Campinas, 26 de fevereiro de
2019
O SOS
Ação Mulher e Família é uma organização da sociedade civil que desde o ano de
1980 atua no enfrentamento da violência contra a mulher e sua família em
Campinas e região metropolitana (SP), tendo sido pioneiro neste serviço.
O
trabalho iniciou-se timidamente, como um ‘braço’ do movimento feminista e sua
relevância para a comunidade desde logo se fez sentir, o que está expresso
neste depoimento de uma das fundadoras na época: “A impressão era de que a violência estivera represada por muitos
séculos e, de repente, uma pequena porta aberta permitia o extravasamento
desenfreado de um ‘lençol freático’ abundante”.
Em seus 38 anos de existência, a entidade percorreu um longo caminho e amadureceu, consolidando seu trabalho através de uma equipe interdisciplinar composta por profissionais das áreas de Psicologia, Serviço Social e Direito, trabalhando em prol da saúde mental das usuárias e das boas relações entre os sexos. Refletindo sobre o resultado desses atendimentos, produzindo trabalhos científicos e instrumentos de medida e avaliação, tais como o Índice de Ressignificação dos Modelos Disfuncionais das Relações de Gênero, a entidade tem papel de destaque que vai muito além do que oferecer à comunidade a prestação de um serviço na área da Assistência Social.
Em seus 38 anos de existência, a entidade percorreu um longo caminho e amadureceu, consolidando seu trabalho através de uma equipe interdisciplinar composta por profissionais das áreas de Psicologia, Serviço Social e Direito, trabalhando em prol da saúde mental das usuárias e das boas relações entre os sexos. Refletindo sobre o resultado desses atendimentos, produzindo trabalhos científicos e instrumentos de medida e avaliação, tais como o Índice de Ressignificação dos Modelos Disfuncionais das Relações de Gênero, a entidade tem papel de destaque que vai muito além do que oferecer à comunidade a prestação de um serviço na área da Assistência Social.
Durante os anos 90, o SOS Ação Mulher e Família foi pioneiro
na luta contra a
violência sexual e desempenhou importante papel na implantação dos serviços de
atendimento às vítimas de crimes desta natureza no CAISM (Centro de Assistência
Integral à Saúde da Mulher), da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. A
entidade também teve participação decisiva na criação e implementação da
Delegacia de Defesa da Mulher em Campinas, cobrando pela efetivação deste
projeto ao longo de vários anos, assim como na criação do próprio abrigo para a
mulher e seus filhos em iminente risco de morte, junto à Prefeitura Municipal
de Campinas. A instituição começou a desenvolver programas na área de saúde e
sexualidade no ano de 1990, os quais foram intensificados com o aumento da
disseminação do vírus da AIDS entre mulheres, tendo no marido ou companheiro o
vetor principal da doença. Entre esses programas de ação preventiva, teve especial
destaque o curso "Saber & Sabor”.
O
SOSAMF desenvolveu metodologias e ferramentas de intervenção, promovendo o
atendimento de mulheres e suas famílias que vivem situações de violência e
violações de direitos (espancamento, ameaças de morte, crimes de natureza
sexual, violência psicológica, estupros, discriminações, educação
diferenciada), inspirando-se para este atendimento nos princípios dos Direitos
Humanos e da Cidadania. Paralelamente realiza programas preventivos, além de
estudos e pesquisas sobre a condição feminina, relações de gênero, papéis
sexuais, influindo na criação de políticas públicas voltadas para a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária. A entidade também contribui na
formação e sensibilização de estudantes e profissionais na questão de gênero e
violência.
O
SOSAMF inspirou ainda o trabalho de outras localidades, prefeituras e entidades
congêneres, que vinham em busca de novas metodologias para implantar em seus
serviços de saúde e assistência à mulher vítima de violência. Podemos destacar
entre outros, os municípios de São José dos Campos e Uberlândia que se
utilizaram do nosso modelo de intervenção para constituir seus próprios SOSs.
Como
centro informal de estudos e pesquisas, o SOSAMF possui um rico campo para
coleta de dados e tradicionalmente recebe muitos estagiários e pesquisadores,
tendo funcionado como um campo de estágio e de coleta de dados, tendo sido
produzidas teses, trabalhos de conclusão de curso e artigos para revistas
científicas. A entidade também promove seminários, cursos de extensão e
aprimoramento, concursos de fotografia e audiovisual que possuem repercussão
internacional (até o momento foram realizados 08 concursos de fotografia e 02
de audiovisual), entre tantas iniciativas para avançar no domínio desta questão
que é um problema de saúde pública.
