A atriz Melissa Benoist (‘Supergirl’) detalha em um vídeo os abusos sofridos de seu ex-marido, o ator Blake Jenner, que participou da série que completa 10 anos de muita polêmica
Melissa Benoist, em 'Glee', em seu vídeo no Instagram e em 'Supergirl'.
ENEKO RUIZ JIMÉNEZ
Madri - 25 DEC 2019
Em março de 2016, a atriz Melissa Benoist foi ao Tonight Show de Jimmy Fallon com as respostas preparadas. Era visível que sua pupila esquerda estava inchada. O apresentador ia perguntar sobre os olhos. Ela estava preparada para dar o seu melhor sorriso para esconder a verdade: “Meu cachorro não parava e me fez tropeçar, caí da escada e me choquei contra uma maçaneta, e bati o olho”. Mas no incidente real não havia nem cachorro nem escada nem acidente. Eram feridas de um relacionamento abusivo que três anos depois ela ousou revelar para enviar uma mensagem: “Quero dar poder a outras mulheres para que busquem ajuda e se libertem”.
“A vida não é o que parece", escreveu a Supergirl televisiva de 31 anos na introdução de um vídeo detalhado de 14 minutos no Instagram. Aquele olho socado foi o que a fez não olhar para trás. Seu marido lhe havia atirado um celular, quebrando seu nariz e machucando o rosto. Ela decidiu ir embora: “Sou uma sobrevivente desse tipo de violência no casal. Nunca pensei que fosse contar isso e menos ainda transmitir assim, no vazio”. E também apontava o protagonista: “No começo, ele não era violento. Era encantador, divertido, espirituoso, manipulador, enviesado ...". A atriz não dava nomes, embora não fosse difícil encaixar na descrição seu ex-marido, o ator Blake Jenner, que conhecera na série Glee e de quem se divorciou no final daquele 2016, e que se encaixava no perfil que ela descrevia.
Pouco a pouco, aquele homem passou a ter ciúmes de seus colegas de tela, pressionou-a para que não trabalhasse em outros projetos, a espionou e começou a bater nela: “Me pedia para trocar de roupa para que não me olhassem e se irritava porque eu conversava com outros, mas no início não encarei como um abuso. A primeira vez que ele me agrediu foi depois de cinco meses, quando jogou um smoothie na minha cara. Fiquei mais preocupada que o sofá ficasse manchado do que comigo (...). Depois de cada espancamento, ele me colocava na banheira para pedir perdão e começavam as lágrimas de autoflagelação típicas de um abusador".
Melissa Benoist telling the real story behind the cover they made up to hide the domestic abuse she was being victim of by Blake Jenner is heartbreaking. It’s even sadder watching her tell Jimmy Fallon the “klutzy” story knowing what she really was going through. pic.twitter.com/gZ4RrXqD0o— 𝓪𝓁𝒾𝒶𝓈 (@itsjustanx) November 28, 2019
A overdose de Cory Monteith
Benoist entrou na série Glee em 2012 aos 23 anos, na quarta temporada. Com ela chegava também Jenner, que aos 20 anos havia vencido um reality para a escolha de futuros cantores para aquele musical do ensino médio. Eram o novo casal protagonista, substitutos de outro tortuoso romance, diante e detrás das câmeras, formado por Lea Michele e Cory Monteith, que acabavam de se formar na escola. O relacionamento deles também não levou muito tempo para se chocar com a realidade.
Apenas um ano depois de o novo casal se incorporar à série, Monteith morreu de uma overdose de heroína e álcool, que foi investigada como suicídio. Tinha 31 anos e alguns meses antes havia ingressado em uma clínica de reabilitação depois de uma longa história de dependência química. Lea Michele logo voltou a trabalhar para compartilhar a dor com o elenco durante um episódio de tributo no qual o personagem do ator, Finn, também morria. Quando a série terminou, em 2015, Michele entrou em uma grande depressão. Sua carreira musical nunca decolou como ela esperava.
Mark Saling, Naya Rivera e Cory Monteith
Foi o primeiro drama de um jovem elenco que parecia amaldiçoado. O melhor amigo de Monteith na ficção, Mark Saling (Puck), se matou em janeiro de 2018 enquanto aguardava a sentença de prisão por posse de 50.000 imagens e 60 vídeos de pornografia infantil, um crime pelo qual ele se declarou culpado. Além disso, três anos antes havia chegado a um acordo judicial pelo equivalente a 14 milhões de reais com sua ex-namorada, depois que ela o denunciou, acusando-o de estuprá-la por não querer usar preservativo. Não foi o único caso de violência: Naya Rivera (a Santana, animadora de torcida) também foi presa em 2017 por agredir seu ex-parceiro, o ator Ryan Dorsey, em uma disputa pela custódia de seu filho.
Embora não tenha chegado aos tribunais, Rivera contou em um livro de memórias que um dos grandes conflitos durante as filmagens de Glee foi seu relacionamento irreconciliável com Lea Michele, que "não queria dividir os holofotes". O criador do musical, Ryan Murphy, até brincou que essa briga foi sua inspiração para criar a série Feud, que tratava da rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford.
Michele, Becca Tobin, Heather Morris e a própria Melissa Benoist também foram vítimas do hackeamento público de fotos íntimas em Hollywood. Nas imagens, Benoist apareceu fazendo amor com seu marido, um fato que poderia tê-la marginalizado em sua carreira, não fosse ter se encontrado em Supergirl.
Felizmente, nem todo o legado de Glee é manchado por escândalos. A série criada por Murphy e Brad Falchuck (que ali conheceu sua agora esposa Gwyneth Paltrow) também fincou a bem-sucedida carreira de Darren Criss, imponente como o assassino de Versace em American Crime Story e se preparando para estrelar a nova do roteirista na Netflix; e a de Jonathan Groff, protagonista de Mindhunter, o Kristoff em Frozen e estrela da Broadway, graças a Hamilton e, atualmente, Little Shop of Horrors. Também Grant Gustin, outro dos jovens cantores, acompanha Benoist como super-herói da casa DC em The Flash há sete anos.
A protagonista de Supergirl talvez seja parte do legado manchado de Glee, mas abraça as oportunidades que vieram por ser a prima de Superman sem medo do pé-frio da franquia. Em suas filmagens, conheceu, por exemplo, seu atual marido, Chris Wood. Hoje, Benoist levanta a voz graças a essa popularidade, e o faz para ajudar outras mulheres na mesma situação e, de passagem, tornar-se protetora, na ficção e na realidade, do feminismo. Seu cartaz durante a marcha das mulheres de 2017 deixava claro: “Ei, Donald, não tente agarrar minha boceta; é feita de aço”.
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