Filme de estreia de cineasta peruana explora as pressões, cansaços e conflitos das relações entre mães e filhas
Quando se tornou mãe, Joanna Lombardi se surpreendeu com uma realidade distinta daquela narrada a vida toda pelos comerciais de tevê. A maternidade não lhe parecia fácil ou bonita como sugeriam as imagens de “papais, mamães e bebês sorrindo para a câmera”. “A realidade para mim, e para muita gente, era outra. Por isso me parecia importante mostrá-la.”
A matriarca da família em cena do filme Casadentro |
O retrato dessa outra realidade chega aos cinemas na quinta-feira 25. Em Casadentro, filme de estreia de Joanna Lombardi, as tensões da maternidades são pintadas com certo “exagero”, conforme admite a roteirista e diretora peruana. Mas a ideia era justamente essa. O filme conta a história de diferentes gerações de mulheres que se encontram em uma casa monótona do interior do Peru para celebrar o aniversário da avó.
Como camadas que se sucedem, a maternidade é observada por uma câmera que não se move. As ações, lentas, repetitivas e aparentemente corriqueiras, espremem-se numa sequência de quadros que reforçam um incômodo: o tempo como elemento estático.
Entre paredes e cortinas que não permitem saber se é dia ou noite, os seis personagens da trama – cinco deles mulheres – parecem cansados, desconfortáveis, com sono atrasado. Não demoramos a entender o porquê.
A neta, que acaba de se tornar mãe, é uma espécie de catalisadora das tensões. Ela não consegue dormir porque a filha recém-nascida acorda a noite toda. Ela se sente cobrada por não conseguir amamentar e é pressionada pela mãe a substituir o leite materno por uma “fórmula”. Para ela, é como admitir que falhou como mãe. O marido parece alheio a tudo, inclusive ao cansaço da jovem, mas não hesita em censurá-la quando come um pedaço de pão oferecido pela avó. “Vai engordar”, brinca ele.
“Nesta época em que vivemos, se não alimentamos exclusivamente nossos filhos com leite materno, somos consideradas más mães. Esta pressão é um inferno. ‘O que acontece se essa pobre mulher não tem leite suficiente para seu filho?’”, afirma Lombardi a CartaCapital.
Segundo a diretora, essa pressão, que tem no leite materno o símbolo do vínculo entre as personagens, é o pano de fundo de relações familiares que não funcionam nem se comunicam. “Não é tão raro, como parece, esta falta de comunicação entre mães e filhas, problemas não resolvidos, relações que não tiveram desfecho”, diz.
A repetição desses conflitos tem como cenário uma casa parada no tempo. “Por isso decidi que o filme ocorreria ali, e que os personagens ‘mais modernos’ é que se transportariam até o interior para sentir o passado e ter a sensação de que o tempo não passa. Era muito importante essa sensação de repetição da maternidade, de que os personagens se vissem refletidos em suas mães, essa sensação horrível de que não somos diferentes, que vamos passar pelas mesmas situações que nossas avós passaram. Que, na realidade, pouco mudou.”
No filme, a única relação escancarada de afeto é construída entre a matriarca e sua cachorra. “Um animal é, por definição, quase a prova do amor incondicional. Um amor que não se desgasta, que não cobra, que vai sempre te querer bem. É um contraponto entre a relação mãe e filha. É fácil, para a avó, se relacionar com a cachorra, e isso causa ciúmes na filha. Gosto muito da cena em que ela observa a mãe brincando com a cachorra. Não há nada ali que se possa fazer. Nem a mãe, nem a filha.”
CASADENTRO
Peru | 2013 | 87 min.
Dir.: Joanna Lombardi Pollarolo
Elenco: Elide Brero, Grapa Paola, Delf ina Paredes, Anneliese Fiedler, Sullana, Stephanie Orúe, Giovanni Ciccia.
Roteiro: Joanna Lombardi Pollarolo
Produção: Miguel Valladares Vives
Dir. de Fotografia: Guillermo Palacios
Edição: Brian Jacobs
Trailer:
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