Apenas
alguns números que refletem a importância de nosso trabalho:
- no período de 1980 a 2018, 22.362 pessoas
foram atendidas;
- no período de 2012 a 2018, 60 estagiários
por aqui passaram;
- no período de 2001 a 2018, 208
profissionais da área de Psicologia, Serviço Social e Direito vieram realizar
aqui trabalhos voluntários.
- os índices de adesão ao
serviço são da ordem de 80%.
Atualmente,
alguns de nossos parceiros são: Delegacia de Defesa da Mulher, Centro de
Referência da Mulher, Conselho Tutelar, Guarda Municipal, Defensoria Pública,
Centros de Saúde, Núcleos Comunitários de Crianças e Adolescentes, UNICAMP,
Centro de Educação Integrado, profissionais liberais especializados.
Com
uma rica tradição e valioso legado, o SOSAMF atualmente possui um programa de cofinanciamento
que contribui com o aporte de recursos, firmado com a Secretaria Municipal de
Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos da Prefeitura
Municipal de Campinas, através do Serviço Especializado de Proteção Social à
Família - SESF - cuja verba possui uma destinação específica: a equipe
contratada que atende famílias referenciadas pelo Centro de Referência
Especializado de Assistência Social.
O
setor de Atendimento Essencial ou Demanda Espontânea que atende ao
contingente de pessoas que efetivamente batem à nossa porta solicitando o
serviço é o que se refere a todo o trabalho anteriormente relatado. Para sua
realização, no momento contamos apenas com a participação dos profissionais
voluntários e com reduzida verba da Federação das Entidades Assistenciais de
Campinas - FEAC - que não é suficiente para prover o funcionamento adequado da
infraestrutura da instituição. A mudança na política do Programa de Notas Fiscais
Paulista também não nos favoreceu, pois contribuiu para fazer minguar uma fonte
de recursos que era significativa neste setor. Contamos eventualmente com destinações
pontuais da arrecadação de verbas oriundas das Penas Pecuniárias junto à 1a
Vara de Execuções Criminais, eventos, bazares, cursos e minicursos.
Contudo,
a porta do Atendimento Essencial ou Demanda Espontânea, que representa o
coração da instituição, está prestes a ser fechada, em um momento em que a
violência contra a mulher em Campinas e região metropolitana só fez
recrudescer.
Segundo
dados do G1, a região de Campinas registrou 20 feminicídios em 2018. Em 2017
foram 13 casos, sendo 9 ocorridos na chacina do réveillon. A 2ª. Delegacia da
Mulher de Campinas responde por 260 bairros, que concentram 70% dos casos de
violência da cidade. São 50 boletins de ocorrência por dia. Em novembro de 2018 a DDM registrou 64
medidas protetivas, o dobro do normal.
O SISNOV, sistema que integra áreas
de assistência social, saúde e educação do município, aponta que o número de
notificações de violência contra a mulher em Campinas cresceu 67% entre 2013 e
2017 (10/12/18). Foram registrados 779 casos em 2017, contra 466 em 2013. O
balanço ainda apontou que pelo menos 32 mulheres morreram vítimas de feminicídio
no período.
De acordo com o boletim, a violência
contra a mulher corresponde a 38,2% do total de 2.035 casos notificados no ano
passado. Ao agregar os registros de violência contra crianças, adolescentes e
idosos, o percentual de vítimas do sexo feminino chega a 71,9%.
Ainda segundo o relatório, 50,8% dos
779 casos (396 notificações) de violência contra mulheres envolvem agressões
físicas; 118 referem-se a violência sexual e outras 183 notificações a
tentativas de suicídio.
A magnitude do problema acima
apresentado exige não só que o trabalho de Atendimento Essencial ou Demanda
Espontânea do SOSAMF continue sendo realizado, como também que novas frentes se
abram. Ressaltando que, mudanças de atitude dentro do núcleo familiar
inevitavelmente geram mudanças no comportamento social dos indivíduos,
contribuindo efetivamente para a construção de uma sociedade mais livre,
consciente e justa.
Finalizando,
ressaltamos que investir na cultura da paz nas relações é trabalhar em prol de
cinco Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: 3) Saúde e bem-estar; 5)
Igualdade de gênero; 10) Redução das desigualdades; 11) Cidades e comunidades
sustentáveis; 16) Paz, justiça e instituições eficazes.
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