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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Perna, a casta indiana que força mulheres a se prostituir

A prostituição entre as mulheres da casta indiana Perna geralmente é o próximo passo após o casamento e o nascimento do primeiro filho

4 dez, 2016

Quando Sita (nome fictício) volta para casa de manhã, seu marido ainda está dormindo. Ela volta de uma noite de trabalho, vendendo sexo nas ruas que cortam Najafgarh, um bairro pobre situado na periferia da capital indiana Nova Délhi. Antes de dormir, ela prepara as crianças para a escola, dando banho e servindo o café para elas, antes de finalmente ir descansar.

A profissão de Sita não é nenhum segredo. Ela é uma Perna, casta marginalizada da Índia onde a prostituição normalmente é o passo seguinte das mulheres após o casamento e o nascimento dos filhos.

Mãe de quatro filhos e também Perna, Leela (nome fictício) diz ter aprendido desde muito pequena que o grupo social ao qual pertencia estava ligado à chamada “prostituição intergeracional”. Os homens desta casta normalmente criam cabras ou simplesmente não trabalham. Às vezes, eles desempenham a função de cafetões de suas mulheres. “Eu não sei por quê. Pode-se dizer que é o modo tradicional. Esse trabalho é o nosso compromisso, nosso meio de sustento”, diz Leela.

Na verdade, trata-se mais de um remédio contra a necessidade econômica herdada do que um ritual. “A mulher Perna nasce na pobreza, em uma casta marginalizada e é uma fêmea. Logo, ela é três vezes oprimida. […] Assim que ela entra na puberdade, ela é casada, e após o primeiro filho, passa a ser prostituída pelo marido. E ela não pode resistir, essa é a única comunidade que conhece. Ela sente que não tem escolha. Ela é consumida durante oito ou dez anos e, depois, orientada a colocar a filha na prostituição”, diz, em entrevista à rede Al Jazeera, Ruchira Gupta, fundador da Ong indiana de proteção à mulher Apne Aap.

Segundo Gupta , as mulheres desta casta que tentam resistir à prostituição acabam sofrendo abusos físicos por parte dos sogros, que esperam que a mulher de seu filho contribua para a renda familiar. Foi o que aconteceu com a filha de Leela, que voltou para a casa da mãe após receber ameaças dos sogros. “Eles estavam ameaçando ela, ‘Vamos rasgar suas roupas. Vamos jogar você nua na rua’”, diz Leela.

A prostituição entre as mulheres Perna é apenas um fato de uma história inteira de desvantagem econômica e social da casta. Os Perna foram um dos grupos sociais taxados como hereditariamente criminosos pela Criminal Tribes Act, uma lei imposta no país em 1871, durante a dominação britânica. Além dos Perna, mais de 300 outras castas foram incluídas nesta gama. Elas eram compostas por vendedores itinerantes, artistas e profissionais ligados ao folclore indiano que, assim como os ciganos europeus, despertavam desconfiança nos britânicos por serem difíceis de serem submetidos às normas do governo.

A lei foi banida em 1947, após a independência da Índia. Porém, os efeitos dessa alienação da sociedade duram até hoje. Muitos Perna, por exemplo, não têm conhecimento de seus direitos, por isso, costumam trilhar o mesmo caminho dos pais. Eles também costumam ser ignorados, barrados ou até mesmo expulsos de alguns estabelecimentos.

Ongs como a Apne Aap trabalham para mudar esse cenário e já enxergam alguma mudança. Leela e sua filha são bons exemplos de que as mulheres estão começando a questionar seu destino e a proteger suas filhas. “Minha filha diz que quando arrumar um emprego nós vamos embora”. Para a família delas, é o primeiro vislumbre de um caminho alternativo.

Fontes:
Al Jazeera-The Indian caste where wives are forced into sex work

Opinião e Notícia

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