Em entrevista exclusiva, a ministra do STF diz que o país tem tirado seu sono, defende a liberdade de imprensa e discorre sobre as raízes do preconceito e da violência contra a mulher
A mineira Cármen Lúcia Antunes Rocha foi a primeira mulher a entrar de calças compridas no Supremo Tribunal Federal. O ano era 2007 e ela decidiu quebrar o protocolo a pedido de uma jornalista, impedida de trabalhar por usar a peça. Foi também a segunda mulher a ocupar uma cadeira na mais alta corte brasileira - a primeira foi Ellen Grace, que entrara ali seis anos antes. Cármen Lúcia foi ainda a primeira mulher a presidir o Supremo, entre 2016 e 2018, onde, diante dos olhos de todo o país, repreendeu o ministro Luiz Fux, quando este interrompeu seguidas vezes a colega Rosa Weber no discurso de um voto. “Foi feita uma pesquisa, em todos os tribunais constitucionais onde há mulheres, o número de vezes em que elas são apartadas é 18 vezes maior do que entre os ministros”, explicou Cármen Lúcia ao magistrado. “Aqui, eu e a ministra Rosa, não nos deixam sequer falar e por isso não somos interrompidas. Mas agora é a vez da ministra Rosa, por direito constitucional, votar. Tenha a palavra, ministra”, encerrou a colocação que entrou para a história do Supremo e virou um dos memes mais compartilhados no Brasil naquele maio de 2017.