza. Não que fique pensando o dia inteiro. Mas acho que é normal se sentir assim quando alguém que você ama morre depois de uma doença. É uma coisa enervante, porque não há como não projetar a sua própria finitude. A ideia de saber quando você vai partir é terrível.
Gostaria de saber quando vai morrer? Não.
Qual é sua ideia do que acontece depois da morte? Acho que você vai embora. Simplesmente deixa de existir. É o que penso. Posso estar errado.
Estou vendo alguns cabelos brancos aí na sua cabeça. Como vê seu futuro? Todos temos objetivos no trabalho, coisas que desejamos fazer. Espero poder continuar trabalhando. Como pessoa, creio que todos queiramos evoluir emocionalmente, nos tornar mais tolerantes, acolhedor. Não sou exatamente religioso. Mas uma das coisas que acaba aparecendo sempre na série é a importância da família, do amor, das amizades. E todas essas grandes questões que a série pergunta acabam tendo esse ponto em comum, que é a família, a importância disso. Na minha vida, isso é refletido: tenho um bom relacionamento com minha família e meus amigos.
Se tivesse de escolher entre escrever e atuar, qual seria? Não sei, porque atuar é mais fácil, e escrever é mais gratificante. Ambos são, mas escrever é criar tudo do começo, um universo inteiro. Seria uma escolha dura. Meu lado preguiçoso escolheria a atuação.
Na sua família há muitos escritores. Sim, mas eles escrevem coisas de verdade.
Acha que é uma espécie de ovelha negra? Um pouco. Jamais imaginei que ia escrever. Não tinha nenhum plano. Estava só atuando e de repente apareceu a oportunidade, teve gente que me pediu para escrever. Mas não sou romancista nem nada. Não conseguiria escrever um romance. Acho que não.
Deu seus palpites nos roteiros? Não, esses caras são escritores muito melhores do que eu. Escrevi comédias, majoritariamente. Os roteiros de The Leftovers eram tão bem escritos, eu só ficava impressionado mesmo.
A série explora a dinâmica entre pai e filho. Isso fez com que pensasse mais no assunto? Não… Na verdade, não. Talvez por não ter uma família tradicional nesse quesito. Considero alguns dos meus melhores amigos como membros da família. Minha mulher também, obviamente. É uma família diferente. Mas tem sido a minha desde que era bem novo. Minha mãe sempre foi uma figura fundamental na minha vida. E fazer a série definitivamente me fez querer ligar mais para ela e visitá-la mais. Mas também pode ser um efeito da idade, não da série.
Tinha alguma espécie de ritual para se libertar do personagem no fim do dia? Fiquei bem bêbado… A nossa série tinha essas grandes cenas cheias de emoção, então, no fim era catártico. Não estou dizendo que era terapia, nada disso. Mas sentia como se estivesse exorcizando coisas. Acabava me sentindo mais leve ao final das cenas. Se você passa o dia inteiro chorando, você se sente melhor.
Você e Jennifer trocam conselhos em casa sobre atuação? Deus, não. Isso seria a pior coisa. Em ambas as direções. Não, só apoiamos muito um ao outro.
Veja
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