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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Por ciúmes, homem mata mulher a facadas em Campinas - Cristiane Paulino da Costa, psicóloga do SOS Ação Mulher e Família, comenta

18/04/2017
Por Alenita Ramirez



O ciúme doentio acabou em tragédia na noite de segunda-feira, no Jardim Maria Eugênia, em Campinas. O empresário Carlos Roberto Pachione, de 59 anos, matou a mulher, a garçonete e atendente Jamily Nayara Paulino, de 28 anos, com seis facadas. Segundo a polícia, ele queria que a mulher deixasse o emprego, mas ela recusou. Atualmente Pachione estava sem trabalho.
O casal tinha um filho de 5 anos e viviam na casa dos pais dele, no Conjunto Residencial Village Costa Verde. Segundo vizinhos, o desempregado dopou o filho e a mulher e depois do crime ligou para uma irmã e a avisou. Os pais do suspeito dormiam e não ouviram nada. O corpo dela estava sobre a cama do casal. O desempregado fugiu no carro do pai. O menino foi poupado no crime.
A tragédia, que aconteceu por volta das 21h30 na Rua Campo Redondo, chocou amigos, conhecidos e parentes do casal.
A jovem foi definida por colegas de trabalho e conhecidos como alegre, educada e excelente profissional. Ainda de acordo com vizinhos, o casal não demonstrava conflitos. Se davam bem e ela se mostrava dedicada à família e era apaixonada pelo marido. Familiares dele não quiseram falar sobre a tragédia.
No boletim de ocorrência consta que a jovem foi morta com seis facadas, sendo uma na mão, outra no seio, duas no peito e duas no estômago. Ela foi achada pelo sogro, sobre a cama do casal, morta.
Ainda segundo a descrição no boletim de ocorrência, antes do crime, o casal lanchou fora e na volta, por volta das 21h30, discutiu na sala, onde estava os sogros e o filho. Ele exigiu que Jamily deixasse o emprego, já que na empresa onde ela trabalhava havia muitos homens. Durante a discussão, a moça mencionou que queria a separação em razão do ciúme dele. Ela justificou que não pediria a conta do trabalho em razão de ganhar bem.
Após a discussão, os pais dele alegaram que o casal foi para o quarto, ligou a televisão no volume alto e por volta das 23h recebeu a ligação de uma filha, avisando da tragédia.
O desempregado teria ligado para a irmã e dito que havia deixado a casa aberta, pois tinha matado a mulher e fugido com o carro do pai, um Fusca.
Jamily era atendente em uma loja de pneus e acessórios para carros na região central de Campinas e também era garçonete freela em um restaurante japonês localizado na Vila Brandina, onde trabalhava apenas nos finais de semana. "Estamos chocados. Não dá para acreditar. A Jamily era muito boa no que fazia", disse o gerente do restaurante, que pediu para não ser identificado.
De acordo com conhecidos, o desempregado costumava a levar no ponto de ônibus e sempre ia buscá-la no trabalho. "Nunca demonstrou nada. Se tinha algum problema no relacionamento, não contava. Era uma pessoa maravilhosa, muito sorridente", disse uma amiga que não quis ser identificada. "Ela sempre me chamava para levarmos as crianças no parquinho. Ela amava o marido e o filho", acrescentou.
Na página social da jovem, dezenas de amigos postaram mensagens de desabafos e elogios. Uma campanha nas redes sociais foi montada por amigos para localizar o suspeito. O corpo de Jamily será enviado nesta quarta-feira para Londrina, no Paraná, onde mora a família dela.
O crime foi registrado como homicídio qualificado e será investigado pela 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) como feminicídio. Até a tarde desta terça-feira, o suspeito ainda não tinha sido preso. "Foi um crime passional e premeditado. O crime foi no âmbito doméstico e de autoria conhecida. Já pedimos a prisão temporária do suspeito, por 30 dias" , disse o delegado titular da 2ª Delegacia Seccional, José Henrique Ventura.
De acordo com o delegado, o casal vivia junto havia quase 10 anos e nos últimos meses passou a se desentender até se agravar as discussões. "Pedi também necrópsia e exame toxicológico para ver se realmente ela foi dopada. Essa informação surgiu depois que os pais disseram que não ouviram barulhos. Mas há uma lesão na mão dela, que leva a crer que ela tentou reagir" , disse Ventura.
Segundo conhecidos, o pai dele teria dito que o carro foi localizado na casa de um irmão do desempregado em Paulínia, mas Ventura não confirmou nada. "Até agora não temos nenhuma informação do paradeiro dele e nem do carro" , disse o delegado.
Saiba Mais
"Infelizmente acontece casos de o homem matar a mulher por ciúmes excessivos. É uma questão cultural. A violência gerada pelo ciúme é velada. A mulher não fala sobre o tema com ninguém, ela esconde" , disse a psicóloga da entidade SOS Ação Mulher e Família, Cristiane Paulino da Costa.
Segundo a especialista, dos casos atendidos na entidade, uma boa parte tem violência de gênero devido a ciúme. Por ser uma questão cultural, muitas mulheres acaba aceitando a imposição do marido e não fala para ninguém o que se passa. Há casos que o homem pede para a mulher deixar de trabalhar, para ela não ficar na companhia de colegas de trabalho, ou também mudar o tipo de vestes, seja no tamanho ou no comprimento da saia ou vestido. "Nestes casos, a mulher sofre violência tanto verbal como psicológica. Quando essas violências se esgotam o homem parte para a violência física. Tanto a mulher como o homem têm dificuldade de encarar as consequências do ciúme como violência. A separação não vai resolver o problema do casal. É preciso que eles busquem ajuda para resolver a situação" , disse Cristiane.
O feminicídio é tratado como crime de ódio e não de amor. Na virada deste ano, o técnico em laboratório Sidnei Ramis de Araújo de 46 anos matou 15 pessoas da mesma família e depois se matou. Entre as vítimas estavam a mulher, Isamara Filier, de 41 anos, e o filho de 8 anos. Em carta, ele declarou ódio pela família. Depois de uma separação conturbada, o técnico travava na Justiça a guarda do filho, benefício que foi negado a ele. Desde a decisão da Justiça, ele passou a alimentar um sentimento de raiva contra a ex e tramou a vingança. O técnico em laboratório não só pensou em matar a mulher, mas o filho e àqueles que ele considerou ter ficado favorável a ex-mulher. Na época, o crime chocou a cidade e repercutiu o país.

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