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sábado, 16 de fevereiro de 2019

3 pontos para avançarmos as discussões sobre masculinidade tóxica

Quais os limites do termo masculinidade tóxica e por que ainda temos poucos exemplos de masculinidades saudáveis na mídia?
Luciano Ribeiro
Papo de Homem
publicado em 14 de Fevereiro de 2019
Em 2018 o dicionário Oxford elegeu "tóxico" como a palavra do ano.
Não é muito difícil entender o porquê. Ao longo de 2018 pudemos observar a palavra em diversos contextos, sendo usada para designar relacionamentos abusivos, cultura, produtos químicos, poluição, mas principalmente para definir determinadas características da masculinidade.

Pelo Google Trends podemos ver o crescimento do termo ao longo do último ano em comparação com os anos anteriores.

Buscas sobre o termo "masculinidade tóxica" de azul, e "toxic masculinity" de vermelho, de dezembro de 2016 a janeiro de 2019. Notem que estamos no maior pico de interesse.
Agora vejam as buscas dos últimos 30 dias. "Masculinidade" e "masculinidade tóxica" sendo buscados em proporção similar, quase como se masculinidade fosse *sinônimo* de masculinidade tóxica. E aí mora o perigo...

Traços como agressividade, fechamento, excesso de competitividade, tendências à violência e ao uso desmedido da força estariam caracterizados dentro do termo "masculinidade tóxica". Um texto nosso de 2015 trata em mais detalhes do significado desse termo.
É essencial conversarmos sobre os traços nocivos da masculinidade. Isso nos ajuda a progredir e descobrir quais pontos podemos melhorar. O debate é um importante passo para que, juntos, possamos modificar a cultura.
Porém, o debate sozinho não dá conta. 
Se seguimos apenas criticando o inverno não criamos as estruturas necessárias para que nos protejamos do frio e, tampouco, criamos o verão.
Temos de avançar a discussão para além da vilanização e até mesmo da patologização(!) do masculino, sob o risco de jamais conseguirmos fazer a mensagem chegar a quem realmente precisa. 
O Guilherme Valadares, editor chefe do Papo de Homem, decidiu tocar no assunto no nosso primeiro vídeo rápido feito para o IGTV. Aqui, ele pincela sobre alguns limites que viemos sentindo a respeito de como a expressão vem sendo usada pela mídia e como isso muitas vezes mais afasta do que aproxima os homens de masculinidades mais saudáveis e benéficas para todos.
O vídeo é bem curtinho, reserve 5 minutinhos e dê o play, mas se por qualquer motivo você não puder, resumo também nos 3 pontos abaixo o que ele diz.

1. Oferecer definições claras sobre o que é o que não é o termo

Aqui no PdH já publicamos alguns artigos sobre o tema e a definição que utilizamos é: 
Masculinidade tóxica: comportamentos dos homens baseados em medo, insegurança, violência, controle e dominação.
Na prática, isso seria o homem que quer controlar como a parceira se veste, com quem ela anda, como fala, etc. É quem bate na cabeça de outro torcedor porque seu time perdeu ou por qualquer provocação. É quem acha que precisa competir sobre quem bebe mais. É quem acha que tem sempre que seduzir e pegar todas. Em resumo: é uma tentativa quase que obsessiva de sempre se provar macho. 
Claro que essa é apenas uma definição ultra-resumida e grosseira para caber neste artigo e em um vídeo de 5 minutos. Há toneladas de materiais a respeito por aí e vale o aprofundamento.
Além disso, muitas vezes não se explica o que o termo não é, para evitar uma confusão bastante comum, a de que a própria masculinidade em si é tóxica. Ser homem não é tóxico. Ser masculino não é tóxico. 
Há comportamentos masculinos tóxicos? Sim. Mas isso não é tudo o que os homens são. Há milhões e milhões de homens que não chegam nem perto de ser os monstros que alguns parecem querer retratar.

2. Oferecer alternativas às faltas, dar exemplos de masculinidades positivas

Somos constantemente convidados a falar sobre masculinidades tóxicas. Quase nunca nos convidam para falar sobre masculinidades saudáveis ou quais exemplos positivos de masculinidades há por aí. 



Nas nossas andanças pelo Brasil, conhecemos iniciativas sobre masculinidade que focam na transformação dos homens. Conhecemos muitos homens que querem fazer parte dessa mudança e desejam do fundo do coração serem pessoas cada dia melhores. Ainda assim, são poucos os projetos e iniciativas privadas e públicas perto do tamanho da necessidade e da quantidade de homens e mulheres que se beneficiariam disso.
Alguns desses projetos colocamos no nosso artigo "129 projetos, iniciativas e pessoas que trabalham com a transformação dos homens, no Brasil e no mundo". É para ver e se inspirar.

3. Criar pontes para o diálogo com quem pensa diferente

Como já falamos, apontar as falhas é importante para saber o que podemos melhorar. É do interesse de todos que tenhamos homens mais responsáveis e preparados para lidar com os problemas do mundo sem oprimir as pessoas ao redor.
Porém, a forma como a conversa sobre masculinidade tóxica é conduzida, muitas vezes, acaba apenas afastando quem mais se beneficiaria dela: os tais "homens tóxicos". 
Se essa masculinidade também prejudica esses homens, é importante que eles sejam incluídos e acolhidos, que possam dar vazão às suas dúvidas e possam ser ouvidos em suas questões, por mais "absurdas" e "óbvias" que elas muitas vezes pareçam para quem já está familiarizado com essas ideias.
Acreditamos que muitas pessoas se surpreenderiam com o quanto de abertura encontramos entre homens tidos como os tais vilões da masculinidade tóxica quando apenas damos a chance deles exporem seus medos e dúvidas.
A pergunta que já deveríamos estar nos fazendo a essa altura é: como poderíamos criar outras linguagens para que mais e mais pessoas possam fazer parte da conversa?
* * *
Acreditamos que é possível trazer os homens para essa conversa. É exatamente isso que viemos fazendo nos últimos 12 anos.
Se você quiser se aprofundar no tema, recomendamos o nosso documentário "Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero" e também os seguintes artigos:

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