Oito estados já emitiram alertas policiais e de saúde sobre fenômeno que pode levar ao suicídio; deputados devem ouvir Facebook, Unicef e youtuber
20 abr 2017
A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, um requerimento para que seja discutido o “jogo da Baleia Azul“, fenômeno que consiste em uma série de desafios com o objetivo de levar jovens ao suicídio. Proposta pelo deputado Sandro Alex (PSD-PR), a reunião ainda não tem data, mas ocorrerá na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCTI).
Uma pesquisa, elaborada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic), apontou que um a cada dez adolescentes brasileiros, de onze a dezessete anos, já procurou informações na internet sobre como se ferir – e um a cada 20, sobre como tirar a própria vida. Até agora, oito estados brasileiros (SP, PR, MG, MT, PE, PB, RJ e SC) já tiveram alertas policiais e de saúde relacionados ao “baleia azul”. O encontro realizado pela Câmara deve ouvir representantes do Facebook – onde o fenômeno tem sido mais verificado no Brasil –, da Polícia Federal e da Unicef, além do youtuber Felipe Neto, que fez um vídeo sobre o assunto em seu canal.
O maior número de casos registrado até agora, envolvendo o “jogo”, é na Paraíba, onde a Polícia Militar diz ter identificado 20 adolescentes envolvidos. O coronel Arnaldo Sobrinho, coordenador do Escritório Brasileiro da Associação Internacional de Prevenção ao Crime Cibernético, relatou tentativas de suicídio e mutilação de adolescentes em João Pessoa e nas cidades de Campina Grande e Guarabira. Em Bauru (SP), um jovem tentou se jogar do viaduto sobre a Rodovia Marechal Rondon, após publicar nas redes sociais a frase “a culpa é da baleia“.
O Paraná registrou a entrada de oito adolescentes entre treze e dezessete anos (quatro meninos e quatro meninas), na madrugada de quarta-feira, nas unidades de saúde de Curitiba – cinco por tentativa de suicídio por medicamentos e três por automutilação. O secretário estadual de Segurança Pública, Wagner Mesquita, afirmou que um dos jovens relatou a participação no jogo.
“Nossa investigação vai em busca dos responsáveis para enquadrá-los por incitação ao suicídio“, disse o secretário. O crime, previsto no artigo 122 do Código Penal, tem pena de dois a seis anos de reclusão. “Vamos trocar informações com outros estados”, concluiu.
O “jogo”
Associada ao “baleia azul”, a palavra “jogo” não representa, de fato, o que significa o fenômeno. Participantes conhecidos como “curadores” induziriam, através de conversas pela internet, adolescentes vulneráveis a realizarem tarefas, como automutilação, durante um período de 50 dias, que se encerraria com o suicídio.
Essa prática teria se iniciado nas redes sociais da Rússia, com as primeiras informações sobre ela surgindo a partir de 2015. A princípio, foi vista como uma “notícia falsa” e um possível viral, mas ganhou corpo com o número de casos já identificados no Brasil e em países como Espanha e França.
Segundo Alexandrina Meleiro, da Comissão de Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a adolescência é uma “fase de descoberta e insegurança, deixando muitos vulneráveis”. Para ela, os principais sintomas que devem chamar a atenção de pais são mudanças de comportamento, isolamento e uso de roupas “que tapam o corpo mesmo em dias quentes”, além da baixa autoestima.
A especialista recomenda que os pais evitem “acusar ou mexer nas coisas sem autorização” e que tentem abrir um canal de diálogo com os filhos. “O jovem costuma aceitar a aproximação se houver confiança”, conclui.
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