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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Ruth Manus reflete sobre sororidade: Brasil triste, mulheres fortes

“Vão chamar nossas causas e bandeiras de mimimi” (Foto: Iago Francisco)

Em sua estreia como colunista da Glamour (bem-vinda!), a escritora fala sobre a força da união feminina que surgiu em meio às ameaças de retrocesso. Vamos juntas!


13/02/2019 - por RUTH MANUS
Glamour
Dizem por aí que “mar calmo nunca fez bom marinheiro”. Concordo, mas convenhamos que também não precisava ser este maremoto que está acontecendo no Brasil. De fato, o mar está revolto e, se você for mulher – e, ainda mais, se for mulher negra, mulher lésbica, bi ou pertencente a alguma outra minoria –, é bom vestir o colete salva-vidas, porque vamos precisar de coragem para navegar pelos próximos anos. Mas “mulher” e “coragem” são duas palavras irmãs. Andam sempre juntas, de mãos dadas. A gente aprende desde cedo a encarar mil e uma adversidades, sejam elas as cólicas, as decepções, os medos, os olhares invasivos, os gritos sem sentido e qualquer outro tipo de onda gigante que se aproxime. E, infelizmente, nestes próximos anos toda essa nossa coragem vai ser colocada à prova.

Não podemos prever o futuro, mas já sabemos mais ou menos o que está por vir. Vão relativizar nossos direitos. Vão tentar destruir as nossas conquistas. Vão chamar as nossas causas e bandeiras de mimimi. Vão tentar nos reduzir a meras coadjuvantes que já fomos em outros tempos. Vão brincar com a nossa segurança e vão rir da nossa angústia.
Precisamos estar preparadas, porque o que vem acontecendo é só o começo. Não se trata de pessimismo, mas de realismo.
O Brasil revelou outro rosto. Um rosto que não tem nada de samba, de purpurina, de alegria e de sorriso. Um rosto estranho e sombrio, que não se constrange minimamente por ser machista, racista, sexista, homofóbico, misógino, xenófobo. Um rosto desconhecido, até então velado, com o qual, agora, temos que conviver.
Todavia, como em tudo o que acontece na vida, há um lado bom. Na verdade, mais do que bom: há um lado verdadeiramente lindo. De toda dor, nasce uma força. E de todo período difícil, nascem uniões. E o que estamos vendo acontecer no Brasil agora é um movimento lindo de mulheres, cada vez mais fortes e unidas, lutando umas pelas outras.
A palavra sororidade vem ganhando um rosto no País. Mulheres que caminham juntas, que pintam cartazes, que olham umas pelas outras, que se manifestam dizendo “mexeu com uma, mexeu com todas”. Mulheres que estão com medo não apenas por elas mesmas, ou por suas mães, filhas e irmãs, mas mulheres que já entenderam que a palavra “mulher”, apesar de comportar uma pluralidade bela, é uma só. E que a lesão a uma mulher é uma lesão a todas as mulheres.
Estamos longe de navegar por águas calmas, com a serenidade necessária para contemplar o céu. Estamos começando uma travessia difícil, que vai nos testar, vai doer, vai ser dura. Mas estamos juntas. Juntas como talvez nunca tenhamos estado. Estamos juntas de rosa, de azul, roxo, branco, preto, verde ou laranja. Aceitamos umas às outras e nos fortalecemos na diferença.
Há certas dores do nosso passado que, hoje, somos capazes de entender o porquê de terem acontecido. Espero que daqui alguns anos possamos fazer o mesmo. Olhar para as mulheres que estamos nos tornando e reconhecer nossa evolução no meio das provações. E que, agora que estamos juntas, ninguém mais pode nos fazer parar.

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