Investigadores da ONU revelaram neste mês (15) que 175 mulheres e meninas no Sudão do Sul, entre elas uma jovem de oito anos, sofreram alguma forma de violência sexual e física entre setembro e dezembro de 2018. Dessas vítimas, 134 foram violentadas, incluindo em estupros coletivos. Segundo as Nações Unidas, casos indicam nova onda de violência sexual na província sul-sudanesa de Unity.
Investigadores da ONU revelaram neste mês (15) que 175 mulheres e meninas no Sudão do Sul, entre elas uma jovem de oito anos, sofreram alguma forma de violência sexual e física entre setembro e dezembro de 2018. Dessas vítimas, 134 foram violentadas, incluindo em estupros coletivos. Segundo as Nações Unidas, casos indicam nova onda de violência sexual na província sul-sudanesa de Unity.
Em relatório divulgado na semana passada, a ONU alerta que esses números são provavelmente inferiores à quantidade total de crimes contra as mulheres no país. Das quase 180 vítimas que tiveram seus casos documentados, 64 eram menores de idade. Entre as meninas e adolescentes, 50 foram violentadas.
Os relatos das sobreviventes descrevem níveis alarmantes de brutalidade — 87% das vítimas de estupro foram atacadas por mais de um agressor e violentadas muitas vezes por várias horas. O levantamento das Nações Unidas aponta que, em 17 de novembro, por exemplo, duas mulheres caíram numa emboscada e foram levadas por dois homens. Os criminosos as amarraram numa árvore por oito horas e as estupraram repetidas vezes.
Em pronunciamento sobre as investigações, o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU (ACNUDH), Rupert Colville, explicou que as sul-sudanesas são estupradas frequentemente quando vão buscar lenha, alimentos ou água.
O representante do organismo internacional lembrou o depoimento de uma das vítimas, que disse que “se formos pela estrada principal, somos estupradas, se formos pela mata, somos estupradas”. “Eu fui estuprada em meio a outras (pessoas) no mesmo lugar, repetidas vezes, em três ocasiões diferentes”, acrescentou a vítima.
De acordo com os investigadores, os casos persistentes de violência sexual são “endêmicos” no estado de Unity, no norte do território sul-sudanês. Isso cria a sensação entre as comunidades de que é normal ser vítima de violência sexual. Em nível nacional, a apuração da ONU indica uma queda significativa nos ataques a mulheres desde que um acordo de paz foi assinado entre grupos armados e o governo, em 12 de setembro.
O aumento localizado da violência sexual foi atribuído a fatores como o colapso do Estado de Direito, a destruição de meios de subsistência, deslocamento forçado e fome — problemas associados aos anos de guerra civil.
Mas uma das principais causas por trás do fenômeno, afirma a ONU, é o grande número de combatentes armados na região. Esses soldados ainda não foram integrados ao Exército Nacional, conforme prevê o acordo de paz. A maioria das agressões sexuais e físicas teriam sido cometidas por milícias jovens e integrantes do Exército de Libertação do Povo do Sudão do Sul de Oposição e das Forças de Defesa do Povo do Sudão do Sul.
“Em particular nessa área, existem essencialmente três grupos principais que estão envolvidos nessas estupros, incluindo a força do Governo Nacional”, disse Colville.
“Muitos desses homens jovens, que estão pesadamente armados, estão simplesmente à espreita. Essa é uma combinação muito tóxica. E há também milícias de jovens de quem os grupos oficiais são aliados, mas você não sabe quem eles são realmente.”
O porta-voz ressaltou que o problema crônico da violência sexual no Sudão do Sul tem suas raízes também nos baixos índices de responsabilização dos culpados.
“A impunidade virtualmente total ao longo dos anos criou, como resultado, um desestímulo muito pequeno a esses homens para que eles não façam o que estão fazendo. O Estado de Direito simplesmente não foi aplicado.”
Entre as medidas concretas tomadas pela ONU e pelo governo sul-sudanês para reverter esse cenário, estão ações de retirada da vegetação das beiras de estrada, para impedir que criminosos se escondam de vítimas potenciais. Essa iniciativa foi realizada pela Missão de Paz da ONU no país, a UNMISS, instituição responsável, junto com o Escritório de Direitos Humanos, pelo relatório.
Autoridades também criaram um sistema móvel de justiça que opera de cidade em cidade. O projeto conseguiu levar alguns agressores a julgamento.
“Existem milhares e milhares de criminosos, tem oficiais envolvidos, tem comandantes que, em vez de serem investigados e punidos, foram promovidos e estão encarregados de grupos que operam nessa área e ainda estão estuprando mulheres”, completou Colville.
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