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sexta-feira, 14 de abril de 2017

Migrantes no norte da África são vendidos em mercados de escravos na Líbia, denuncia ONU

Migrantes que viajam até a Líbia para chegar à Europa correm risco de serem sequestrados, abusados, mortos e vendidos em mercados de escravos no país localizado ao norte da África. Informação é da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que recebeu e divulgou novas denúncias de sobreviventes. Agência da ONU descreveu o território líbio como ‘um arquipélago de tortura’. Refém liberto em Trípoli pesava 35 kg e tinha ferimentos pelo corpo.
Migrantes mantidos reféns em Sabha, na Líbia. Foto: OIM
Migrantes mantidos reféns em Sabha, na Líbia. Foto: OIM
Migrantes vítimas de contrabandistas estão sendo vendidos em “mercados de escravos” na Líbia. A informação foi divulgada nesta terça-feria (11) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), que coletou depoimentos de sobreviventes durante o final de semana. Para a agência da ONU, casos se somam a uma “longa lista de violações” registradas no país do norte da África.
“Migrantes que vão para a Líbia tentando chegar à Europa não têm ideia do arquipélago de tortura que os aguarda bem do outro lado da fronteira”, alertou o porta-voz máximo da OIM em Genebra, Leonard Doyle. “Lá, eles se tornam mercadorias a serem compradas, vendidas e descartadas quando não têm mais valor.”
Oficiais do organismo atuando no Níger documentaram o regaste de um senegalês — apresentado apenas pela sigla SC, para proteger sua identidade — que deixou seu país de origem para chegar à Líbia.
Ao chegar à cidade nigerense de Agadez, o homem foi informado de que teria de pagar 320 dólares para seguir viagem rumo ao território líbio. SC aceitou a exigência e deu prosseguimento à jornada pelo deserto.
O percurso transcorreu sem maiores preocupações, o que está longe de ser uma regra — a OIM já foi informada por outros migrantes de que, nesses caminhos, é possível encontrar os restos mortais de vítimas de traficantes. Nas rotas, também são altos os riscos de interceptação por bandidos que desejam roubar combustível.
Quando chegou em Sabha no sudoeste da Líbia, SC foi questionado pelo motorista, que disse não ter sido pago pelo contrabandista contratado pelo senegalês. O condutor do veículo afirmou, então, que ele estava transportando os migrantes para um estacionamento onde SC descobriu um mercado de escravos.
“Migrantes da África Subsaariana estavam sendo vendidos e comprados por líbios, com o apoio de nigerianos e ganeses que trabalhavam para eles”, explicou o funcionário da OIM que prestou assistência ao senegalês.
SC foi comprado e levado para sua primeira prisão, uma propriedade privada onde mais de cem migrantes eram mantidos reféns. Segundo o senegalês, os sequestradores forçavam os prisioneiros a ligarem para seus familiares. Durante o contato, eram frequentemente espancados para que os parentes ouvissem o sofrimento causado pela tortura. O objetivo era motivar o pagamento do resgate, estimado em 480 dólares.
Sem conseguir juntar o dinheiro necessário, o migrante foi comprado por outro líbio e levado a outra casa. O preço do resgate era mais alto — 970 dólares. O montante devia ser pago via Western Union ou Money Gram para um indivíduo chamado Alhadji Balde, que supostamente vivia em Gana.
Após conseguir alguns poucos recursos financeiros com a família, SC concordou em trabalhar como intérprete para os sequestradores, a fim de evitar novos espancamentos. Em seu depoimento à equipe da OIM, o senegalês descreveu condições de higiene terríveis e lembrou que alimentos eram oferecidos apenas uma vez ao dia. O relato indica que reféns sem dinheiro para oferecer aos sequestradores eram mortos ou deixados sem comida até falecer.
Segundo SC, quando alguém morria ou era libertado, novos migrantes eram comprados no mercado. Mulheres também eram vendidas e compradas por indivíduos — também líbios, segundo SC — que as transformavam em escravas sexuais.
A OIM esclarece que recolhe informações de migrantes que voltam da Líbia e passam pelos centros de trânsito da agência da ONU em Niamey e Agadez. SC estava voltando para casa nesta semana após meses em cativeiro.
“Durante os últimos dias, discuti essas histórias com outras pessoas que (também) me contaram casos horríveis. Todos confirmaram os riscos de ser vendidos como escravos em praças ou oficinas em Sabha, ou por seus motoristas ou por moradores locais que recrutam os migrantes para trabalhos diários na cidade, frequentemente na área de construção, e, mais tarde, em vez de pagá-los, vendem suas vítimas a novos compradores”, afirmou um oficial do organismo internacional no Níger.
“Alguns migrantes — a maioria dos quais são nigerianos, ganeses ou gambianos — são forçados a trabalhar para os sequestradores ou comerciantes de escravos nos locais de cativeiro ou no próprio mercado”, acrescentou.

Em Trípoli, refém é solto ferido e pesando apenas 35kg

Adam — nome fictício — foi outro migrante entrevistado pelos oficiais da OIM, desta vez na Líbia. Oriundo da Gâmbia, ele contou ter sido sequestrado junto com outros 25 ganeses compatriotas durante uma viagem de Sabha a Trípoli. Homens armados os levaram a uma prisão onde cerca de 200 homens e também mulheres estavam sendo mantidos sob cárcere.
Segundo o sobrevivente, reféns eram espancados todos os dias e eram também forçados a entrar em contato com os parentes para solicitar o pagamento do resgate. O pai de Adam levou nove meses para juntar dinheiro suficiente e conseguir libertar o filho — foi necessário vender a casa da família para obter o montante necessário.
Adam foi solto em Trípoli, pesando apenas 35 quilos e com sérios ferimentos e problemas de saúde. Após ser acolhido por uma família e receber assistência de um médico da OIM, ele conseguiu voltar para a Gâmbia no dia 4 de abril. O escritório da agência da ONU na Líbia continuará financiando seu tratamento de saúde, além oferecer ao sobrevivente uma assistência em dinheiro para sua reintegração ao país de origem.
“A situação é horrenda. Quanto mais a OIM se envolve (com a situação) dentro da Líbia, descobrimos mais que (o país) é uma vale de lágrimas para muitos migrantes”, alertou o diretor de Operações e Emergências do organismo internacional, Mohammed Abdiker.
Outro caso informado à OIM neste mês envolve uma jovem mantida refém em um lugar descrito como um armazém próximo ao porto de Misrata. A vítima teria sido capturada por sequestradores somalis. A suspeita é de que a mulher ficou sob cárcere por pelo menos três meses, embora as datas precisas sejam desconhecidas. Seu marido e filho moram no Reino Unido desde 2012 e receberam pedidos de resgate.
Relatos indicam que ela é submetida a estupros e agressões físicas. O marido já pagou 7,5 mil dólares aos bandidos, que estão cobrando outros 7,5 mil dólares.
“O que sabemos é que migrantes que caem nas mãos de traficantes enfrentam má nutrição sistemática, abuso sexual e (correm risco) até mesmo (de) homicídio. No ano passado, soubemos de 14 migrantes que morreram apenas em um mês em uma dessas localidades, por doenças e fome. Temos ouvido (denúncias) sobre valas comuns no deserto”, acrescentou Abdiker.
O diretor lembrou que, apenas em 2017, a Guarda Costeira da Líbia e outras autoridades já encontraram 171 corpos de migrantes mortos no Mediterrâneo.

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